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Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 10 de Julho de 2025 às 18:55

A Idade Média vista pelas mulheres excluídas

femina

femina

EDITORA PLANETA/DIVULGAÇÃO/JC
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Jaime Cimenti
A Idade Média - chamada de Idade das Trevas - ainda é vista como uma época sanguinária, de vikings, santos e reis: uma sociedade patriarcal que oprimia e excluía as mulheres. Estudando e observando melhor, se notará que o período não foi sombrio.
A Idade Média - chamada de Idade das Trevas - ainda é vista como uma época sanguinária, de vikings, santos e reis: uma sociedade patriarcal que oprimia e excluía as mulheres. Estudando e observando melhor, se notará que o período não foi sombrio.
Femina (Editora Planeta, 416 páginas, R$ 94,00), best-seller internacional da professora, escritora, pesquisadora e apresentadora Janina Ramirez, em síntese apresenta, com grande apoio em documentos, leituras e pesquisas, uma nova história da Idade Média, através das mulheres que ficaram de fora dela.
Janina foi atrás das mulheres relevantes na Europa medieval, porque é claro que elas existiram. Janina muda o foco para examinar a Idade Média e vai muito além dos registros oficiais para revelar o verdadeiro impacto de mulheres como Jadwiga, a única rainha mulher da Europa; Margery Kempe, que explorou sua imagem e história para garantir sua notoriedade; Hildegarda de Bingen, a maior sábia e polímata medieval; e Birka, uma guerreira viking cujo esqueleto havia sido atribuído a um homem, entre outras.
Janina desenterrou documentos históricos onde nomes de mulheres influentes estavam riscados com a palavra femina anotada ao lado. Janina mostra como foram as queimas de livros e a destruição de obras de arte para criar novas versões de mitos, lendas e registros. Os guardiões do passado tentaram manipular nossa visão da Idade Média, mas livros como o de Janina estão aí para novas visões da História e para lidarmos com as questões presentes.
Janina, na introdução, escreveu que não está reescrevendo a história e que usa os mesmos fatos, números, eventos e evidências que estavam aí para abordar o passado por meio das vidas e histórias de mulheres. Ensina Janina que mudou o foco, colocando personagens femininos, em vez de masculinos, no enquadramento. Como se vê, um livro ousado, original e realizado para encontrar perspectivas inovadoras e ignoradas.
 

lançamentos

cidade partida 30 anos

cidade partida 30 anos

ESTAÇÃO LIBERDADE/DIVULGAÇÃO/JC

Coleção Dose Única: Martha Medeiros e Luis Fernando Verissimo (Editora Vitrola,
R$ 119,90) traz, reunidos num box, em dois volumes de 94 páginas cada, textos e poemas dos dois grandes escritores e cronistas, em edição encadernada, com belas e modernas ilustrações em cores de Daniel Kondo e de Luis Fernando Verissimo.

Kitchen (Estação Liberdade, 176 páginas, R$ 56,00), de Banana Yoshimoto, romance lançado originalmente em 1988, foi o ingresso da autora como um dos maiores nomes da literatura japonesa atual. Na narrativa a jovem órfã, na cozinha, convida-nos a abraçar a nossa solidão. No volume está também o conto Moonlight Shadow, tratando de luto e do último adeus.
Cidade Partida - 30 anos depois (Editora Pallas, 224 páginas, R$ 63,00), com organização de Elisa Ventura, Isabella Rosado Nunes e Mauro Ventura, traz artigos e entrevistas sobre o antológico livro Cidade Partida, do grande escritor e jornalista Zuenir Ventura. O Rio de Janeiro, suas belezas, suas feiuras, suas inseguranças , caminhos e descaminhos são abordados com paixão, objetividade e intensidade.

Barão de Itararé numa hora dessas?

Definitivamente, para não surtar de vez nessas horas nacional e mundial, só lembrando o saudoso Barão de Itararé, na vida real Aparício Fernando de Brinkerhoff Torelly (1895-1971). Itararé foi uma operação militar planejada durante a Revolução de 1930, que terminou sem confronto, bem à moda brasileira. Torelly, com seu título de nobreza fake, homenageou, com sua generosidade, para a posteridade a pompa militar e as falsas grandiosidades da política.
O Barão, nascido em Rio Grande, é o vovô mais querido, inteligente e hilário do humor político no Brasil. Por suas sátiras, ironia, inteligência e ideias políticas, foi preso vários vezes. Numa delas levou uma surra quando estava em Cannes. Quando voltou para a redação do seu lendário jornal A Manha, colocou, com cautela e esperança, na porta, o aviso: "Entre sem bater". Não deve ter adiantado. O aviso deveria seguir atual como o Barão, nesses tempos em que piada pode colocar humoristas no xilindró.
O Barão não era de "centro" e nem de "centrão", mas disse, com sabedoria matreira, só de brincadeira: "Haja o que houver, aconteça o que acontecer, estarei sempre ao lado do vencedor". "Negociata é todo bom negócio para o qual não fomos convidados", "Política é a arte de obter votos dos pobres e fundos dos ricos, prometendo proteger uns dos outros" , "A injustiça, num lugar qualquer, é uma ameaça à justiça em todo lugar" , "A única coisa que cresce no Brasil é o anão", "A televisão é a maior maravilha da ciência a serviço da imbecilidade humana", "Não é triste mudar de ideias. Triste é não ter ideias para mudar", "A dúvida é o preço da inteligência", "Quem não muda de opinião é idiota ou está morto", escreveu o Barão .
Nem me pergunte se o Barão é atual. Ele e seus aforismos, frases, mínimas e máximas estão vivos e fulminantes como o sol desta manhã. Disse ele: "Há chácaras que evoluem até chegar ao estado de sítio", "Este é um país que vai pra frente. O problema é que estamos de costas", "Há algo no ar além dos aviões de carreira", mais frases do homem que deve ter perdido muitos amigos, mas com certeza ganhou muitas piadas. O Barão chegou a ser eleito vereador do Rio de Janeiro, mas foi cassado meses depois, após seu partido, o Partido Comunista, ter sido declarado ilegal.
Desde a cassação, 1948, até morrer em 1971, com 76 anos, adoentado, sem medalhas, sem mansão e sem dinheiro e ser velado e enterrado com dignidade, na companhia de amigos, colegas de imprensa, pessoas "comuns" e celebridades, o Barão trabalhou, escreveu e deixou uma última piada: "Se for verdade que há vida após a morte, vou tentar publicar um jornal lá também. Mas, por via das dúvidas, deixei umas charges prontas aqui."
Barão foi, mas ficou. Riu por último. Ficou na boca dos descontentes , nas pautas dos cronistas, na internet que ele não conheceu. Morreu sem pompas fúnebres, discurso de político e carro oficial. Sua herança foi a saudável rebeldia, a graça que colocava onde não havia graça e a velha receita de que rir é o melhor remédio.

a propósito...

Sempre vou lembrar do que o grande escritor, jornalista e ativista político israelense Amos Oz, grande pacifista , disse em Porto Alegre: as melhores pessoas são as curiosas e as bem-humoradas. Fanáticos, radicais e mal-humorados não interessam. Só interessam para a que a gente veja como é que não devemos ser, pensar e agir. São exemplos negativos, seres que contaminam a vida, as relações e o planeta. Melhor ser Charlie Chaplin, chorar das próprias dificuldades e trapalhadas disfarçando as lágrimas na chuva e seguindo adiante feito um Johnnie Walker, na direção do infinito. Obrigado por tudo Barão, mestre, muso e inspirador. (Jaime Cimenti)

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