A tapioca e o pão de queijo, primos-irmãos no Brasil, por terem ingrediente de base comum, o polvilho que vem da mandioca, mantêm o parentesco em Nova York, mas com novas gerações. A customização dos dois lanches é um dos segredos da arrancada que a TAP (T de tapioca, A de açaí e P de pão de queijo) - o açaí veio depois valorizando a fruta amazônica -, negócio de alimentação aberto em 2017 no lado oeste da ilha de Manhattan, tem provado que dá certo, principalmente no pós-pandemia.
Hoje a marca de gastronomia que ainda pegou carona na vibe da saudabilidade, do zero glúten, já tem três unidades e caminha para a quarta com nova expansão.
"Vamos abrir em Miami, na Flórida", avisa Pedro Uchôa, hoje CEO da TAP, carioca, que deixou o surfe no Brasil para trabalhar no negócio que já tinha o irmão mais novo, Cleofas Uchôa, o Cleo, no comando, um jovem que chegou aos 18 anos em Nova York e foi, aos 23 anos, um dos empreendedores destaque da revista Forbes em seleção em 2022, justamente pela escalada e modelo de negócio da TAP. Cleo hoje é o diretor de Operações.
A loja mais recente fica em Astoria, que vem com novo design e aposta na relação com comunidade. Fotos: Patrícia Comunello/JC
"A gente tinha o sonho de abrir em Miami desde 2018", conta ele, ao lado do irmão Pedro. A operação Miami, na região da Brickell, é prevista para inaugurar em março e mais unidades devem estrear em Nova York, além de outras cidades.
"A TAP começa vendendo tapioca, depois vimos o potencial do açaí aqui e veio a receita do pão de queijo. Agora a gente une tapioca, açaí e pão de queijo no conceito de glúten free brasileiro para a comunidade global", arremata Cleo.
Além da primeira operação, as outras duas estão na região próxima da Grand Central, a antiga e bela estação de trem de Nova York, nas proximidades da Rua 42 - é uma lojinha pequena, para comprar e levar e que está sempre lotada -, e a mais recente, em Astoria, que estreou em agosto de 2023 em um ponto de grande fluxo e centro de varejo e restaurantes no Ditmars Boulevard.
A TAP foi montada pelo investidor brasileiro. Cleo chegou em 2017, e Pedro logo depois. Antes da crise da Covid, a marca chegou a ter quatro pontos. Dois foram fechados pós-pandemia e agora ocorre a expansão. Entre os achados para se firmar na mente da cliente local, com foco em norte-americanos, foi a adaptação do cardápio e tipo de sanduíches.
"Os americanos consomem muito e entendemos isso. Também trouxemos mais forte para as lojas a identificação de "Brazilian Restaurant", para valorizar o que temos aqui", descreve Pedro.
Outra pegada também que é cada vez mais forte é a ambientação.
Clientes têm experiência imersiva ao ir ao banheiro, graças ao grafite que remete à Floresta Amazônica e o som do passará Uirapiru
Na loja em Astoria, a decoração tem fotografias com paisagem da Amazônia a praias do Nordeste. O banheiro poderia muito bem ganhar o título de melhor na categoria temático de Nova York. O cliente entra e é surpreendido pelo visual, com grafites e, sim, do barulho da floresta amazônica. Mais Brasil, impossível!
O cuidado visual e a identidade com o Brasil tivera por trás a concepção do arquiteto brasileiro João Uchôa, tio dos irmãos que dirigem a TAP. O arquiteto já assinou projetos como palcos do Rock in Rio e o festival The Town.
Ter um dos gestores na lista de empreendedores brasileiros de destaque da Forbes virou atrativo da TAP. A capa da revista com Cleo Uchôa é exposta na loja de Astoria, no Queens. A escolha da Forbes na categoria gastronomia ajudou a chancelar o que tem sido a trajetória do gestor, hoje sócio, em um dos mercados mais concorridos, principalmente no ramo de alimentação, no mundo. Pesou o fato de estar em Nova York, com negócio que fatura mais de US$ 2,5 milhões, depois de ter desistido de cursar faculdade no Brasil.
"Vim fazer uma temporada de quatro meses na cidade e consegui trabalhar na TAP", lembra. "Comecei vendendo bolo em Copacabana, depois vim tocar a expansão do restaurante aqui. Hoje temos mais unidades entre brasileiros em Nova York", descreve Cleo. "A pandemia foi um desafio. Com decisões difíceis, como ter de demitir pessoas, mas tive maturidade para colocar o negócio onde ele está agora."