Tão bonito e tão cheio. O "outro lado" do Rio Tramandaí visto da ponte que liga a Imbé mostra que ele está bem cheio, em parte pelas chuvas da descida do rio, em parte pela ressaca do mar que o represa.
Mesmo com o rio cheio e com fortes ventos e temperatura baixa, alguns poucos pescadores de sardinhas tentaram a sorte. Fiquei na área um bocado de tempo e não vi nenhuma sendo içada. Mala suerte.
Nenhuma palavra, frase, nenhum livro ou biblioteca do mundo consegue explicar quanta dor está na frase mais repetida entre os que perderam tudo, da casa ao emprego, da alegria que não voltará e do bom humor perdido levado pelas águas: do que eu vou viver agora?
O melhor modelo matemático que existe para prever a alta e a baixa das enchentes são os barqueiros veteranos. Sabem tudo das barrancas, o ir e voltar das águas. Só quem nasceu nestas localidades sabe isso. Só precisa centralizar as informações, que poderia ser tarefa das prefeituras.
Ao ser questionado na televisão sobre a água que entrou pelas frestas do Muro da Mauá, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, explicou que não foi aquela pequena quantidade de água que inundou a cidade. Tem a Usina do Gasômetro e os diques, estes sim que não deram conta. Às vezes, temos a pretensão de entender o todo pela parte.
Depois de um dia chuvoso, mas nem tão frio assim, comum no Litoral, Tramandaí amanheceu com um sol esplendoroso, que começou a desmaiar mais tarde. Quem levou seus pets para a praia pôde constatar a alegria dos bichos se refestelando ao sol. Já os gatos preferem dormir iluminados pelo astro-rei.
Procuro uma boa cafeteria no Centro de Tramandaí. Nos moldes das que existem em Porto Alegre, são poucas ou nenhuma. Passo por uma sorveteira e vejo torneiras como as de café expresso.
Ao chegar mais perto, desilusão, são biqueira de sorvete mesmo. Burro. Vendo meu ar de desapontamento, a atendente pergunta o que quero. Digo. Seu rosto se ilumina.
- Ah, mas temos café passado! Pena que não tenho expresso.
Melhor, respondo, gosto mais do passado. Passados cinco minutos, me vejo feliz como pinto no lixo.
Puxo conversa com um casal de meia idade. Papo vai, papo vem, eles perguntam de onde sou. Assim como respondo e começo a narrar meu drama com a falta de água, ele me corta.
- Sabemos bem. Nós também somos de Porto Alegre. Moramos na Rua da Praia.
Mais não disse nem lhe foi perguntado.
Em comerciais, o governo federal se jacta pela ajuda que presta ao Rio Grande do Sul, cono se o dinheiro brotasse do Alvorada. Esquece que é o dinheiro dos contribuintes que ele usa. Não faz nada mais do que a obrigação.