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Opinião Econômica

Opinião Econômica

- Publicada em 10 de Maio de 2023 às 20:47

Galípolo como diretor no Banco Central: juros cairão?

Bernardo Guimarães
Bernardo Guimarães
Doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP
O governo anunciou na segunda-feira, 8 de abril, que Gabriel Galípolo, atual secretário executivo do Ministério da Fazenda, será o novo diretor de Política Monetária do Banco Central (BC).
Galípolo, ligado a Haddad e a Lula, é visto como alguém que defenderá taxas de juros menores.
Porém, assim que ele foi anunciado, as taxas de juros de mercado de longo prazo (cinco a dez anos) aumentaram de modo perceptível. Os juros embutidos nos títulos públicos com vencimento em 2030, por exemplo, subiram.
Por que isso aconteceu? O que isso nos explica sobre política monetária?
A taxa de juros é o instrumento que o Banco Central utiliza para controlar a inflação. Quando se espera que a autarquia não hesitará em aumentar juros, as expectativas de inflação são menores.
Expectativas de inflação afetam a própria inflação por influenciarem os reajustes de preços e as negociações salarial. Assim, expectativas baixas tornam mais fácil o trabalho do BC de controlar a inflação.
Por causa disso, diretores de bancos centrais pelo mundo com frequência chegam sinalizando uma postura agressiva contra a inflação. Como uma fera que adentra um território mostrando suas garras, esses diretores têm incentivos para votar por juros mais altos nas primeiras reuniões.
É exatamente isso que dois pesquisadores encontraram ao estudar os votos dos membros do comitê de política monetária do Reino Unido (o Copom deles). Nos primeiros meses, eles se mostram raivosos feito cães contra a inflação. Muitos, depois, ficam mansinhos como bichanos pelo chão.
Aliás, o efeito é ainda mais forte para quem é, em geral, menos favorável a juros altos contra a inflação. As feras que já têm reputação de serem agressivas não têm tanta necessidade de demonstrar fúria quando chegam.
Em suma, expectativas de uma postura mais agressiva para derrubar a inflação tendem a levar a uma inflação menor.
Gabriel Galípolo, porém, chega ao Banco Central sinalizando uma postura menos agressiva contra a inflação. Ele é um jogador importante do time que critica os juros altos.
Além disso, ele é o segundo nome na hierarquia do Ministério da Fazenda, logo abaixo de Fernando Haddad. Assim, a diretoria de Política Monetária do BC não é exatamente uma promoção. Por que ele foi para lá? Especula-se que talvez ele esteja indo com vistas a se tornar presidente do BC ao final de 2024, quando vence o mandato de Roberto Campos.
Se for esse o caso, e se Galípolo de fato tiver receio de aumentar juros no futuro, podemos ter inflação maior daqui a alguns anos.
A última parte no argumento é que inflação maior tende a levar a juros maiores, mesmo que o Banco Central não queira.
Se a inflação vai de 4% para 8%, a taxa de juros nominal precisa subir quatro pontos percentuais para que a taxa de juros real (descontada a inflação) fique constante. Isso é importante porque é a taxa de juros real que afeta as decisões de investimento e a demanda por bens na economia.
Além disso, se a inflação sobe, o Banco Central precisa em algum momento aumentar os juros para baixá-la.
De fato, as taxas nominais de juros mais altas no Brasil nos últimos 15 anos foram observadas no início do segundo mandato de Dilma Rousseff, justamente porque a inflação chegou a 10% ao ano.
No futebol, zagueiros que acreditam que o juiz será leniente fazem mais faltas. Com frequência, o juiz que não gosta de mostrar cartões acaba tendo que expulsar alguém.
Expectativas de inflação e, consequentemente, a inflação e os juros também reagem ao que se espera do Banco Central.