As dinâmicas tradicionais do capitalismo não governam mais a economia. O que destituiu esse sistema foi o próprio capital e as mudanças tecnológicas aceleradas das últimas duas décadas, que, como um vírus, destruíram seu hospedeiro. Agora, uma nova dinâmica se constrói com as bigtechs no centro da transformação. O livro Tecnofeudalismo - O que matou o capitalismo (Editora Planeta, 240 páginas, R$ 74,90), de Yanis Varoufakis, renomado economista e professor de Economia da Universidade de Atenas, trata justamente sobre esta teoria.
Yanis foi Ministro das Finanças na Grécia e, depois de renunciar ao cargo, cofundou um movimento internacional de base, o DiEM 25, que faz campanha pela revitalização da democracia na Europa. Ele lecionou nas universidades de Cambridge, Sydney e no Texas.
Yanis entende que os dois pilares que sustentavam o capitalismo foram substituídos: os mercados deram lugar às plataformas digitais, que são verdadeiros feudos das grandes tecnologias, e o lucro foi substituído pela pura extração de rendas. Diante desse cenário, ensina Yanis, o tecnofeudalismo é o novo poder que está remodelando nossa vida e o mundo, sendo, atualmente, a maior ameaça ao indivíduo liberal, aos esforços para evitar a catástrofe climática e à própria democracia.
Para o economista, a economia mundial é cada vez menos azeitada pelo lucro e cada vez mais pela renda das nuvens. "O capitalismo está esmorecendo como resultado de uma atividade capitalista próspera. Foi por meio da atividade capitalista que o tecnofeudalismo nasceu e está agora arrebatando o poder. Afinal de contas, como poderia ser de outra maneira?", resume Yanis, tentando nos ajudar a entender a bagunça mundial em que estamos.
A obra tem referências que partem da mitologia grega e vão até a cultura pop, explicando como o tecnofeudalismo escraviza nossa mente e reescreve as regras do poder global. Por fim, Yanis aponta como é possível tentar derrubá-lo.
Corrupção é coisa mais antiga do que a Sé de Braga, que andar a pé ou caçar javalis. Corrupção vai sobrevivendo, se metamorfoseando e se adaptando no tempo e no espaço feito uma barata asquerosa. Grupos de ajuda funcionam. Estão aí os Alcoólicos Anônimos, os Vigilantes do Peso, os Neuróticos Anônimos e outros tantos que mostram que seres humanos, juntos, podem fazer coisas boas. Está na hora da criação dos Corruptos Anônimos, para resolver de uma vez nossos problemas.
Corrupção, além de ser crime, é doença que afeta o elemento e a sociedade. Corrupção é inferno sem limites, muitas vezes até mesmo onde, no mundo, existem fortes limites para tentar diminuir, ao máximo, a compulsão de meter a mão no dinheiro público, como quem mete a mão na pia da água benta. Até nos países nórdicos e no Japão a corrupção segue. Que horror, na Suécia, uma ministra comprou uma barra de Toblerone com dinheiro público! Desviou uns oito dólares, para escândalo geral.
Corruptos não se contentam jamais. A praga é universal, doença crônica que, se não dá para curar totalmente, ao menos podia ser tratada diariamente. O combate à corrupção tem de ser cotidiano e permanente, como a luta contra os preconceitos de raça, classe, religião e sexo.
Pensando bem, só criando o grupo Corruptos Anônimos - CA, para enfrentar o mar infindável dos desvios de recursos públicos. Aí o Piketty nem precisaria escrever sobre desigualdades. Quem sabe os corruptos se reunindo em Versailles, no museu Vasa em Estocolmo, em alguma mansão na península em Brasília ou outros antros do planeta, possam curar-se da doença e purgar culpas e remorsos. Corruptos podem chegar, um a um, em carros discretos. Parece que o governador de Minas pensa em usar o Palácio Tiradentes como uma espécie de museu da corrupção, para ver se as coisas não se repetem.
Tomara que a corrupção acabe, que o ser humano demasiadamente humano pare de se achar melhor do que o vizinho e pare de querer se dar bem a qualquer preço. Nas reuniões do CA os mãos-grandes se dariam conta que estamos aqui de passagem, que não vale a pena acumular tanto e lembrar que a cana pode ser duríssima.
Nas reuniões poderiam ser exibidos filmes sobre Al Capone e outros chefões e, quem sabe, alguns encontros poderiam ser no cinematográfico presídio de Alcatraz, a Rocha, em San Francisco, com suas celas de cinco metros quadrados e regulamento de ferro, onde Capone passou uma longa temporada, até sair de lá por doença.
Quem sabe depois das reuniões os corruptos poderiam devolver o que tomaram da sociedade. Hospitais, escolas, delegacias e presídios poderiam ser construídos com as verbas. Ficaria todo mundo feliz. Os frequentadores do CA poderiam prometer ficar um dia sem roubar, dois dias, etc, ou então roubar só o suficiente para se mandar para o Caribe e sumir, sem causar danos maiores para a sociedade.
Porto Alegre: uma biografia musical - Volume 2 (Arquipélago Editorial, 256 páginas, R$ 89,90), de Arthur de Faria, consagrado músico, arranjador e compositor, traz a efervescência da música na Capital nos anos 1950/1970. Norberto Baldauf, Tulio Piva, Geraldo Flach, conjuntos musicais, Clube de Cultura, Adelaide's, festivais universitários e chegada do videotape estão na obra.
Água de maré (Pallas Editora, 192 páginas, R$ 59,00), de Tatiana Nascimento, cantora, compositora, escritora, tradutora e editora, é seu primeiro romance e foi vencedor do I Prêmio Pallas de Literatura. A narrativa profunda e poética sobre duas irmãs fala de temas como vidas negras, lesbianismo e reflexões existenciais, e dialoga com a epistemologia dos Orixás.
Thomas Sowell - Essencial: Sociedade, Economia e Política (Avis Rara, 288 páginas, R$ 59,00), seleção de um dos autores mais respeitados do mundo, teórico social, filósofo e economista, traz temas como impostos aos mais ricos, saúde pública, retórica política, o papel dos juízes, guerra e esportes. Sowell lecionou na Universidade Cornell, Amherst College e na Universidade da California.
Que se crie, então, o Corruptos Anônimos, para bem de todos, inclusive e, principalmente, para o bem dos que são portadores da doença, que sabem muito bem que caixão não tem gaveta e que neste mundo a gente só leva da vida a vida que a gente leva. Melhor seria não ser necessária a criação dos CA, mas por enquanto é o que temos. Uma piada antiga dizia que a diferença entre a caderneta de poupança e o corrupção é que as duas têm garantia do governo, mas que para a caderneta tem limite. Enfim, o sonho e o delírio são livres, que venha o Corruptos Anônimos, para cura geral. (Jaime Cimenti)