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Falta coragem para as marcas investirem mais em conteúdo, alerta Dias
Já são mais de 300 milhões de criadores de conteúdo no mundo, sendo 20 milhões no Brasil, segundo dados da Factworks for Meta
A economia de criadores de conteúdo avança de forma acelerada no mundo. Mas, quando pensamos nas marcas, ainda há um oceano azul de oportunidades, desde que passem a investir mais em conteúdo. “Falta coragem e visão de longo prazo para a maior parte das corporações. Fazer conteúdo pode ser frustrante, pois o resultado não é imediato, porém, é fundamental”, admite Ricardo Dias, co-fundador da Adventures, uma venture builder que cria marcas com celebridades.
O empreendedor teve uma carreira não tradicional no mundo do marketing e dos negócios. Em 2001, começou num cargo de base na área de vendas da Ambev, aprendendo sobre o negócio de baixo para cima. Depois disso, trabalhou em diferentes cargos e lugares, incluindo a Inglaterra, Canadá, China e o escritório global da AB InBev em Nova York. Retornou ao seu Brasil como VP de Marketing da Ambev, até decidir sair e apostar na Adventures.
Mercado Digital – Já são mais de 300 milhões de criadores de conteúdo no mundo, sendo 20 milhões no Brasil, segundo dados da Factworks for Meta. Já podemos pensar que essa é uma profissão de futuro?
Ricardo Dias – Estamos vivendo um momento maravilhoso, e construindo, sim, uma caminhada em que criar conteúdo será uma profissão. Os jovens amam consumir conteúdo. Eu tenho duas filhas, e observo muito essas novas gerações. Eles querem criar conteúdo. Eles querem ser YouTubers. Daqui uns 10 anos, quando esse movimento estiver mais consolidado, vamos ver muitos negócios de criadores de conteúdo que começaram, por exemplo, construindo um canal que gerou uma grande audiência e monetizou. Um negócio real. Muitas pessoas já fazem isso, com sucesso, como as Kardashian e a Kylie Jenner. É aquela lógica importante: pessoas confiam e gostam de comprar de outras pessoas.
Mercado Digital – Quais são as novas oportunidades de negócios que se abrem para os creators a partir disso?
Dias – Pelo menos duas grandes oportunidades: para os criadores de conteúdo venderem publicidade para grandes empresas e para uma parcela deles criarem os seus próprios produtos. A Virgínia Fonseca é um bom exemplo. Ela criou e incorporou uma marca de produtos e faz um broadcast da vida dela quase que 24 horas por dia. Usa a base de seguidores que conquistou através dos conteúdos para comercializar produtos para uma audiência de quase 45 milhões de pessoas, só no Instagram. Muitas pessoas podem criticar o que ela pensa ou a forma que faz isso, mas a verdade é que é como na música. Temos o rock e rap, você não precisa gostar de algum destes gêneros, mas ambos são gigantes. Vejo o futuro com bons olhos nesse aspecto essa economia dos criadores. Ela é real e cada vez mais as pessoas vão, sim, utilizar.
Mercado Digital – Como tem sido essa mudança na forma como somos influenciados nas nossas decisões a partir da tecnologia e novos comportamentos?
Dias – Acho que vamos ter uma mudança brutal agora com a Inteligência Artificial (IA) e como isso irá influenciar as nossas decisões. Qual será o papel, por exemplo, de empresas como Google e Amazon. Hoje qual que é a tua principal ferramenta de busca? Para mim, cada vez mais, é o WhatsApp. O último carro que eu comprei também, busquei informações de pessoas no grupo da escola da minha filha. A verdade é que não estamos falando só de grandes influenciadores, mas de micro influenciadores. Alguém pode ter apenas 50 mil seguidores, mas ser extremamente influente naquele grupo de conversa. O ser humano é tribal.
Mercado Digital – Cada vez mais executivos se aventuram no mundo do conteúdo digital. Como você enxerga isso?
Dias - Hoje um CEO de uma grande empresa não pode ficar longe do público. Muitos decidem não ter nenhum canal, o que eu acho complexo. Se você não tem uma voz, as pessoas começam a falar por você. E a voz delas acaba sendo a tua voz. Por outro lado, existe aquela lógica de achar que a pessoa precisa estar postando o dia todo. Acho que as pessoas têm uma visão muito binária disso. O Elon Musk é um cara que construiu uma audiência bizarra no Twitter, que agora é o X. Conquistou milhões de seguidores. Ele usa as redes sociais para fazer comunicação. Mas, de uma forma geral, o que vemos muito são os executivos que não fazem nenhuma comunicação ou que fazer uma comunicação super corporativa.
Mercado Digital – A forma como as pessoas se relacionam com os conteúdos mudou muito. As marcas estão explorando como poderiam todo esse novo cenário?
Dias - Na era pré-digital, com a televisão tradicional, os formadores de opinião falavam, mas não escutavam. No Jornal Nacional, por exemplo, ninguém sabia exatamente o que as pessoas estavam achando do programa, só por meio das pesquisas. Hoje é imediato. Se você produz um conteúdo, consegue saber logo em seguida se ele engajou com o teu público. Nos últimos 15 anos, as marcas perderam oportunidades de investir mais em conteúdo. Algumas fizeram isso muito bem, obviamente, mas a maioria não. As empresas continuam fazendo o modelo de publicidade tradicional, e levaram isso da televisão para o digital, ou seja, continuaram interrompendo as pessoas. A grande oportunidade para uma marca é, cada vez mais, tentar entreter as pessoas.
Mercado Digital – Se conteúdo é tão decisivo, porque a maioria das empresas não faz isso com a qualidade e recorrência necessária?
Dias – Falta coragem e visão de longo prazo. O jogo do conteúdo é caro e frustrante, pois demora tempo para dar resultado. Então, muita gente acaba preferindo não fazer. Partindo do princípio de que a empresa em questão tem dinheiro, as que não investem geralmente não querem se frustrar. A maior barreira é o ego, o medo das pessoas de falhar, de virar motivo de chacota. Imagina eu investir R$ 5 milhões aqui para fazer um conteúdo da minha marca que ninguém vai ver. O MrBeast, o maior youtuber do mundo, tem mais de 185 milhões de seguidores. Ele abriu seu canal há 13 anos, e foi crescendo. Uma marca tradicional esperaria 15 anos para ver o resultado do negócio como esse criador de conteúdo? Quando pensamos nas grandes empresas, nos grandes grupos de negócios, a maioria tem uma hierarquia meritocrática. As pessoas querem bater meta, e para isso, focam no curto prazo. Por outro lado, as companhias que investem de forma séria em conteúdo estão conseguindo se posicionar melhor. E, provavelmente, serão as empresas de futuro.