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Jaime Cimenti

Jaime Cimenti

Publicada em 14 de Março de 2024 às 18:01

Tailor Diniz e os canibais da Rua do Arvoredo

os canibais da rua do arvoredo

os canibais da rua do arvoredo

EDITORA LUCENS/DIVULGAÇÃO/JC
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Jaime Cimenti
Em 1863, em Porto Alegre, na Rua do Arvoredo (Fernando Machado), um abominável fato ocorreu e foi chamado mundo afora de "o maior crime do mundo", registrado, inclusive, no caderno de anotações do naturalista Charles Darwin. José Ramos, açougueiro brasileiro, e Catarina Palse, a esposa húngara, matavam pessoas no porão de sua casa e, após, comercializavam a carne em forma de linguiças.
Em 1863, em Porto Alegre, na Rua do Arvoredo (Fernando Machado), um abominável fato ocorreu e foi chamado mundo afora de "o maior crime do mundo", registrado, inclusive, no caderno de anotações do naturalista Charles Darwin. José Ramos, açougueiro brasileiro, e Catarina Palse, a esposa húngara, matavam pessoas no porão de sua casa e, após, comercializavam a carne em forma de linguiças.
Os canibais da Rua do Arvoredo (Editora Lucens-Citadel, 208 páginas, R$ 57,00), romance mais recente de Tailor Diniz, consagrado e premiado jornalista, escritor e roteirista de cinema e TV, traz o casal do canibalismo passivo para nossos dias, em thriller empolgante. O homem é estudante universitário de Gastronomia e a mulher é estudante de Medicina.
Os dois vão morar na mesma casa dos antigos canibais e passam a ser possuídos pelos espíritos malignos deles. No porão eles encontram objetos que o açougueiro assassino utilizava para sacrificar suas vítimas. A partir daí muita ação vai rolar, e os canibais modernos vão produzir hambúrgueres de carne humana, que se tornarão cardápio gourmet de sucesso numa lancheria das proximidades.
Toda a narrativa é feita por um observador onipresente, que se apresenta como membro de uma organização internacional, globalista, cujo objetivo é dominar o mundo. "Tentei trazer uma história absurda de um século e meio atrás para dialogar com os absurdos que temos hoje, nestes tempos de redes sociais. Trato delírios atuais, como por exemplo, as pessoas que acreditam que na vacina contra a Covid é introduzido um chip através do qual a mente pode ser manipulada", disse Tailor para o jornal O Globo.
Com destreza narrativa, ritmo veloz, enredo envolvente, cheio de reviravoltas e descrições de atos ora violentos, ora sensuais e envolvendo ciência, história e outros acontecimentos deste século, o romance se torna ainda mais empolgante nos capítulos finais, quando explodem as revelações que não conto para não dar spoiler e tirar o enorme prazer que os leitores terão. Lançamento em 19 de março, às 19h, no Café Mal-Assombrado (rua Fernando Machado 513).
 

Lançamentos

Pavores de Fazbear - Mergulho na Escuridão e Caçador (Editora Intrínseca, 192 e 256 páginas, R$ 49,90), de Scott Cawthon, Elley Cooper, Andrea Waggener e Carly Anne West, são histórias inéditas e arrepiantes do universo de Five Nights at Freddy's, uma consagrada série de videogames que virou sucesso mundial.
Platão - Uma breve introdução (L&PM Editores, 144 páginas, R$ 37,00), de Julia Annas, professora da Universidade do Arizona, apresenta o pensador, um dos filósofos mais populares e impetuosos da Grécia, a partir dos seus conhecidos e cativantes diálogos, como Fedra, Banquete e República, este último sua obra mais lida.
Da sempre tua (Arquipélago, 192 páginas, R$ 59,90), de Cláudia Tajes, jornalista, roteirista e escritora, e Diana Corso, psicanalista e escritora, tem cartas das duas que falam, entre ficção e realidade, da condição feminina, de amizade, casamentos, beijos, graças e desgraças da vida. No final do volume, um ensaio de Diana sobre a importância íntima e coletiva das amizades femininas.

O Julinho

Tive o grande prazer de estudar no Colégio Júlio de Castilhos, o imortal Julinho, que no dia 23 de março completa 124 anos. Estive lá de 1967 a 1972, cursando o ginasial e o Clássico. Tínhamos aulas de filosofia, inglês e francês. O Julinho chegou a ter 7 mil alunos. Hoje tem 1050. Seu lindo prédio de arquitetura modernista de Demétrio e Enilda Ribeiro, que, com suas paredes envidraçadas, nos convidava a olhar para a realidade ali na praça e ter uma visão ampla do mundo, está precisando de manutenção. As matérias de ZH de 11/3, de Paulo César Teixeira e Sofia Lungui, sobre o Julinho são inspiradoras e instigadoras e nos animam.
Nosso colégio da democracia, da liberdade e da pluralidade e um dos nascedouros do MTG e do primeiro grupo ecológico de uma escola no RS, o Kaa-Eté, recebeu em suas salas Paulo Brossard, Brizola, Ibsen Pinheiro, Paulo Sant'Anna, Paixão Cortes, Barbosa Lessa, Ivette Brandalise, Moacyr Scliar e Joaquim José Felizardo, entre outros alunos que se destacaram na vida nacional e rio-grandense, levando adiante o espírito juliano.
Como disse o professor Leopoldo em discurso na frente do Julinho: "Este colégio não está está nas páginas empoeiradas da biblioteca, ele está presente e vivo nesta juventude vibrante". O espírito juliano de sonhos, lutas, criatividade, desejo de melhores pessoas, sociedade e mundo segue, apesar dos problemas que o nosso monumento cultural e educacional vem sofrendo. O prédio precisa de cuidados, o número de alunos precisa aumentar, quem puder ajudar, ajude.
Em certo momento, a direção mandou fechar o Grêmio Estudantil. Os alunos colocaram mesas e cadeiras na praça e disseram que ali continuaria o Grêmio, livre como os passarinhos. Não vou abiscoitar o nome de certo diretor, em honra a sua memória e familiares. Lideranças estudantis combativas como Luiz Eurico Lisboa, o Ico, irmão do cantor e compositor Nei, morto pelo regime militar em 1972, colocavam a escola na vanguarda da resistência.
Lutamos contra a compra (em loja indicada pela Direção) e uso de um certo uniforme, calça Topeka ou saia marrom e blusa sintética amarela. As meninas protestaram contra a proibição da minissaia. Vestimos o engraxate de estimação Adão com o uniforme do colégio, em protesto pela imposição do uniforme, que depois acabou sendo usado.
O privilégio dos alunos do Julinho era o de frequentar o 'Colégio Padrão' e, no mais, eles não tinham regalias, a não ser o fato de ter grandes professores, boa biblioteca e o privilégio de conviver com colegas pobres, classe-média, ricos e pertencentes a todas as etnias. No Julinho aprendemos a respeitar a pluralidade política, a diversidade, a democracia, a liberdade e as maneiras de ser de nossos múltiplos e diferentes colegas. O Julinho era de todos, por todos e cada um tinha que se virar da melhor forma para progredir na vida. Por muitos anos o Julinho, tanto quanto eu saiba, era dos colégios que mais aprovava no vestibular da Ufrgs.
 

A propósito

Tirando algumas inevitáveis recordações ruins que agora não quero lembrar e falar, eu sigo amando o meu Julinho e agradecendo por tudo o que ele, os funcionários, os professores e os colegas me deram. Mesmo fazendo o Clássico lá e de ter enfrentado o vestibular Unificado, que tinha matemática e ciências, passei no Direito da Ufrgs. O Direito da Ufrgs, aliás, tem espírito juliano, com fome de liberdade, democracia e mudanças boas. Bom lembrar disso tudo, nesse momento brasileiro com tanta agressividade, tantas divisões e problemas. Viva o espírito juliano, aquele que sempre aparece com alegria libertária e vontade de ir adiante.
 

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