Uma loja não é só uma loja. E a Livraria da Travessa, que acaba de abrir no Iguatemi Porto Alegre, vai mostrar como a combinação de ambiente, design e experiência é tudo em um ponto físico. Claro, a marca é hoje uma das referências no mercado de varejo editorial. É a 15ª unidade, a primeira do Sul.
A arquiteta que criou o projeto de layout e conceito, Bel Lobo, aposta que os gaúchos vão adotar a livraria. Bel, com mais de quatro décadas atuando com design para varejo, tem no currículo outras marcas, como as de moda Farm Rio e a mais recente Farm ETC. Também tem Richards, que foi seu desembarque no mundo do visual merchandising. Da Travessa, a ligação foi tão forte que ela virou sócia.
"Ganho desconto nos livros. Adoro. É um trabalho que a gente faz há muitos anos e a muitas mãos", conta ela, em entrevista à coluna Minuto Varejo. A arquiteta listou a seguir os aspectos que mais pesam e influenciam um projeto, como na estreante Travessa:
Bel: "O projeto (Travessa) foi pensado para os porto-alegrenses e para a cidade"
BEL LOBO/ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
> Lições da Travessa
“A gente aprendeu muito com eles, os livreiros. Eles sabem tudo, sabem como expor. A Travessa foi uma experiência muito boa. A gente foi crescendo junto, aprendendo junto. E é uma alegria todo esse sucesso da operação, porque é muito verdadeiro, é muito de dentro para fora. É um trabalho que a gente faz com muitas mãos. O Rui Campos, um dos fundadores, está até hoje com a gente. Ele vai na obra, ele está lá no balcão, acompanha a execução.”
> Farm duas vezes
“Acabamos de inaugurar uma nova marca da Farm, que é a Farm ETC, com calçados, bolsas e acessórios. A marca (da Azzas 2154) vai abrir muitas e está sendo muito falada. O projeto é bem diferente mesmo. Teve a participação do Humberto Campana, que fez a parte artística, que inclui um jardim interno com vegetais marcantes e bancos autorais. O Campana pegou uma tipografia que a Farm Rio tinha desenhado e transformou no cobogó, que está na fachada.”
> Projetos sustentáveis
“Fazer varejo é muita diversão porque a gente aprende muito. E a primeira coisa que eu faço sempre, que busco sempre fazer, é buscar uma consideração de sustentabilidade, com uso de material sustentável. Uma das ideias que adotamos na loja da Farm foi forrar toda uma pedra, lembrando o Arpoador. Fizemos uma arquibancada para dar conta do fluxo. A instalação é toda feita de material pet, usando o lixo tirado da beira-mar. Tem tudo a ver com o ambiente da praia.”
Farm ETC levou para fachada cobogó projetado por Humberto Campana
FARM/INSTAGRAM/DIVULGAÇÃO/JC
> Loja e ambiência
“Aprendi com o Ricardo Ferreira, fundador da Richards, que dizia: “Uma loja não é você instalar a arara, pendurar roupa, iluminar bem e botar bem dobradinha. Uma loja é você criar uma ambiência que faça com que as pessoas se identifiquem e gostem de estar ali dentro. Tudo o que a gente procura é ambiência. Quando fazemos uma Livraria da Travessa, buscamos uma qualidade de luz e um lugar para as pessoas se sentirem à vontade para mexer. Os comentários em jornais das primeiras livrarias que desenhamos e fizemos eram de que o legal da Travessa era “uma baguncinha organizada que a pessoa se sente à vontade para mexer”. Tem muitas poltronas, por exemplo, para pegar um livro, sentar, ler, depois botar o livro na estante e ir embora. Não é uma coisa só de comércio. O ambiente é pensado para as pessoas poderem sentar e ficarem ali quanto tempo quiserem. Tem sempre espaço para uma conversa e um lançamento de título. Tem ainda uma mesa que oferece os livros de uma maneira que você pode pegar e ver as capas das publicações.”
> O poder da iluminação
“Não precisa nem ser cara a luz. Só precisa ser a certa, direcionada. Você cria clima com pouca coisa. Precisa saber o que vai colocar e descobrir a melhor maneira de fazer e o que você precisa expor e como a pessoa vai experimentar. Se for experimentar, tem de comunicar bem isso. Sobre uma boa luz: o que faz diferença é você ser meio inusitada. Você tem uma coisa que é só sua. Não adianta você copiar e não adianta ser tudo igual.”
> A Travessa de Porto Alegre
“O Rui Campos deu a senha: o porto-alegrense é exigente e lê muito. Conseguimos repetir o pé direito que tem no Iguatemi São Paulo e instalar uma passarelinha que dá a sensação de uma estante inteira. As pessoas conseguem acessar os livros nos andares. Temos ainda três vitrines: uma normal, uma mais fechada e outra que é uma ilha de livros. É uma arquibancadinha de madeira, que se relaciona com o pilar que está próximo. Vimos que a Zara tinha uma abertura para trás. Perguntamos ao shopping: ‘Podemos abrir para trás?’ Foi uma coisa que nos deixaram de última hora, mas que garantiu a luz natural, que é muito importante. Luz natural é tudo. Te conecta com o planeta, com a vida. Depois dessa pandemia, ela ficou mais preciosa do que nunca. Queria que as pessoas se sentissem encantadas e em casa, ao mesmo tempo, e estimuladas a ler. Tudo o que a gente quer hoje é se relacionar com outras pessoas e fazer trocas, não é? Nosso projeto foi pensado para que os porto-alegrenses tenham a Travessa como um lugar deles, que voltem muito, e faça parte da cidade."