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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 26 de Dezembro de 2024 às 19:32

Clint Eastwood, Maria Callas e outros

'Jurado Número 2', de Clint Eastwood, deve ser último filme do cineasta de 95 anos

'Jurado Número 2', de Clint Eastwood, deve ser último filme do cineasta de 95 anos

WARNER BROS/DIVULGAÇÃO/JC
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Hélio Nascimento
A decisão da Warner de lançar o novo filme de Clint Eastwood, no Brasil e em outros países, apenas no streaming tem recebido muitas e merecidas críticas. Exibir um filme de um dos mais importantes cineastas americanos na tela inapropriada é um exemplo claro que os novos executivos da empresa, no mínimo, são pessoas desrespeitosas e que sabem pouco da história do cinema. Como o filme anterior do cineasta não alcançou nas bilheterias o nível exigido pela companhia, o novo trabalho, O Jurado Número 2, foi tratado como algo descartável.
A decisão da Warner de lançar o novo filme de Clint Eastwood, no Brasil e em outros países, apenas no streaming tem recebido muitas e merecidas críticas. Exibir um filme de um dos mais importantes cineastas americanos na tela inapropriada é um exemplo claro que os novos executivos da empresa, no mínimo, são pessoas desrespeitosas e que sabem pouco da história do cinema. Como o filme anterior do cineasta não alcançou nas bilheterias o nível exigido pela companhia, o novo trabalho, O Jurado Número 2, foi tratado como algo descartável.
No entanto, nas primeiras exibições, num número limitado de cinemas americanos, um público numeroso compareceu e a recepção entre críticos tem sido das melhores. Na França, onde o filme foi lançado nos cinemas, a recepção também é ótima e a obra vista como uma das melhores do realizador, que está se aproximando dos 95 anos. Enquanto as fantasias dedicadas ao público infantil, um gênero sempre indispensável, dominam o panorama hollywoodiano, obras com outra finalidade estão sendo colocadas em segundo plano.
Autor de obras-primas como Os Imperdoáveis e A Menina de Ouro, para citar apenas dois títulos, o realizador agora focaliza o drama vivido por um personagem que, depois de ser convocado para integrar um grupo de jurados, passa a viver um drama inesperado, algo que permite a Eastwood colocar na tela o tema da justiça humana, algo presente em cada um de seus filmes. Resta também lembrar que até empresas que produzem diretamente para o streaming filmes realizados por diretores famosos costumam lançar, também aqui, alguns dias antes, nos cinemas, tais obras, pois sabem a importância que as salas continuam tendo, não apenas como divulgação e ampliação dos espaços, pois assim é permitida pelos interessados uma aferição correta do filme exibido.
Outro filme ameaçado de não chegar aos cinemas, pelo menos aqui, é Maria, o novo trabalho de Pablo Larrain. Trata-se de uma reconstituição de trechos da vida de Maria Callas, a grande soprano americana que foi idolatrada por Luchino Visconti. Para o cineasta de Rocco e seus irmãos e O Leopardo, Callas "foi um fenómeno teatral completo". O trabalho nos palcos do cineasta e da cantora resultou em espetáculos tidos como insuperáveis, principalmente uma La Traviata, ópera que Visconti dirigiu no Scala em 1955 e tida como o ponto máximo da carreira do mestre, que também se dedicou ao palco, numa trajetória tão vitoriosa como no cinema. Mas a relação da cantora, que também pode ser chamada de atriz, segundo Visconti, com o cinema não se limitou a seu encontro com este cineasta, pois ela foi a protagonista, numa atuação elogiadíssima, do filme Medéia, uma versão cinematográfica de Pier Paolo Pasolini da peça de Eurípedes.
As relações da ópera com o cinema foram muitas e provavelmente a maior deles continuará sendo por muito tempo a versão realizada por Ingmar Bergman de A flauta mágica, de Mozart. Muitos diretores foram fascinados pelo gênero, desde que Pabst realizou em 1931, A ópera dos três vinténs, de Weil e Brecht. John Schelesinger, Roman Polanski, Franco Zeffirelli e Joseph Losey também dirigiram no palco e no cinema óperas como O cavaleiro da rosa, Rigoletto, La Traviata e Don Giovanni. Woody Allen deixou sua contribuição com Gianni Schicchi, exibido quase clandestinamente em Porto Alegre, num daqueles festivais que antes eram mostrados aqui. Valioso é registrar que Sergei Eisenstein dirigiu no Teatro Bolshoi uma versão de A Valquíria. Angelina Jolie, que trabalhou com Eastwood em A troca, interpreta o papel principal em Maria.
Lista dos melhores do ano sempre causa controvérsias. Para uns, dez é muito pouco; para outros um exagero, tal o panorama pouco animador no mercado exibidor local. Escolher um seria algo arriscado. Mas se há um filme que refletiu com clareza o nosso tempo, este é Testamento, de Dennis Arcand. E talvez por olhar com mais atenção para a relação do homem com a natureza, O mal não existe, de Ryusuke Hamaguchi, também merece ser lembrado. E certamente Zona de interesse, de Jonathan Glaser, foi corajoso ao falar do maior dos crimes sem utiliza imagens e apenas através do som o colocar nas proximidades da civilização.
 

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