Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora
Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 04 de Setembro de 2025 às 19:28

A chave

Compartilhe:
Hélio Nascimento
Há diretores que procuram dar seu testemunho sobre a realidade atual de forma clara e de maneira a tornar o cotidiano portador daquilo que é essencial para a compreensão de um cenário onde vivem criaturas verdadeiras e não bonecos manejados de uma maneira a ser porta-vozes de um manipulador. E sempre serão aplaudidos os que sabem que cenas que evidenciam uma constante procura de momentos de impacto terminam causando monotonia e por isso buscam o equilíbrio. E merecem duras críticas aqueles que involuntariamente se deixam dominar pela grande facilidade que é ouvir aplausos de plateias reunidas para ouvir o óbvio desejável. Não apenas em comícios que a demagogia é utilizada. No cinema também. E sempre os resultados são lamentáveis. É fácil denunciar ditadores. Difícil e mais trabalhoso é revelar as causas dos regimes de força. Não há controvérsias quando são expostas deformidades e injustiças. Mas é exigido esforço, lucidez e honestidade para chegar ao ponto de origem das deformações. Darren Aronofsky, o realizador de Ladrões, pertence ao grupo que faz muito barulho por nada. Ele é daqueles que em vez de criticar a crise faz parte dela. Sua fixação no grotesco, seu gosto pela escatologia e sua fixação em deformidades são marcas de uma relação de filmes marcada por um exagero visível em todos os momentos.
Há diretores que procuram dar seu testemunho sobre a realidade atual de forma clara e de maneira a tornar o cotidiano portador daquilo que é essencial para a compreensão de um cenário onde vivem criaturas verdadeiras e não bonecos manejados de uma maneira a ser porta-vozes de um manipulador. E sempre serão aplaudidos os que sabem que cenas que evidenciam uma constante procura de momentos de impacto terminam causando monotonia e por isso buscam o equilíbrio. E merecem duras críticas aqueles que involuntariamente se deixam dominar pela grande facilidade que é ouvir aplausos de plateias reunidas para ouvir o óbvio desejável. Não apenas em comícios que a demagogia é utilizada. No cinema também. E sempre os resultados são lamentáveis. É fácil denunciar ditadores. Difícil e mais trabalhoso é revelar as causas dos regimes de força. Não há controvérsias quando são expostas deformidades e injustiças. Mas é exigido esforço, lucidez e honestidade para chegar ao ponto de origem das deformações. Darren Aronofsky, o realizador de Ladrões, pertence ao grupo que faz muito barulho por nada. Ele é daqueles que em vez de criticar a crise faz parte dela. Sua fixação no grotesco, seu gosto pela escatologia e sua fixação em deformidades são marcas de uma relação de filmes marcada por um exagero visível em todos os momentos.
Depois de profanar o mundo da dança em O cisne negro, filme superestimado e que transformava citações a Hitchcock em paródias involuntárias, ele atingiu um nível ainda mais baixo em Mãe, no qual a confusão predominava e o tumulto reinava. Eis o que o cineasta pretende: colocar em cena personagens perseguidos e agredidos sem saber a causa. Este ritual não é um defeito, mas o que se vê na tela e o que se ouve através da trilha sonora é uma tentativa ridícula de alguém pretendendo ser um Kafka do cinema. Os diálogos são pobres quando não ridículos e as situações de um artificialismo irritante. Um exemplo: os encontros do protagonista com um morador de rua. E Aronofsky é pretensioso. Tentando seguir Hitchcock ele vê na figura materna um poder controlador, algo que viva evidente na visita a casa dos dois irmãos e nos diversos telefonemas atendidos pelo protagonista, sempre concluídos com uma saudação que, disfarçada de amor por um clube, bem poderia ser classificada tão utilizada num país europeu dominado pelo mais cruel dos autoritarismos. No epílogo, a participação de uma atriz conhecida e sem o nome nos créditos, reforça o papel de tal tema na narrativa.
Aronofsky, pretendendo ser um Kafka ou um Hitchcock, apenas confirma não merecer tal companhia. Não leu de forma correta o primeiro e apenas sabe copiar certas ideias do segundo. E nem engraçado sabe ser como na cena em que, citando alguns clássicos, já satirizados em outros filmes, faz um agonizante reconhecer o erro cometido ao fazer o protagonista dirigir um carro. E ao colocar como vilões agressores de várias origens procura mostrar que no mundo atual se torna difícil separar culpados e inocentes. Isso na visão dele, pois há valores que mesmo não respeitados por envolvidos em conflitos devem ser lembrados por narradores. Mas merece menção o fato de no filme nem os defensores da sociedade estão imunes de infiltrações reveladoras. E há também, além de uma chave procurada por todos, um gato que é testemunha e, de certa forma, também prisioneiro. E como sabem todos não deveria ser tão calmo em tal confusão. No final, os perseguidos são recompensados por merecidas férias. E a mãe se torna, também ela, uma milionária, pois o filho termina se comportando com a esperada generosidade. Tudo sob o olhar do gato, juiz do comportamento humano. Quem desejar ver como parte do cinema atual, aquele setor comprometido com grande movimento de público, se comporta e procura impor seus valores verá no filme um exemplo eloquente de como uma arte pode ser usada de forma a se transformar em instrumento destinado a manter superficialidades no posto mais alto. Um retrato involuntário de uma época. Porém há outros filmes que formam o indispensável núcleo de resistência.

Notícias relacionadas