A cultura do cancelamento e do politicamente correto está abalando os alicerces de nossa civilização. O termo woke, literalmente, significava apenas acordar, despertar. Em vista da cultura e do ativismo woke, especialmente nas últimas décadas, o Dicionário Oxford definiu o termo com significado mais amplo: "woke é estar consciente sobre temas sociais e políticos." Mas as coisas não são tão simples, até porque o woke, assim como o pós-modernismo, não apresenta critérios muito definidos e tem provocado críticas de muitos setores, de centro, esquerda e direita e outros mais.
Corrupção da Linguagem, corrupção do caráter - Como o ativismo woke está destruindo o ocidente (Avis Rara - Faro, 160 páginas, R$ 44,90), de Nine Borges, Doutora em Educação pela UFRJ e crítica de ideias anticientíficas promovidas pelo pensamento woke, e Patrícia Silva, pós-doutora em Sociologia pela UFRJ, comunicóloga, pedagoga, influenciadora digital e escritora, é um consistente e contundente manifesto sobre a cultura do cancelamento e o advento do woke, e está sendo publicado em boa hora, quando o mundo anda às voltas com um ativismo forte e agressivo, que não respeita, no mais das vezes, quem pense, fale ou escreva contrariamente às frases feitas e dogmas do woke. A obra está bem fundamentada em textos acadêmicos e mostra como a demonização da opinião contrária está solapando as bases culturais, políticas e linguisticas do ocidente.
As autoras falam sobre o que é ativismo woke, origens, significados e raízes. Os terríveis mecanismos de operação do woke são abordados: corrupção da democracia, da linguagem, da ciência e do caráter. As autoras detalham igualmente a infiltração do woke nos movimentos sociais, como o movimento negro, o feminismo, transativismo e veganismo. Na parte final, as autoras mostram como encapsular o wokeísmo e buscar pensar além de esquerda e direita.
Para as autoras, o woke com o tempo perderá poder. Serão acolhidos os cancelados pelo autoritarismo, o ativismo e intolerância daqueles que se julgam superiores e melhores dos que os outros e que se acham donos das verdades.
Lançamentos
Maragatos & Pica-Paus: Guerra civil e degola no Rio Grande ( L&PM Editores, R$ 49,90, 132 páginas), clássico do jornalista e escritor Carlos Reverbel, traz a sangrenta Revolução de 1893,que durou 31 meses e deixou 10 mil vítimas - mais de mil por degola. Foi dos maiores conflitos no Brasil, com maragatos e chimangos em lutas políticas, econômicas e militares.
Vidas secas (Global Editora, 144 páginas, R$ 44,00), nova edição do clássico romance do grande jornalista e escritor Graciliano Ramos, com narrativa precisa e penetrante mostra, com destreza, os destinos de uma família sertaneja castigada pela seca, em busca de futuro melhor. Um casal, dois filhos e a cachorra Baleia vivem a saga retirante.
Pedagogia dos Orixás (Pallas Editora, 368 páginas, R$ 85,00), de Ivan Poli, professor, escritor, pesquisador e especialista em estudos de mitos iorubás e seus reflexos no Brasil, traz elementos para fixar novas relações culturais na construção de arquétipos de base em nossa educação, reconhecendo a base mítica de nossa matriz africana e os heróis negros.
E palavras
Orquestra Sanfônica Mundial
Não, queridos leitores, não estou falando de uma Orquestra Sânfonica Mundial, composta, literalmente, de sanfonas e sanfoneiros. Falo da não muito afinada e metafórica Orquestra Sanfônica Mundial integrada por gordinhos, gordos e gordões e de gordines, para ser policitamente correto. Como todo mundo sabe, boa parte dos obesos e dos que estão com sobrepeso , além de sofrer com o efeito estufa, sofrem com o efeito sanfona e vivem engordando e emagrecendo vida afora. Não é fácil.
Obesidade é doença crônica, multifatorial e muitas vezes se faz acompanhar de baixa auto-estima, ansiedade, depressão e outras moléstias. Os portadores da doença do prato são em torno de um bilhão no planeta e o número tende a aumentar.No mundo há mais pessoas morrendo por excesso de comida do que por falta. No Brasil 55% das pessoas estão acima do peso e 20% apresentam obesidade. Os números se aproximam dos índices dos Estados Unidos, onde a situação é ainda mais preocupante.
Órgãos públicos e privados se movimentam. Melhor prevenir a obesidade do que arcar com os prejuízos que a doença traz para a saúde física e mental e o bolso de todos, especialmente dos governos, nos vários níveis. Nosso Congresso Nacional deveria dar mais atenção ao tema, diante dos números gritantes, dos problemas atuais e dos problemas futuros que teremos se não encaramos a situação como ela merece.
As indústrias de medicamentos, a prestação de serviços de saúde e os fornecedores de outras mercadorias e serviços para os obesos obviamente estão atentos. Por vezes na mídia os interesses comerciais se sobrepõe aos interesses de prevenção e cuidados com a saúde pública. Há medicamentos para tratamento de obesidade bem caros e alguns chegaram a andar em falta, apesar de custarem, por vezes, centenas ou milhares de reais.
Notadamente nos últimos cem anos, o tratamento para obesos girava em torno de perder calorias comendo menos e adequadamente e praticar exercícios. Com consumo de alimentos ultraprocessados, sedentarismo e alguns hábitos alimentares pouco saudáveis, populações de muitos países ganharam peso a mais, como a dos Estados Unidos. O problemão de saúde esta aí, de caráter global . A Organização Mundial da Saúde está atenta ao problema mundial da obesidade e tem desenvolvido ações a respeito .
Medicamentos, cápsulas milagrosas de muitos tipos, tratamentos cirúrgicos e estéticos e dietas de vários tipos aparecem a todo momento, para ajudar ou iludir os obesos. O mercado, como se sabe, é grande e está aumentando. É preciso cautela, muita cautela, com tantas ofertas para emagrecimento rápido e soluções por vezes muito estranhas. Mesmo em relação a medicamentos para emagrecimento aprovados por órgãos competentes, é preciso cuidado, ouvir opiniões médicas confiáveis e , se for o caso, fazer exames clínicos periódicos para ver o andamento do tratamento com medicação.
A propósito
Quando, no Brasil, nossas refeições eram feitas sem alimentos processados e éramos menos sedentários, não tínhamos esses números preocupantes de sobrepreso e obesidade. É certo que, lá pelos anos 1970, o brasileiro vivia em torno de 55 anos, e hoje vive em torno de 75 anos, mas o arroz com feijão, bife, ovo, salada e batata funcionavam bem e até hoje compõem uma dieta saudável. Dormir bem, fazer exercícios e se alimentar de forma saudável é o tripé para viver mais e melhor. Quem sabe aí a Orquestra Sanfônica dos fofinhos fique no passado. (Jaime Cimenti)