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Opinião Econômica

Opinião Econômica

- Publicada em 18 de Maio de 2023 às 20:04

Robert Lucas, o pai da macroeconomia moderna

Bernardo Guimarães
Bernardo Guimarães
Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
Robert Lucas, o macroeconomista de maior influência na pesquisa acadêmica nas últimas décadas, morreu nesta segunda-feira. Suas principais contribuições datam dos anos 1970 e 1980. Seus trabalhos mudaram a maneira como fazemos pesquisa em macroeconomia. Ele é personagem de destaque mesmo no grupo de ganhadores do Prêmio Nobel.
Nos anos 1970, Lucas liderou uma agenda de pesquisa que mudou a maneira como incorporamos as decisões dos agentes e suas expectativas nos modelos macroeconômicos.
Lucas argumentava que modelos deveriam considerar que pessoas fazem escolhas com base no que esperam acontecer, racionalmente, dada a informação que têm. A ideia é simples de entender, um pouco mais difícil de modelar, mas o interessante é que ela alterava as conclusões dos modelos macroeconômicos da época.
No exemplo mais icônico, a curva de Phillips postula uma relação negativa entre inflação e desemprego no curto prazo. A ideia é que, em geral, quando a economia está mais aquecida, há poucos desempregados, muita demanda e os preços aumentam mais. Até os anos 1960, nos países desenvolvidos, essa relação empírica parecia funcionar muito bem.
Uma implicação dos modelos de Lucas é que a parte esperada da inflação não afetaria a produção e o emprego. Apenas o componente inesperado da inflação poderia ter algum efeito.
De fato, nos anos 1970, a velha relação entre inflação e desemprego postulada pela curva de Phillips não se observava mais. Porém, quando considerávamos apenas o componente inesperado da inflação, a relação estava lá.
Assim, essa maneira de enxergar agentes racionais formando expectativas foi tomando conta na macroeconomia. Hoje em dia, os modelos macroeconômicos se constroem sobre esses fundamentos. Consideramos que as escolhas das pessoas se alteram quando mudam as políticas públicas. Isso afeta muito os resultados. Mas, depois da revolução, veio aos poucos uma síntese. Muitos modelos modernos incorporam aspectos daqueles usados nos anos 1970.
Esse é um exemplo de sua influência na profissão. Lucas também teve contribuições fundamentais, que geraram grandes agendas de pesquisa nas áreas de análise de políticas públicas, precificação de ativos financeiros, ciclos econômicos e crescimento econômico.
A influência de Lucas na academia foi enorme, mas no fim das contas o que interessa para nós é como a pesquisa afeta a política econômica e a vida das pessoas. A política monetária nos anos 1970 era executada de forma muito diferente. Não havia datas ou procedimentos claros para mudanças na taxa básica de juros, nem mesmo declarações oficiais sobre quanto era a taxa básica. O Banco Central controlava os juros por meio de operações no mercado, em silêncio.
O mundo da política monetária de hoje, com comitês de política monetária, datas e atas de reuniões, baseado na transparência e na comunicação clara com os agentes, germinou a partir da semente plantada nos anos 1970 pela linha de pesquisa liderada por Lucas.
Minha primeira e mais marcante interação com Robert Lucas ocorreu há quase 20 anos. Eu tinha apresentado um artigo sobre crises cambiais, tópico quente na época. Após o final do seminário, ele veio a mim, fez comentários e elogiou o trabalho.
Eu adorei a maneira como ele falou do artigo e fiquei me achando. Pouco depois, descobri que ele era assim, gentil e elogioso com jovens acadêmicos, mesmo quando o trabalho não era tão especial. Ainda assim, guardo até hoje a vívida lembrança daquele momento feliz na minha carreira de pesquisador.