A Inteligência Artificial (IA) veio para ficar e é normal, diante de sua natureza e amplitude, que opiniões controversas tenham surgido sobre essa nova tecnologia de trabalho. Há quem diga que quem não souber utilizar a IA pode ser superado por aqueles que a dominam. Muitos dizem que a IA vai suplantar os humanos e outros pensam que os humanos vão comandar a IA.
Cointeligência (Editora Intrínseca, 224 páginas, R$ 59,90), do professor universitário Ethan Mollick, da faculdade de Wharton, grande especialista em inovação e empreendedorismo, com linguagem clara e didática, nos estimula a viver e trabalhar com a IA de modo mais produtivo e prazeroso possível.
Em novembro de 2022, a primeira IA de propósito geral capaz de se passar por um ser humano e desempenhar o tipo de trabalho criativo e inovador antes reservado aos humanos invadiu nosso mundo e nosso dia a dia. Ethan entendeu que o ChatGPT representava, depois de milhares de anos do homem no planeta por conta própria, uma espécie de cointeligência que poderia aumentar, ou até substituir, o pensamento humano.
Neste livro, o autor nos instiga a interagir com a IA como colega de trabalho, professora e mentora. Ele avalia o impacto profundo da IA nos negócios e na educação, por meio de dezenas de exemplos, e demonstra o que significa pensar e trabalhar junto de máquinas inteligentes. Ele nos convida a dominá-las.
Na primeira parte da obra o autor fala sobre criar mentes alienígenas, alinhar o alienígena e apresenta quatro regras para a cointeligência.
Na segunda e maior parte do livro, Ethan trata da IA como uma pessoa, como elemento criativo, como colega de trabalho, como tutora, mentora e a IA como nosso futuro.
No epílogo, intitulado IA como nós, ele convidou a IA para escrever, achou o texto bem brega e disse que, por mais poderosas que as IA sejam, elas devem ser apenas cointeligências e não mentes autônomas. Ethan diz que os humanos ainda estão longe de ser obsoletos. Ao menos por enquanto.
Enquanto escrevo, os pequenos algarismos do canto da tela deste computador me mostram que o tempo está irremediavelmente passando - e rápido - como faz desde sempre e como fará até o final dos tempos, sem dar a mínima para nada e ninguém. Não tenho a menor intenção ou a ilusão de buscar ou recuperar tempos perdidos, congelar os instantes presentes ou eternizar os momentos do futuro que ainda não chegaram e nem sei se vão chegar.
Escrevo tentando colocar um pouco, ao menos, de ordem no caos deste cotidiano pós-moderno difícil de organizar nas gavetinhas de nossas cabeças. É muito vale-tudo, falta de referências sólidas ou duradouras, falta de humanidade da boa e muita coisa mais. O cronista biografa o tempo e os grandes e pequenos acontecimentos da vida. Uso o tempo, os segundos, os minutos, horas, dias, semanas, meses, anos, décadas, calendários e aniversários para tentar organizar a vida, que está mais para quadro surrealista do Dali do que para teorema matemático. Machado de Assis disse que matamos o tempo e que ele nos enterra. Mario Quintana escreveu que o tempo é só um ponto de vista dos relógios, mostrando que poetas são as antenas da raça e vêem mais longe.
Já vivi mais de sete décadas e espero viver uns mais vinte ou trinta anos. Já li várias vezes o Eclesiastes, belíssimo livro da Bíblia que traz a sabedoria do Rei Salomão, e ali está muito bem escrito que existe tempo para tudo. Tempo de nascer e morrer, de plantar e colher, tempo de matar e curar, de derrubar e construir, tristeza e alegria, choro e dança, de abraçar e de se afastar, de economizar e desperdiçar, tempo de rasgar e de remendar, tempo de procurar e de perder, tempo de ficar calado e de falar, tempo de amar e odiar, tempo de guerra e de paz. Depois de refletir sobre vida, tempo, poder, dinheiro e sabedoria, Salomão diz que, ao fim de tudo, o melhor é procurar ser feliz e viver o melhor que puder. Melhor deixar para lá certas ilusões, vaidades, riquezas e outras mazelas humanas. Melhor viver, deixar viver e dar vida ao mundo e aos outros da melhor forma possível, antes que se ouça o som do apito final. E lembre-se de que as pessoas somente morrem mesmo depois que ninguém mais lembra delas.
É bom lembrar que, na mitologia grega, o deus Cronos é a quantidade de tempo, os minutos, horas e dias e que o deus Kairós é a qualidade do tempo, o tempo da alma, o tempo dos momentos, mesmo fugazes, que ficam. É quando a música nos arrepia, um olhar que muda tudo e um tempo ligado ao espírito, a Deus.
Então devemos nos libertar um pouco, ao menos, do tempo de Cronos, cobrando prazos, boletos, impostos, reuniões e agendas e aproveitar mais o tempo de Kairós, que pode ser curto mas que é mais presente, intenso e inesquecível. Kairós não tem hora certa para chegar, às vezes se atrasa, mas sempre acaba aparecendo. Não é má ideia convidar os dois para jantar e tomar um vinho que vai eternizar a noitada. Sim, e deve ser o vinho aquele que sabe mais que sua biblioteca ou seu Curriculum Lates de cinquenta páginas.
Líder Trekking - O executivo e o professor do Vale do Pati (Editora Conectomus, 216 páginas, R$ 67,00), de Cezar Almeida, executivo, economista, empreendedor, investidor anjo e palestrante , narra a jornada do CEO Tino, do competitivo ramo farmacêutico, junto com pessoas em meio à natureza, onde busca eficiência operacional, inovação e novas formas de vida e liderança.
Bololô - Gaiola Vazia (Editora Senac Rio, 216 páginas, R$ 30,00), de Ricardo Maurício Gonzaga, escritor, professor universitário, artista plástico e performático, é o romance vencedor do Prêmio Sesc 2024. É uma narrativa da ausência, com personagens ensimesmados, que aos poucos se expõe. Uma criatura composta de restos de coisas vivas, um lago e muito mais compõe essa narrativa diferente, estranha, na qual há um narrador intrusivo.
O bolo do sim (Editora AGE, 144 páginas), de Beto Carvalho, especialista em marketing, vendas e inspiração de pessoas, palestrante e escritor de vários best-sellers como A azeitona na empada, fala de emoção e negociação. Clovis Tramontina disse no prefácio: "Prepare-se. O que você encontrará aqui não será apenas leitura, mas vivência. E, como tudo que é verdadeiro, isso poderá mudar sua forma de ver a si mesmo e o mundo."
Nestas últimas décadas, o mundo nunca mudou tanto e tão rápido. A velocidade da passagem do tempo e da vida aumentaram e, nas redes sociais, não estamos mais presentificados. Estamos já futurizados, vivendo o adiante, meio desfocados e envoltos nas "relações líquidas" faladas por Zygmunt Bauman. Relações com falta de solidez, profundidade e duração. Acho que ainda dá tempo de atrasar um pouco os relógios, viver mais presencialmente e ter consciência mais calma do momento, das relações e do que a gente anda pensando e fazendo. Ou será que já era? (Jaime Cimenti)