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Patrícia Comunello

Patrícia Comunello

Publicada em 01 de Setembro de 2025 às 00:50

Design com raízes gaúchas ganha espaço internacional

Braga combina pesquisa e materiais, como lã descartada, que vira peças para decoração

Braga combina pesquisa e materiais, como lã descartada, que vira peças para decoração

LUFE TORRES/DIVULGAÇÃO/JC
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O mundo está conhecendo de um jeito inusitado a riqueza, a maciez e a originalidade da lã extraída de ovelhas que pastoreiam pelos campos do Rio Grande do Sul. Peças criadas pelo publicitário gaúcho, com uma carreira recente entre o design e a arte, Tiago Braga, estão em galerias sofisticadas e com criações exclusivas entre almofadas e luminárias.
O mundo está conhecendo de um jeito inusitado a riqueza, a maciez e a originalidade da lã extraída de ovelhas que pastoreiam pelos campos do Rio Grande do Sul. Peças criadas pelo publicitário gaúcho, com uma carreira recente entre o design e a arte, Tiago Braga, estão em galerias sofisticadas e com criações exclusivas entre almofadas e luminárias.
Além disso, Braga, que lidera o ateliê Oiamo, tem Porto Alegre, têm a chance de entrar em ramos de atacado que distribui produtos para varejo de alta decoração e arquitetura. "A coleção traduz em gestos têxteis a força da natureza e a memória coletiva de comunidades locais ao reaproveitar fibras e técnicas manuais de referência cultural, práticas em gradual desuso e cada vez menos transmitidas às novas gerações", traduz o designer.
O publicitário participa esta semana da exposição Héritage Culturel et Savoir-Faire, na Embaixada do Brasil em Paris. O evento integra o circuito oficial da Paris Design Week e celebra os 200 anos das relações diplomáticas entre Brasil e França. Braga assina as criações pelo Oiamo e participa da mostra pelo terceiro ano consecutivo. A curadoria é de Pat Monteiro Leclercq e produção do projeto bref, design & art.
A mostra reúne iniciativas autorais que evidenciam a excelência do saber-fazer artesanal, da arte e do design como expressões vivas das culturas brasileira e francesa. É a terceira participação do gaúcho, que apresenta a série limitada Sentinelas Douradas, criadas para a mostra. São luminárias-escultura feitas com artesãs gaúchas.
Os projetos combinam habilidades tradicionais como tricô, tear, crochê, bordado, cestaria e marcenaria, refletindo a essência da marca. Inspiradas pela fluidez e pelas transições entre os ambientes urbano, rural e litorâneo, as criações exploram de maneira sustentável riqueza das fibras naturais, como bananeira, bambu, vime, algodão reciclado, madeira reaproveitada e a lã pura.
A fusão desses elementos e ambientes promove uma análise sobre a dinâmica entre o ser humano e seu entorno em constante transformação. As obras da Oiamo capturam o ritmo da paisagem cinza do extremo sul brasileiro e o clima frio, contrastando com o Brasil Tropical. Essa diversidade se manifesta em visões poéticas de cenários e instalações, enriquecendo a prática do artesanato e valorizando o modo de vida ancestral.
O designer estará na Maison&Objet Paris 2025, um dos mais prestigiados eventos de design internacional, integrando a exposição Amuleto, projeto da ApexBrasil com curadoria de Bruno Simões. Parte do circuito oficial da Paris Design Week, de 4 a 8 de setembro, no Parque de Exposições Paris Nord Villepinte. 
"Quero entender como é o comprador na Europa e outros mercados. O apoio da ApexBrasil é importante para buscar mercado internacional. Exportar não é fácil, envolve muita coisa e a exigência é muito elevada, como na logística", comenta ele. O gaúcho aposta que mercados como o do Oriente, com China e outros países, podem ser destinos dos seus trabalhos.
"Eles têm muito interesse em trabalhos manuais, e o mercado norte-americano, que sempre teve interesse, está sofrendo o efeito do aumento das tarifas", observa Braga. "Vou para aprender, para ver como exportar design assinado e galeria, entrando no mercado de peças seriadas para home decor."

Resgate de técnicas ancestrais e quase extintas

Luminárias são tramadas por fios tingidos com macela, símbolo da flora

Luminárias são tramadas por fios tingidos com macela, símbolo da flora

/LUFE TORRES/DIVULGAÇÃO/JC
Tiago Braga é uma combinação de artista, designer e pesquisador, localizando seu trabalho entre o design e a arte, como ele define. "A peça não é só utilidade, mas sim contemplativa e sensorial", define Braga, que tem origens em Osório, na área litorânea do Rio Grande do Sul.
Também é na região repleta de lagoas que vem as raízes criativas, herdadas da avó costureira, do pai músico e da mãe professora e artesã. Essa influência o levou a cursar Comunicação Social e a se estabelecer na capital gaúcha, onde expressou seu potencial criativo como diretor de arte, designer gráfico e cenógrafo para grandes marcas.
Após sua pesquisa acadêmica sobre Design e Sustentabilidade, Tiago encontrou um novo propósito de vida. Movido por sua intuição e pelas experiências com coletivos de artesãs e artesãos gaúchos, ele fundou a Oiamo, abraçando um novo desafio.
Com projetos premiados e reconhecidos internacionalmente, o fundador da marca Oiamo tem sua trajetória construída pelas artes visuais, design, publicidade, literatura, teatro, artesanato, refletindo uma constante busca por novas formas de expressão. Distante do estereótipo do gaúcho tradicional, frequentemente associado ao homem do campo em uma sociedade marcada pela segregação de gênero, 
Braga encontra ressonância no conceito de "modernidade líquida" de Zygmunt Bauman, sociólogo e filosofo francês, abordado no livro "Gauchismo líquido", escrito pela antropóloga gaúcha Clarissa Ferreira.
De forma reflexiva, o designer questiona a efemeridade contemporânea, desafiando interpretações rígidas sobre a tradição e propondo um olhar mais fluido e dinâmico para as identidades culturais.

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