Porto Alegre vai ser palco do evento Varejo 360, organizado pela Fecomércio-RS, que vai combinar desde temas do dia a dia do setor, tendências, experiências de executivos e empresários e inovação, além de criar ambiente para muito networking, destaca o presidente da entidade, Luiz Carlos Bohn, para a coluna.
O encontro será nesta terça-feira (26), na sede da federação, na zona Norte da Capital, atraindo público de todo o Estado. "O evento tem potencial de trazer perspectivas valiosas para aqueles que estão envolvidos no dia a dia do negócio", pontua Bohn. José Galló (Lojas Renner), Paulo Antônio Pedó (Melissa), Daniel Scott (HyperXP) e Diego Flores (Panvel) estão entre os confirmados.
Minuto Varejo - O Varejo 360 vai trazer quais perspectivas para quem está no dia a dia do negócio?
Luiz Carlos Bohn - O evento tem o potencial de trazer perspectivas valiosas para aqueles que estão envolvidos no dia a dia do negócio no setor varejista, entre elas tendências emergentes, entre tecnologias inovadoras, mudanças nas preferências do consumidor e novos modelos de negócios. Também vamos mostrar estratégias bem-sucedidas, com nomes como José Galló (Lojas Renner), Pedó, Diego Flores e Daniel Scott, que vão compartilhar suas experiências e estratégias bem-sucedidas. Também vai ter espaço para networking e parcerias. Os participantes podem se conectar com outros empresários e líderes do setor. Nomes como Felipe Titto motivarão os participantes a adotar uma abordagem mais inovadora, criativa e determinada.
MV - Varejistas ainda têm dificuldades de resolver o digital com o físico?
Bohn - Sim, há ainda muita dificuldade. E essa dificuldade é diferente entre grandes e pequenos. No grande varejo, está em tornar a operação no digital e no físico a mesma. O cliente não entende como comprar no site da própria loja pode ser mais barato do que na loja física do mesmo empreendimento. Cria-se uma concorrência interna em que a loja muitas vezes perde o empenho do seu próprio vendedor em virtude da sua estratégia de precificação. Ainda que sejam operações que possam ser vistas em separado, não é possível verificar eficientemente o grau de influência que um canal tem nas vendas do outro. Se a operação fosse vista como um todo, os resultados tenderiam a ser potencializados. Já no pequeno varejo, a dificuldade de muitos está em entender que, da mesma forma que ocorre num ponto físico, a estratégia digital requer investimento, experimentação e recorrência. Os pequenos varejistas têm potencial de fazer bons negócios com o uso eficiente das redes sociais, mas, para isso, é preciso entender como o mercado no qual está inserido se relaciona com seus consumidores.
MV - O que mais pressiona o desempenho dos varejistas hoje?
Bohn - O PIB do comércio brasileiro cresceu nos últimos dois anos 0,93% (II trimestre de 2023 em relação II trimestre de 2021 na série com ajuste sazonal), isto é, cresceu muito pouco. Ainda que haja particularidades entre as mais diversas atividades que compõem o varejo, em linhas gerais se pode colocar três grandes elementos de pressão nos resultados: a concorrência, o custo do crédito e a confiança do consumidor. O varejo vive um nível concorrencial jamais visto. As vendas on-line aumentaram o número de competidores em todos os mercados e em todas as localidades. A entrada de players internacionais que competem em condições favorecidas mostrou quão caro é produzir e comercializar no Brasil quando todos os tributos são pagos de forma regular. E como consequência, em algumas atividades, fatias significativas de mercado foram abocanhadas por players estrangeiros. O segundo ponto relevante é o custo do crédito, nesse caso impactando negativamente nas duas pontas: no varejo como tomador de crédito e também como financiador dos seus clientes. As taxas de juros elevadas nos últimos anos pressionaram os balanços, exigindo resultados operacionais cada vez mais relevantes para fazer frente a custos financeiros que cresceram muito. Além disso, financiar clientes ficou mais caro e mais arriscado, fazendo com que especialmente aquelas operações que lidam com canais próprios de financiamento enfrentassem inadimplências históricas. Por fim, existe a questão da confiança do consumidor. Desde o início de 2014, o Índice de Confiança do Consumidor da FGV se encontra abaixo dos 100 pontos. Isso significa dizer que temos no mercado um consumidor com pouca disponibilidade para comprar, o que associado a momentos de alta inflação e juros altos, diminuiu ainda mais o apetite de consumo, tornando o ato de vender ainda mais desafiador.
MV - As dores do pequeno varejo são as mesmas do grande varejo – serão grandes marcas no evento?
Bohn - O evento quer conversar com grandes e pequenos, falando de interesses comuns, mas também entendendo que dimensões diferentes de negócios determinam problemáticas diferentes. Nos grandes, temos a questão da logística e da comunicação interna como desafios relevantes. Já nos pequenos varejos, os desafios existenciais são o de viabilidade e da rentabilização do negócio.
MV - Conjuntura adversa e demanda por tecnologia: o varejo está conseguindo navegar por esses dois polos?
Bohn - Costumo dizer que precisamos jogar o jogo do nosso tempo. Alguns varejos entenderam isso, outros não. A conjuntura é a que temos, precisamos entendê-la e nos adaptarmos, sempre foi assim e sempre será. Quem fizer isso sobrevive, quem não faz sucumbe. Quanto à demanda por tecnologia é a mesma coisa. No varejo, a tecnologia é um meio, não um fim em si mesma. A ideia é que ela contribua na redução de custos e melhore a experiência do cliente. Quando ela não atende a esses dois requisitos é hora de repensar.


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