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Patricia Knebel

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Publicada em 26 de Maio de 2025 às 19:59

A inovação não espera ninguém, provoca Monique Evelle

Monique defende visão de ecossistema e de ganha-ganha para avançarmos

Monique defende visão de ecossistema e de ganha-ganha para avançarmos

Arquivo pessoal/Divulgação/JC
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A inovação não espera ninguém e, neste momento, isso exige ainda mais maturidade dos empreendedores e do ecossistema para acompanhar as transformações promovidas pela inteligência artificial. “Todo mundo está desconfortável, mas o futuro vai acontecer independentemente disso”, alerta Monique Evelle, empreendedora, investidora e shark no Shark Tank Brasil.
A inovação não espera ninguém e, neste momento, isso exige ainda mais maturidade dos empreendedores e do ecossistema para acompanhar as transformações promovidas pela inteligência artificial. “Todo mundo está desconfortável, mas o futuro vai acontecer independentemente disso”, alerta Monique Evelle, empreendedora, investidora e shark no Shark Tank Brasil.
Nesta entrevista ao podcast Better Future, do Jornal do Comércio, ela fala sobre o amadurecimento do ecossistema empreendedor. Na visão da empreendedora, a inovação — e futuro — são construídos coletivamente, por meio de conexões genuínas, flexibilidade e trocas equilibradas, e não por relações unilaterais.
Mercado Digital - As gravações do Shark Tank, reality de empreendedorismo da Sony, começaram. Pela experiência no programa e no seu dia a dia como investidora, podemos dizer que o empreendedor brasileiro está mais maduro?
Monique Evelle — Tem um ponto sobre maturidade do ecossistema que é fundamental: se não estiver maduro, já era. Estamos num momento de inteligência artificial, de grandes mudanças e, se não conseguirmos nos adaptar a essa realidade, ficará complicado. Uma coisa é você ficar desconfortável; eu acredito que todo mundo está.
Mas o futuro vai acontecer independentemente desse desconforto. Como a gente continua existindo, criando soluções que realmente funcionam e impactam positivamente as pessoas, a sociedade e, também, os empreendedores? Chegou o momento de refletir: se você não amadureceu até agora, é agora ou nunca.

Mercado Digital - Você sempre destaca a importância da descentralização dos eventos e oportunidades. Dá para envolver todo mundo nessa escalada de evolução que vivemos, certo?
Monique — Claro. Não podemos ficar ilhados. Seja em Salvador, Porto Alegre, São Paulo, Recife, tanto faz. Precisamos entender que qualquer um desses sistemas pode se conectar, porque a inovação não é um prédio. Inovação não significa a estrutura do Instituto Caldeira, por exemplo, e sim o que acontece no Caldeira.
Não é a estrutura do Hub Salvador, e sim o que acontece no Hub Salvador. E as pessoas querem estar lá. Tem essa diferença. Senão, as pessoas vão achar que basta construir alguns prédios espelhados para que tudo funcione. Existem as métricas de cada território — métricas, sejam de impacto, sejam de retorno. Como é que você está medindo isso?
Não só do setor privado, mas também do público e sociedade civil, universidades, como é que a gente faz tudo isso funcionar? O setor privado, sozinho, não vai resolver; precisamos de mais. O Caldeira é uma iniciativa privada, mas tem o setor público e a sociedade civil próximos. Precisamos saber quais métricas estamos olhando, porque senão tudo vai virar vaidade.
Mercado Digital - O que faz a diferença para que a inovação aconteça de forma sistêmica?
Monique — Como eu comentei, inovação não é ter um prédio. Você pode ter o melhor prédio do mundo, na Avenida Paulista, na melhor região de Salvador, na melhor região de Porto Alegre. Isso não significa que a inovação esteja acontecendo.
Não preciso ter prédio, mas preciso fazer com que cada ponto do meu ecossistema consiga dialogar para um ganha-ganha funcionar ali, senão, sempre vai ficar parecendo que um está tirando do outro. E a ideia não é essa. Se, numa relação, só um lado retira algo do outro, isso é roubo, não troca. Tem que ser relação de troca e não de roubo, porque é roubo de energia, de tempo, de relacionamento; não é só dinheiro que se tira. Pode parecer subjetivo, mas na prática não é tão subjetivo assim.
Mercado Digital - O que você avalia quando analisa um negócio para investir?
Monique — Uma das coisas dentro da minha tese de investimento é: eu quero e vou continuar mantendo empresas de base tecnológica, principalmente no segmento B2B, olhando para as regiões afastadas só do Sudeste — minha prioridade está no Nordeste e Norte.
Olho também para grupos sub-representados: ao menos 30% do time, principalmente dos fundadores porque eu acredito na pluralidade para fazer as coisas funcionarem. E, também, é importante perceber que empreendedor tem capacidade de execução, porque desenhar ideias e propósito é maravilhoso. Mas preciso que ele me mostre como vai executar isso. Os fundos de investimentos estão devolvendo dinheiro porque não estão dando retorno para os investidores, então, cada vez será mais importante mostrar, de fato, os caminhos para tornar a ideia viável.
Mercado Digital - Qual é seu perfil ideal de empreendedor?
Monique — O perfil de empreendedor que eu gosto é aquele que sabe pedir ajuda, consegue escutar e que, quando não concorda, mostra outra perspectiva que talvez eu não esteja mesmo enxergando. É aquele cara que faz, que não fica mesmo esperando. As coisas estão acontecendo. Ele precisa entender também, que como investidora, eu não vou trabalhar na empresa; investidor não vai para a operação.
Mercado Digital - Quais erros mais comuns você ainda percebe com frequência na liderança dos negócios?
MoniqueMuitos empreendedores não mostram flexibilidade, não mostram opções além de só morrer naquela empresa: o negócio é meu, eu faço isso assim e pronto. Gente, precisamos entender que vivemos em um ecossistema. Se você não se conecta com outras possibilidades, você vai morrer como empresa. Autorresponsabilidade é importante. Tem coisas que são de contexto, claro, mas outras são do empreendedor. Decisões difíceis precisam ser tomadas.
Mercado Digital - O que é preciso, na sua visão, para construirmos um futuro melhor?
Monique — Eu tenho um mantra que é: crie a realidade que você quer viver. E a realidade que eu quero viver é menos desigual. Cabe muito mais gente do que estamos vendo por aí. Eu vislumbro uma realidade em que as pessoas consigam realmente pedir ajuda, que entendam que não precisam carregar esse fardo do mundo sozinhas, seja nos negócios seja na vida pessoal. Respira! E tem um lugar do "se acostumar a dar certo", porque a gente fica sempre esperando um vendaval. Vamos nos acostumar a dar certo — a acreditar em um futuro melhor que realmente funcione.

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