Nenhuma dúvida de que uma das questões que há séculos intriga a humanidade é a seguinte: por que algumas nações são ricas e outras são pobres? Civilizações separadas pelo tempo e pela geografia mostram como houve poder, prosperidade e pobreza. É preciso estudar o que aconteceu e projetar o futuro a partir daí.
Por que as nações fracassam (Editora Intrínseca, 592 páginas, R$ 139,90), clássico moderno do economista Daron Acemoglu, premiado professor do MIT, e de James A. Robinson, cientista político e professor da Universidade de Chicago, especialista em América Latina e África, estuda com profundidade e criatividade as origens do poder, da prosperidade e da pobreza.
Por meio de uma teoria de base universal, os autores afirmam que as estruturas sociais criadas pelo homem são o que sustenta o sucesso econômico - e o fracasso - das nações. Os países só escapam da pobreza quando dispõem de instituições adequadas, com a preservação do direito à propriedade privada e da livre concorrência.
Para Acemoglu e Robinson, a probabilidade dos países desenvolverem boas instituições é maior quando contam com um sistema político pluralista e aberto, com disputa de cargos, eleitorado amplo e espaço para a emergência de novos líderes. Eles demonstram como algumas mudanças podem contribuir para instituições mais plurais, inovações progressistas e êxito econômico. Outras mudanças estabelecem instituições mais repressoras e extrativistas que levarão os países à decadência e estagnação.
Enfim, o livro, com exemplos de várias eras e partes do mundo, mesclando habilmente história, política e economia, enfatiza que só uma sociedade livre pode promover a inovação genuína e que a falta de liberdade promove a destruição criativa. Obra oportuna, bem embasada e profunda, ideal para leitura e aplicação nestes tempos em que buscamos caminhos nacionais e globais para um futuro melhor para nós e as futuras gerações.
Lançamentos
O ser médico - clínico ou cirurgião, do Dr. Fernando Pitrez, grande cirurgião aposentado da Santa Casa e professor da FFFCMPA, obra editada pela Irmandade da Santa Casa, com prefácio do Dr. Fernando Lucchese, retrata décadas de exercício intenso e apaixonado pela medicina. Exemplo para novas gerações.
Fotografias / Fotografias P&B (Editora Sulina, 184 páginas, R$ 150,00 cada), de Rosa MP Bastos, Procuradora do Estado aposentada e fotógrafa, tem fotos em preto e branco e em cores sobre amanhecer, entardecer, luz e nuvens - imagens que convertem coisas banais do cotidiano em belos momentos fotográficos.
Do Incisivo ao Canino (Editora Versiprosa, 120 páginas, R$ 40,00), de Bert Jr., escritor e diplomata, é a obra mais recente do autor e apresenta contos que têm como tema central a alteridade, tratando, com diferentes doses de humor, das complicadas relações pessoais.
Fanatismo
As atitudes e os exemplos dos nossos pais marcam mais do que as palavras ditas e escritas. Meu pai faleceu há 35 anos, e vive. Quando tinha dezenove anos participou como soldado na Segunda Guerra e achava que Mussolini era um comediante. Procurou sempre ser equilibrado e, além do modo como agia, me deixou palavras que ficaram. "Nada em excesso está certo, meu filho, a verdade está no meio." Nesse Brasil onde os compatriotas já foram mais pacíficos, lembro dele e de outro grande homem, jornalista e escritor israelense, Amos Oz, que faleceu em 2018.
Oz participou das Guerras dos Seis Dias e do Yom-Kippur e, na década de 1970, fundou, com outros, o movimento pacifista israelita/israelense Shalom Achschaw (Peace Now), buscando pela Solução de Dois Estados. Quando esteve em Porto Alegre, participando do Fronteiras do Pensamento em 2017, Oz disse que fanáticos não servem, que pessoas curiosas e bem-humoradas são as melhores e que a solução do conflito entre árabes e judeus seria a demarcação de territórios.
Infelizmente os conflitos continuam no Oriente Médio, na Rússia e em outros lugares. Nos Estados Unidos e no Brasil, só para dar dois exemplos importantes, polarizações seguem, com violências verbais, físicas, psicológicas e outros desentendimentos que, no fundo, são péssimos e por vezes deletérios para todos.
Como disse Ariano Suassuna, cujo pai foi assassinado quando ele era criança, "inteligência e fanatismo nunca moraram na mesma casa e não existe tirania que resista a uma gargalhada. Quando eu vejo que estou me levando excessivamente a sério, deixo o palhaço que tenho dentro de mim dar uma cambalhota".
A história já demostrou que posições de extrema direita, de esquerda e mesmo as de "radicais de centro", não funcionaram e não funcionam. Ao fim e ao cabo, ditaduras, censuras, golpes e outras tristezas da história humana não foram boas para os tiranos e muito menos para os oprimidos. No cemitério ou no vaso sanitário, todo mundo é igual.
Como curar um fanático, livro escrito por Amos Oz, com dois ensaios concisos e poderosos, oferece uma visão única sobre o extremismo e ensina que a guerra no oriente não é por causa de religião, cultura ou tradição e que, no fundo, é luta por território. Ele propõe saídas pacifistas e que se estude a perigosa predominância dos sentimentos sobre a reflexão. O que ele escreveu vale para lá e para o resto do planeta.
Ao longo da história, já tivemos vozes sensatas e pacifistas como Cristo, Gandhi, Luther King, São Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Marechal Rondon, Mandela, Albert Einstein, John Lennon, Desmond Tutu e outros. Gandhi é considerado o maior pacifista do mundo. Como se sabe, houve morte na cruz, assassinatos, prisões e outras violências contra os pacifistas. Seres humanos são anjos e demônios e mesmo neste terceiro milênio, depois de tanto desenvolvimento científico e humano, parece que o caminho para almas pacíficas ainda é longo. O bem, o mal e por vezes a luta entre o certo e o certo seguem.
A propósito...
Apesar dos últimos acontecimentos no Brasil e no mundo, envolvendo violências e mortes, e mesmo com esse clima e esse céu enfarruscados, a gente precisa sair da cama de manhã e tentar fazer o melhor possível. Não está fácil. Já vivi quase sete décadas neste Brasil, que é mais fácil de ser amado do que entendido e explicado, mas preciso e tenho que ter esperanças na melhora da economia, no aprimoramento da democracia, nas soluções pacíficas e no que for melhor para o coletivo. Entre a realidade e a fantasia, os sonhos e os pesadelos, as mentiras e as verdades, melhor amor, conversa e soluções do que balas de revólver e é saudável que os poderes sejam realmente harmônicos e independentes entre si. E que os poderosos saibam que we, the people, somos seus donos e que devemos falar por último. Não esqueçam os poderosos que a vida é curta, passa depressa e que é melhor sair dela melhor do que quando nasceu - e lembrar, em especial, que caixão não tem gaveta.


Facebook
Google
Twitter