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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 11 de Dezembro de 2025 às 19:10

Vingança

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Hélio Nascimento
A autocracia iraniana, seja como expressão de misoginia, seja como exemplo de regime voltado para o controle e o sufocamento de qualquer forma de crítica, tem enfrentado desde seu início uma oposição concentrada no cinema, através de filmes que a população do país não pode ver, a não ser de forma clandestina, e produzido, em vários casos, igualmente de forma a evitar qualquer forma de interferência estatal. É o único caso registrado de um ciclo cinematográfico no qual um grupo de cineastas contesta um regime repressivo e através de uma ação exercida pelo cinema coloca seu país entre os centros mais importantes, em determinada época, apesar do rígido controle estatal. São vários os casos de proibição e mesmo de prisão de realizadores empenhados em não se distanciar da missão de falar da atualidade e de mostrar as consequências na vida de cada pessoa de um regime voltado para um controle absoluto. No princípio, o ciclo cinematográfico iraniano se aproximou do mundo infantil, disfarçando ao focalizar crianças e seus conflitos com os pais e as regras do mundo adulto, sem esquecer seus sonhos e fantasias, antes de se tornar explícito como neste admirável e poderoso  Foi apenas um acidente, realizado por Jafar Panahi, o cineasta que em O espelho, registrou a revolta de sua protagonista, uma menina que espera os pais na frente de um colégio, retirando o véu   e dizendo não querer continuar trabalhando no filme. Panahi então transformava seu filme num documentário sobre a menina que interpretava o papel então recusado diante da câmera. Uma encenação ou algo imprevisto? O espectador tinha o direito de permanecer em dúvida, assim como os protagonistas do filme agora em cartaz, um dos melhores, talvez o melhor, dos filmes exibidos em Porto Alegre nos últimos tempos.

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