O que pesa mais na hora de empreender nos Estados Unidos, principalmente em mercados concorridos e ditadores de tendência como Nova York? Três atitudes foram destacadas em nova edição do Cria, Festival da Criatividade Brasileira nos EUA, que a coluna Minuto Varejo acompanhou em 17 de maio, em Manhattan. Um dos painéis abordou desafios e provações para empreende no país. Três atitudes foram destacadas para quem já está tentando ou pensa em atuar no mercado norte-americano. Primeiro é fazer networking (rede de contatos ligados à área de trabalho), segundo dominar o inglês (com desenvoltura próxima à comunicação dos nativos) e terceiro é não desistir, ante dificuldades que aparecerão pelo caminho. Os conselhos pautaram o painel que abordou a diáspora brasileira, que se refere à saída de profissionais, muitos de áreas da economia criativa, para buscar oportunidades supostamente melhores nos EUA. Cristiano Galvão, da Microsoft MVP, Ricardo Rosa, cofundador da Petisco Brazuca, e Maria Cândida Langbauer, que atua com desenvolvimento econômico na prefeitura de Seattle e vai lançar a empresa de cosméticos Flora Botanics, falaram de suas experiências e da condução da inserção no mercado norte-americano.
Foram mais de oito horas de temas, com convidados, e interações no palco do Symphony Space, no Upper West Side. Em cada área, de publicidade, marketing, tecnologia a empreendedorismo me recursos humanos, os palestrantes compartilharam sinalizaram o que é preciso levar em conta em cada aspecto da investida local, desde preparação da gestão, áreas de oportunidade e como se inserir em vagas de trabalho. Tem alguma armadilha ou algum risco que vocês acham que vale a gente prestar atenção?, provocou a mediadora do Cria. "Ficar preso ao público brasileiro, ao chamado "mercado da saudade". As pessoas só vão consumir quando elas sentirem saudade disso", alertou Ricardo, que encara essa postura como negativa na atuação de marcas brasileiras. "São empreendedores que ficam na zona de conforto, pois têm o apoio da comunidade brasileira. Apesar de ser algo confortável vender para esse público brasileiro, que é ótimo e dá suporte, isso pode ser o gargalo que vai acabar com o seu negócio", opinou o cofundador da Petisco Brazuca, que hoje tem mais de 95% dos mercado vindo de consumidores norte-americanos: "A gente foi adaptando o negócio para as oportunidades que apareceram e conseguimos construir uma marca que não é só reconhecida pelo público brasileiro, mas também pelo público americano". Outra dica de Ricardo é "controlar a ansiedade": "É um fator importante para tomar as decisões corretas".
Cândida citou que, na atuação para atrair empresas do exterior e mesmo estrangeiras que atuam no mercado local, como em restaurantes, é importante observar o que os americanos buscam. "É uma adaptabilidade e pensar no mercado americano, porque realmente é um problema não só para a cultura brasileira, mas para outras culturas", frisou a especialista em desenvolvimento. Galvão apontou a necessidade de "quebrar o isolamento", mas avalia que atuar com a comunidade brasileira "estreita laços e promove networking".
Sobre desafios para enfrentar, ante a cultura de negócios e outras características, ele considera importante ter domínio da área de atuação. Cândida também destacou que saber se comunicar com os locais pode ser a diferença entre vender ou não. "Procurem aprimorar o inglês", recomendou a especialista, que prepara a chegada da Flora Botanics no mercado. Aliás, a operação deve ser lançada no Brasil, devido aos impactos do tarifaço do governo Trump, que encareceu a importação de insumos que vêm justamente do Brasil.
A fundadora do Cria, a jornalista Larissa Rinaldi, disse que foi a maior edição do festival. "Foi uma oportunidade única para mais de cem pessoas que assistiram ao evento", destaca. "As experiências que trouxemos inspiram todo mundo", acredita a jornalista.
O ambiente para empreender nos Estados Unidos sob o governo de Donald Trump combina reações diferentes de brasileiros. Ricardo Rosa, cofundador da Petisco Brazuca, com cinco lojas em Nova York, aposta em novo momento após superar o desafio de trazer o sabor do Brasil ao país. Este ano a marca, que foca comida de rua brasileira, com a coxinha como carro-chefe, ativará projeto antigo de ampliar a fabricação para congelados, em novo salto para a Petisco. A meta é chegar a 27 estados. "Era o nosso plano original, mas a gente foi adaptando. Depois de 11 anos voltamos com os congelados", explica Ricardo. O cofundador espera detalhes finais para começar colocar os produtos nas lojas: "Vamos distribuir em 27 estados. No foco inicial, estão mercados latinos e brasileiros e depois os consumidores americanos".
Cândida Langbauer, que mora em Seattle, no lado Oeste, onde atua na prefeitura com captação de investimentos e atração de empresas de fora dos EUA, já registrou e vai lançar até dezembro a Flora Botanics, de cosméticos baseados em insumos brasileiros. Com o tarifaço, o custo subiu 10%, cita ela. "A gente não sabe o que vai acontecer aqui. Por isso, a decisão de lançar no Brasil", explica: "Abriu a oportunidade". Os produtos seguem perfil sustentável e engajamento social", diz ela.