Imagine o leitor ter ido ao supermercado em 2006 com R$ 100. Hoje, para comprar os mesmos itens, precisaria de R$ 270. Isso é a inflação, definida como o aumento geral dos preços ao longo do tempo. Agora, imagine que seu plano de saúde, naquele mesmo ano, custasse R$ 100 mensais. Em 31 de dezembro de 2024, ele estaria em torno de R$ 427. A realidade, porém, é que, em porcentagem, o preço dos convênios médicos subiu 327% em 18 anos. É quase o dobro da inflação geral do País, que ficou em 170%. Os alimentos e as bebidas ficaram 276% mais caros; a alta da educação foi de 203%; e os gastos com habitação subiram 176%.
Esses contrastes se extraem de dados de uma nota técnica do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (IEPS). Com sedes em Brasília, São Paulo e Rio, ele é uma organização sem fins lucrativos, independente e apartidária. Objetivos: contribuir para o aprimoramento das políticas públicas para a saúde no Brasil. O estudo observou o crescimento do custo dos planos de saúde no bolso dos brasileiros. Em dezembro de 2006 eles representavam 3,25% do orçamento das famílias com rendimento entre 1 e 40 salários mínimos. Em dezembro de 2024, os planos ocupavam 4,06%. Conforme o IEPS, o aumento atribui-se a três fatores: a) incorporação de tecnologias mais caras; b) reajustes autorizados pela Agência Nacional de Saúde (ANS); c) ineficiências regulatórias. E também: a população está envelhecendo e vivendo mais, o que significa mais consultas, mais exames e mais tratamentos de longo prazo.
A ANS - simplória e simpática às operadoras - apontou que "em vários países os custos em saúde crescem a taxas superiores à variação média dos demais preços da economia". Nesse cenário, segundo ela, há a tendência de que uma parcela maior da renda seja comprometida com gastos de assistência à saúde. O estudo do IEPS confirma esta inclinação e mostra que os planos de saúde vêm ficando mais caros do que a inflação em várias partes do mundo. E, óbvio, o Brasil está entre os países com os maiores aumentos, superando a inflação geral em maior grau do que em países como Alemanha, França e Estados Unidos.
O leitor do Espaço Vital certamente lembra de já ter visto aqui que o lucro líquido dos planos de saúde, no 1º trimestre deste 2025, subiu 114% e alcançou R$ 7,1 bilhões. As operadoras já tinham alcançado lucro líquido de R$ 11,1 bilhões em 2024, um aumento de 271% na comparação com 2023. São os maiores resultados da série histórica do sobe & sobe. Entrementes, nosso bolso encolhe & encolhe...
Idôneo ou inidôneo ?
Um caso raro e polêmico na pauta do Conselho Seccional da OAB gaúcha da tarde desta sexta-feira. A decisão se o bacharel em Direito Guilherme da Rocha Zambrano obterá, ou não, a inscrição para atuar como advogado.
Em março de 2024, Zambrano foi aposentado compulsoriamente do cargo de Juiz do Trabalho por condutas graves. Claro, ele continua mensalmente recebendo seus proventos como se estivesse em plena atividade. Mas isso é outra história.
O Brasil é assim mesmo...
Dinheiro em causa própria... O Tribunal de Contas de Sergipe decidiu, na sexta-feira da semana passada, pagar até R$ 2,2 milhões ´atrasados´(?) por conselheiro. Eles aprovaram pagamento milionário para... si mesmos - são 16 integrantes e procuradores.
O penduricalho é o já notório "AJU - acúmulo de jurisdição". Criação original do Judiciário, o acréscimo é dado a magistrados que atuam em processos de mais de uma vara judicial. E está se estendendo aos tribunais de contas. Todos nós pagamos a conta.
É bom lembrar que ...
Os Tribunais de Contas não são órgãos do Poder Judiciário, mas do Poder Legislativo. O trabalho deles é a fiscalização da aplicação dos recursos públicos por parte dos governantes.
A regra é que o controle externo, a cargo das Assembleias Legislativas, seja exercido com o auxílio dos Tribunais de Contas dos Estados. Essa expressão não significa, entretanto, uma subordinação orgânica ao parlamento estadual.
Quatro golpes por minuto
Em 2024, o Brasil teve 2,7 milhões de golpes. Dados do Anuário de Segurança Pública registraram o crescimento de 7,8% nos casos de estelionato. O aumento é puxado pelos crimes aplicados no ambiente virtual: quatro casos por minuto. Em 2023, os estelionatos registrados no País foram 1,96 milhão. Correspondem a 8,2% a mais do que 2022 (1,81 milhão). E o total pode ser maior, pois nem todos os delitos dessa natureza são registrados.
O estudo reforça a tendência da crescente preferência dos bandidos por esses golpes, sobretudo os virtuais. É que a modalidade oferece menos risco a eles do que o roubo na rua e, muitas vezes, retorno financeiro é imediato e maior. Os fatores do incremento: a popularização das redes sociais, o uso massivo do Pix, de aplicativos bancários e de plataformas de apostas como o Jogo do Tigrinho.
A considerar que poucos são presos - e menos ainda condenados.
Ilustrí$$imo privilégio
Penduricalhos não são privilégios do Judiciário e do Ministério Público. A cidadania tem que se ligar também no controle dos gastos com o "cotão", que é um extra de até R$ 51 mil por mês para deputados federais e senadores. Oficialmente chamada de "cota para o exercício da atividade parlamentar", a verba foi ajeitada para custear várias despesas. O valor varia conforme o Estado do parlamentar, mas na Câmara vai de R$ 36 mil mensais (para quem foi eleito pelo Distrito Federal) até R$ 51 mil (para quem é de Roraima). Mas eventualmente é usado para despesas em restaurantes de luxo.
Anotem: a grana é destinada ao custeio com alimentação, hospedagem, cursos, segurança, aluguel de carros, combustível, aluguel de escritório de apoio ao mandato do parlamentar no Estado de origem e impulsionamento nas redes sociais. Se o gasto tiver conexão com algum desses temas, não é preciso prestar maiores esclarecimentos. Basta a prestação de contas do quanto foi gasto e em qual empresa. E fim de papo.
Futuro comprometido
Por mês, no mínimo três jovens brasileiros morrem em atividades laborais no País. De 1º de janeiro de 2007 a 31 de maio deste 2025, foram 415 mortes de menores em ambientes de trabalho. Entre estes, crianças com menos de 13 anos. No ano passado, foram 42 mortes de crianças e adolescentes. E pelo menos 15 ficaram feridos diariamente em trabalhos perigosos e insalubres proibidos para menores de 18 anos. Os dados são do Sistema Nacional de Agravos de Notificação (Sinan), do Ministério da Saúde, compilados pelo Ministério Público do Trabalho e a Organização Internacional do Trabalho. Os serviços de saúde são obrigados a notificar esses acidentes.
Esses casos com crianças e adolescentes aumentam desde 2020. Até mesmo no emprego formal, com o menor atuando como aprendiz, com carteira assinada, há mortes: foram quatro no ano passado. E sete acidentes com feridos por dia. Os casos por ano caíram de um ápice de 3.722 em 2013, para 1.460 por ano em 2019. Mas voltaram a crescer em 2020. E em 2024, saltaram para 5.629.