As 100 melhores lendas do folclore brasileiro, do escritor e tradutor porto-alegrense A. S. Franchini, traz a riqueza e a diversidade das lendas de nosso folclore na versão do autor. Franchini tem muita experiência com antologias. É coautor de
As 100 melhores histórias da mitologia; Deuses, heróis e monstros - as asas de Ícaro e outras historias da mitologia para crianças; As melhores histórias da mitologia egípcia; As melhores lendas medievais e Akhenaton e Nefertiti, todos lançados pela L&PM Editores. As 100 melhores lendas do folclore brasileiro mostra como nossas narrativas beberam em fontes indígenas, africanas e europeias e como o fantástico se uniu ao popular para recriar antigos relatos sobre a formação dos povos e do território brasileiro. A obra é dividida em três partes. A primeira trata de lendas indígenas, como o uirapuru, o batismo das estrelas, o surgimento da noite e a vitória-régia, e Franchini dedicou atenção especial às mesmas, pois entende que elas são o que nosso folclore tem de mais autêntico. Elas são desconhecidas da maioria dos brasileiros e esta é uma boa oportunidade para entrarmos em contato com a cultura de nossos ancestrais. A segunda parte do volume trata dos contos tradicionais populares, muitos adaptados de contos de fadas europeus ou de lendas africanas, como A moura torta, Aventuras de Pedro Malazarte e João Grumete. Nesta segunda parte figuram narrativas muito conhecidas como O Negrinho do Pastoreio e a fábula do coelho e da tartaruga. Na terceira e última parte da antologia estão perfis de seres muitas vezes assustadores, como a Mula sem cabeça, a Cuca e o Chupa-Cabra, clássicos como o Saci Pererê, o Boto, o Zumbi, o Curupira e o Lobisomem e outros menos difundidos, como o Gorjala, o Carbúnculo e o Anhangá. Como se constata, Franchini, contando essas lendas, faz uma longa viagem pelo mundo do fabuloso e do onírico e recupera histórias orais e folclóricas que fazem parte, há séculos, de nosso enorme repertório cultural. Como não poderia deixar de ser, nosso folclore pode ser definido como uma imensa obra aberta, enriquecida pela contribuição das mais diversas etnias. L&PM Editores, 128 paginas, R$ 38,00,
www.lpm.com.br.
E palavras...
Paulo Fontoura Gastal
Esses dias participei, com dezenas de pessoas da área cultural, de evento promovido pelo governador Tarso Genro e pelo secretário da Cultura Luiz Antônio de Assis Brasil. Falamos de muitas coisas e assuntos importantes: cultura, Mercosul, Fórum Social, para citar apenas os exemplos mais marcantes. Escrevo estas linhas para dizer que cometemos um esquecimento e aqui pretendo, modestamente, repará-lo. Não falamos de Paulo Fontoura Gastal, aquele homem que de uma forma ou outra deu espaço e forneceu inspiração para a maioria ou totalidade de pessoas que estavam ali. Gastal personifica o que de melhor tem a cultura gaúcha. Quando cheguei em casa naquela noite, me dei conta de que deveria ter dito que, quando se pensa em cultura, diversidade, liberdade, pluralidade, jornalismo competente e ético e outras coisas essenciais, deve-se sempre lembrar daquele homem tímido, chapliniano, discreto e correto que passou a vida nas redações e nas salas de cinema. A “mesa do Gastal” na redação do Correio não era apenas o posto de trabalho do maior crítico de cinema que tivemos. Era onde a cultura gaúcha e universal pousava: cinema, teatro, música, coral, livros, festivais, Feira do Livro etc, e depois alçava grandes voos. Gastal sozinho editava um dos maiores suplementos culturais do Brasil na época, o lendário Caderno de Sábado. Dava espaço aos novos e aos consagrados e procurava ser o mais democrático e plural possível, mesmo em tempos difíceis como foram os anos de chumbo. Sabia que o tempo era o melhor juiz, que era preciso dar oportunidades aos que estavam começando. Sabia que a arte é longa e a vida é curta. Desculpe aí, Gastal, se não falamos de ti no encontro. Talvez nem precisássemos falar, pois tu sabes que vives dentro de nós e nunca foste de aparecer por aparecer. Vives em nós que tanto te lembramos, admiramos e que tanto te devemos. Aí em riba, caminhando em direção ao infinito como nos finais dos filmes de Carlitos, sabes bem que a gente só morre depois que ninguém mais lembra da gente e que são ilimitadas as luzes da ribalta. Então, vida longa, campai, Calvero, Acácio, P.F., pai do Ney, esposo da querida Diná e homem de cultura incomparável. Desculpe a gente não dizer que não te esqueceu. Nem precisava, né?
Lançamentos
História da Literatura Brasileira – Da Carta de Caminha aos contemporâneos, do poeta, escritor e imortal da ABL Carlos Nejar, em edição revista e ampliada, em 1.104 alentadas páginas, cobre o já longo percurso de nossa literatura e enfoca grandes nomes como Machado de Assis, Erico Verissimo e Jorge Amado. Leya,
www.leya.com.
Gerard de Nerval: A escrita em trânsito, da professora-doutora Marta Kawano, capta os movimentos profundos da poesia de Nerval e relaciona-os com a vida boêmia e a existência errante do poeta e com o real e o sonho que marcam, também, a prosa do autor. Ateliê Editorial,
www.atelie.com.br, 256 páginas.
Preciosas coisas vãs fundamentais traz escritos e poemas do grande escultor carioca Sergio Camargo (1930-1990) com muitas ilustrações, organizados por Maria Camargo e Iole de Freitas, que assinaram o texto das páginas finais. BEÏ Editora, 242 páginas, telefone (11) 3089-8855.
A paciência da aranha, do genial escritor italiano Andrea Camilleri, traz o astuto comissário Montalbano em um caso que aparentemente seria apenas o sequestro de uma bela universitária, mas que vai fazer o velho policial pensar sobre si próprio, sobre lei, justiça etc. Record, 236 páginas,
mdireto@record.com.br.
E versos
Trumpet’s blues
O dia se foi.
A lua é um nada,
o vento é frio.
Passado, presente,
futuro - é isso:
cigarro aceso,
uma tosse no meio da praça,
um estalar de dedos na outra esquina
Então, lá no fundo,
no meio da cidade,
alguém começa a gritar
pelo bocal de um piston.
Sérgio Jockymann (1930-2011) em Poemas em negro, IEL, 1957