Uma mulher, com grande experiência na área de tecnologia e inovação e passagens por várias instituições no interior do Rio Grande do Sul. Simone Stülp assumiu recentemente como Secretária de Inovação, Ciência e Tecnologia (SICT) do Estado com a missão de ajudar a catapultar ainda mais o ecossistema de inovação gaúcho, que vem vivendo um momento de grande evidencia. Natural de Encantado, ela é formada em Química Industrial pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e tem mestrado e doutorado em Engenharia de Materiais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Foi pró-reitora de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação da Univates, diretora do Tecnovates – Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari diretora Administrativa da Rede de Ambientes de Inovação do RS (Reginp). Também presidiu o Conselho Superior da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), do qual permanece como membro. Simone busca fazer uma gestão focada em dar continuidade e acelerar os avanços do ecossistema de inovação local. Um trabalho que ela conhece muito bem, já que foi secretária adjunta de Inovação, Ciência e Tecnologia da SICT até o final do ano passado. “As políticas públicas precisam ter visão de longo prazo, com impactos que perduram e criam o que chamamos de cultura da inovação”, defende.
Mercado Digital – O que podemos esperar da sua gestão à frente da SICT?
Simone Stülp – A meta é avançar ainda mais no fomento do ecossistema de inovação gaúcho, mantendo índices que tanto nos orgulham. Em 2021 e 2022, o Rio Grande do Sul foi eleito o estado mais inovador do Brasil no Ranking de Competitividade dos Estados do Centro de Liderança Pública (CLP). Ano passado, registramos aumento de mais de 70% no número de startups, além de termos trazido o South Summit para Porto Alegre, evento de inovação referência no mundo inteiro. Mas nós acreditamos e sabemos que dá para avançar ainda mais. Há demandas latentes, como pensar políticas públicas na área de semicondutores, além de fomentar outros aspectos cruciais ao desenvolvimento da economia gaúcha, como a educação, a descarbonização e o agronegócio aliado ao meio ambiente. A inovação é, por excelência, uma área bastante transversal, que conversa com diversos setores e contribui para a elevação da qualidade de vida como um todo. Temos 10 eixos prioritários nesta gestão da SICT, e eles perpassam todos esses temas, com uma visão de futuro que visa a deixar um legado que vai ressoar de forma positiva por muitos anos.
MD – Quais são os pontos mais estratégicos para o Rio Grande do Sul avançar na sua caminhada de ser um estado com vocação para a inovação?
Simone – Um dos pontos mais estratégicos nesse avanço é justamente um que é prioridade da atual gestão do governador Eduardo Leite: a educação. A inovação, pela vocação transversal da área, está ligada, necessariamente, à educação de qualidade. A SICT investe no tema, por meio do programa Educar para Inovar, que capacita professores e alunos para uma educação com as competências do século 21, além de termos aprovado projetos ligados à área em editais. Também temos o programa Conecta RS, que leva internet Wi-Fi a escolas da rede pública estadual. Em sua primeira fase, em 2021, o Conecta levou Wi-Fi a 72 escolas da capital gaúcha, beneficiando 44.154 alunos e 2.650 professores. A ideia é avançar mais ainda no eixo da educação nos próximos quatro anos.
MD – Quais os setores que temos maior potencial de avançar e conseguirmos, de fato, sermos mais competitivos?
Simone – O agronegócio é responsável por 40% do PIB gaúcho. De 2019 a 2022, a SICT investiu mais de R$ 38 milhões em projetos na área, por meio de editais voltados ao desenvolvimento dos ecossistemas regionais de inovação e por meio das chamadas "tecnologias portadoras de futuro", que possuem alto poder disruptivo. Além disso, também promovemos o RS Innovation Agro, primeiro espaço exclusivamente dedicado à discussão do agronegócio dentro da Expointer, em parceria com a Federação Brasileira das Associações dos Criadores de Animais de Raça (Febrac) - enquanto eu era secretária adjunta. Neste espaço, lançamos o Inova Agro, primeiro edital de fomento exclusivo ao setor do agronegócio, com aporte de mais de R$ 7,5 milhões por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs). Portanto, é indiscutível que temos bastante potencial no agro, sobretudo no fomento à biotecnologia e à agricultura de baixo carbono. Além disso, despontamos, cada vez mais, como polo de inovação em saúde. Alinhados ao plano de governo da atual gestão do governador Eduardo Leite, também temos a visão de desenvolver a inovação na educação, tanto por meio de edtechs quanto por meio de programas de capacitação de professores.
MD – Quais as fortalezas do RS no âmbito da inovação?
Simone – Nossa fortaleza é o nosso potencial científico, nossos talentos profissionais. Temos 4% da população brasileira e concentramos 11,5% da produção científica nacional. Abrigamos 16 parques tecnológicos, temos dois living labs em implantação, somos referência nacional em inovação. Temos que avançar no fomento sistêmico do setor para reter os nossos talentos. Para além disso, precisamos avançar na relação da Inovação com a Educação Básica, como agente impulsionador da formação de nossos jovens, conectados com as necessidades do século 21.
MD – Estados que mais avançaram nessa lógica de construir ecossistemas de inovação robustos são os que conseguiram manter esse tema como estratégia de estado, não de governo. Você acredita que estamos avançando nessa lógica?
Simone – Sim, acredito que estamos. A ideia de orquestração do ecossistema, por meio da criação da Rede RS Startup, também caminha nessa lógica. As políticas públicas precisam ter visão de longo prazo, com impactos que perduram e criam o que chamamos de cultura da inovação. O South Summit Brazil, por exemplo, já caminha nessa lógica: vamos sediar o evento no RS por, pelo menos, mais cinco anos. Isso garante que a sensibilização para a importância do setor não fique restrita a apenas uma gestão.
MD - Está em curso a suspensão da liquidação da Ceitec pelo governo federal. Qual a importância da empresa para o Estado?
Simone – Tem uma possibilidade de importância estratégica muito interessante, principalmente por ser um ativo que nos diferencia e nos destaca no cenário nacional e internacional. Também é importante destacar que o Rio Grande do Sul possui outras estruturas e iniciativas que nos fortalecem na área de semicondutores. Acredito que deva ser um tema a ser discutido e analisado.