As recomendações de entidades gaúchas do varejo sobre a condução dos negócios do setor em 2024 vêm validando duas condutas, reforçadas nesta terça-feira (12) pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do RS (FCDL-RS). Cautela sobre o comportamento dos consumidores, devido a indicadores preocupantes como inadimplência, e moderação sobre a gestão das operações, pois juros, que afetam segmentos de duráveis e custo do crédito ainda estarão em patamar bem salgado.
A projeção da FCDL-RS para o Produto Interno Bruto (PIB) nacional no ano que vem é de crescimento real (descontada a inflação) de 1,1% e de 2% para a atividade gaúcha, segundo estudo da FCDL-RS e Escola de Negócios da Pucrs.
"O Estado cresce mais, pois vai recompor avanço menor do PIB este ano devido às perdas da estiagem", explica o economista e professor da Escola de Negócios Gustavo de Moraes. Moraes sinaliza IPCA de 3,8% no acumulado do ano, mas previne que o indicador pode sofrer pressões de altas de alimentos e de passagens aéreas, segmento que está com demanda aquecida e já com tarifas nas alturas.
"Esperamos manchetes de queda de juros no primeiro semestre, mas, no segundo semestre, deve ter manutenção de taxas", opina o economista. O mais recente relatório Focus, pelo qual o Banco Central capta a avaliação do mercado, indicou Selic de 9,25% no fim de 2024.
Inadimplência e juros no visor de 2024
A inadimplência ainda em alta, apesar de queda na taxa básica, além de um pessimismo das famílias, que vem piorando pós-pandemia de Covid-19, é explicada por uma condição geral de renda de classes mais baixa e da classe média.
Moraes diz que, mesmo com geração de empregos, um dos aspectos positivo de 2023, há maior instabilidade e precariedade em vínculos de trabalho, com informalidade e intensificação do processo de pejotização, com migração para Microempreendedor Individual (MEI).
"O perfil da mão de obra que tem seguido este caminho é de baixa escolaridade, não especializada", cita o economista, além de remuneração mais baixa. Moraes comenta ainda que ha uma baixa adesão dos gaúchos em feirões de renegociação de dívidas, promovidas em todo o País. O professor acredita que 2024 poderá ser um bom momento para quem quiser buscar as oportunidades para reduzir passivos.
Impulso à economia e mais impostos?
O presidente da FCDL-RS, Vitor Augusto Koch, comentou, na sede da entidade em Porto Alegre, que 2023 foi "um ano positivo, mas aquém do que se esperava". Koch comenta que havia maior expectativa para recuperar atividades afetadas pela pandemia, entre elas a da venda de veículos, alvo até mesmo de um programa de descontos, com desoneração federal de unidades mis baratas.
Koch indicou que, para 2024, serão importantes medidas para ativar investimentos e equilíbrio nos gastos públicos. O dirigente também defendeu que o governo federal use instrumentos, como os bancos públicos, para pressionar pela redução de taxas de juros.
O presidente da FCDL-RS citou ainda o temor da aprovação do
aumento da alíquota modal do ICMS de 17% para 19,5%. Projeto que tramita na Assembleia Legislativa deve ser votado até a semana que vem. Como alternativa, o governador
Eduardo Leite fala em remover parte dos incentivos fiscais. Somente as atividades econômicas tiveram desonerações de R$ 12 bilhões em 2022.