Se o destino nos trouxer de volta ( Editora Planeta, 448 páginas, R$ 89,90 , tradução de Sandra Martha Dolinsky ) é o novo livro e sexto romance da autora best-seller Maria Dueñas , que vem sendo aclamada como uma das grandes autoras de língua espanhola da atualidade.
Maria estreou com o best-seller O tempo entre costuras em 2009, depois de duas décadas dedicadas à vida acadêmica.Escreveu também A melhor história está por vir ; As filhas do capitão e Sira , a continuação do grande sucesso O tempo entre as costuras. As obras venderam milhões de exemplares , cativaram leitores e críticos de todo o mundo, foram traduzidas para mais de 35 idiomas e adaptadas para séries de televisão.
Se o destino nos trouxer de volta traz a trajetória da jovem de nome falso Cecília Belmonte. Sozinha ela desembarca em Orã , uma cidade africana de raízes árabes, alma espanhola e governada por franceses, localizada na Argélia. À primeira vista Cecília atravessou o Mediterrâneo para fugir da miséria, como muitos outros espanhóis. Mas os verdadeiros motivos da jovem são mais sombrios. Abusada por um forasteiro que pediu abrigo na casa dos pais, ela o mata e foge na esperança de recomeçar a vida.
Sobrevive trabalhando duro nas colheitas, como lavadeira, doméstica ou operária em exaustivas horas nas fábricas. Certa madrugada envolve-se com um crime que acaba deixando-a aprisionada nas mãos de um homem desprezível. Sua força interior e coragem a salvam. Bem ao estilo internacionalmente consagrado de Maria Dueñas, a história é o retrato comovente da mulher que viveu o apogeu do colonialismo e o trágico fim da Argélia francesa, com muitas referências históricas e calcado em pesquisas. De quebra a obra faz um resgate da memória dos esquecidos pieds-noirs espanhóis , que , arrastados pela fome, pela guerra e pelo exílio, também fizeram parte daquele mundo.
Os 150 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul (CIPEL, 150 páginas), organizado e apresentado por Rafael Bán Jacobsen, presidente do CIPEL, traz textos de José Eduardo Degrazia, Jussara Nodari Lucena, Teniza de Freitas Spinelli e outros sobre fatos, pessoas e localidades da grande imigração que tanto somou, soma e somará para nosso Rio Grande.
A Lei Primordial (Editora AGE, 224 páginas), do consagrado médico e escritor Franklin Cunha, obra de ensaios que recebeu o Prêmio AGES - Melhor Livro de 2015, apresentada por Luiz-Olyntho Telles da Silva, Donaldo Schüler e Luis Fernando Verissimo, fala da origem dos humanos, natalidade, ciência, ponto G, viver 130 anos e outros temas relevantes, com gosto, humor e erudição.
E manchado de sangue terás que crescer - Uma vida de lutas (Minotauro, 412 páginas), de Christopher Goulart, neto do ex-presidente João Goulart, a partir do inquérito que apurou a morte do avô, apresenta um grande, sincero, emocionado e fundamentado memorial sobre sua vida, o avô, Brizola, Brasil, Londres, política nacional recente e outros fatos, pessoas e acontecimentos relevantes.
Se você não se liga nas redes sociais e no noticiário da imprensa tradicional, quase sempre catastróficos e altamente duvidosos, que andam por aí, é porque você morreu e talvez nem saiba. Te liga, bico de luz. Se você cai mansinho e sem saber nos algoritmos das redes, periga virar peixe e ser mergulhado em algum aquário deletério. Claro, você pode morar numa ilha deserta, tipo Robinson Crusoé, e ficar curtindo a natureza sem celular e outras telas, até que venha algum visitante te contar os horrores do planeta e tirar tua paz.
Disse o Karl Bernstein, aquele lendário jornalista investigativo norte-americano de 81 anos, que desvendou o Watergate com o colega Bob Woodward, de 82 anos, que o papel de um bom jornalista é oferecer aos leitores a melhor versão da verdade. Verdades existem muitas, isso é mais antigo do que a pergunta do Pilatos para Cristo, que, aliás, respondeu com sua presença e silêncio explicando para o Pilatos que a verdade era ele mesmo. Pois é, mas o Bernstein tem razão, é bom que o jornalista ofereça a melhor versão da verdade, para não dar tanto trabalho às retinas e ouvidos cansados dos fatigados leitores de nosso tempo.
Bah, desculpem esse baita nariz de cera e esse lero todo, mas o que eu quero mesmo é falar de um livro divertido, intrigante, instigante e cheio de verdades, escrito gostosamente em tom de farsa. Com O grande circo - Para entender as acrobacias da imprensa (Avis Rara, 192 páginas, R$ 64,90), Guilherme Fiuza, jornalista, escritor e roteirista e autor dos best-sellers Passaporte 2030 e Fala Brasil, publicados pela Avis Rara, presta grandes homenagens ao contorcionismo intelectual, à ginástica moral, à acrobacia semântica e ao verdadeiro circo que tomou conta da imprensa tradicional nos últimos anos.
O grande circo é o irmão impresso do Outra Coisa, programa de variedades no fim de semana, criado a pedido de Jairo Leal, fundador e diretor geral da Oeste. O quadro do programa intitulado Imprensa é a maior diversão, tornou-se bem mais do que um quadro, e a crítica da mídia ao pé da letra, mesmo com ironia, não deu conta de retratar o nível de distorção que já dominava o noticiário no Brasil e no mundo.
O tom farsesco e a licença do absurdo antes usado nas crônicas foi levado para o audiovisual e surgiu a bancada teatral do jornalismo mentira. Daí surgiu O grande circo. O narrador é um jornalista fictício que vai revelando a cada manchete sua técnica para manipular a informação. Através da farsa, do humor e da sátira, Fiuza nos faz pensar como as notícias têm chegado até nós. O atentado contra Donald Trump, a reeleição obscura de Nicolás Maduro, a carta dos Correios para o Gilberto Gil, o primeiro Oscar do cinema brasileiro e a nova onda de censura são alguns dos temas atravessados pelo livro, nesses tempos de "shownalismo", "jornartistas" e outras acrobacias, pirotecnias e atividades midiáticas circenses.
Então é o que temos para hoje. Se você não for para a ilha deserta e não conseguir largar o vício midiático que o intoxicou digitalmente e que está levando-o para prisões medievais, trevosas e virtuais de polarizações sem lado positivo, aproveite os fatos reais e as farsas do livro e, ao menos, se divirta com os bastidores muito loucos e com as manipulações travestidas de jornalismo. Em tempos de inclusão e de politicamente correto, você vai querer ser contra o transjornalismo? Desinformado é a mãe! Ah, saudades do Festival da besteira que assolava o País, o famoso Febeapá. Era melhor que esse Festival da Mentira que anda aí, nos tirando. (Jaime Cimenti)