O lendário e incomparável jornalista e escritor Gay Talese nasceu em 1932 em Ocean City, Nova Jersey, e há mais de sete décadas exerce seu ofício em Nova York . É um dos principais e mais premiados jornalistas mundiais. Bartleby e eu ( Companhia das Letras, 336 páginas, R$ 99,90),traz ficção com tons memorialísticos ,uma reportagem sobre Frank Sinatra e um texto inédito sobre episódio estranho em Manhattan. Foi lançado há pouco e mostra um dos criadores do novo jornalismo ou jornalismo literário, em ótima forma. Pela Companhia Gay já lançou os livros Honra teu pai; A mulher do próximo; O voyeur; Vida de Escritor; Fama & Anonimato e O reino e o poder.
Bartleby e eu , texto que dá título à obra e que é a primeira parte, tem como fio condutor o genial conto Bartleby, o Escriturário de Hermann Melville, autor de Moby Dick. A partir do conto Talese reconstitui sua trajetória como narrador de vidas comuns. Na contramão da imprensa, prefere o anônimo à celebridade, o simples ao grandioso, o trivial ao extraordinário.
A segunda parte do volume, em forma de reportagem , traz a famosa entrevista que Talese fez com Frank Sinatra sem encontrar ou conversar com o astro. Talese ficou um mês em Los Angeles tentando ser recebido por Frank. Tomou chás de cadeira por causa da agenda e de um resfriado do cantor e encontrou a célebre saída: traçou o perfil de Frank sem falar com ele. Usou retratos de anônimos que o cercavam e batizou o texto de Frank Sinatra está resfriado. O texto é um dos mais famosos do new journalism e escancara o fascínio de Talese, mestre em contar histórias, pelos invisíveis mesmo ao tratar de celebridades.
A última parte da obra é uma reportagem inédita “ O Brown-stone do dr. Bartha “ que mostra a trajetória insólita de um médico imigrante que preferiu explodir-se com o predinho em que vivia a dividir a propriedade com a ex-esposa. A imprensa sensacionalista se fartou com o caso, Talese deu-lhe justa densidade trágica.
Talese disse “Nova York é uma cidade de coisas despercebidas” . Não para ele, claro.