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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 04 de Abril de 2024 às 18:13

Crise

Filme Ervas secas, de Nuri Bilge Ceylan, teve escassas exibições em Porto Alegre

Filme Ervas secas, de Nuri Bilge Ceylan, teve escassas exibições em Porto Alegre

Divulgação/JC
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Hélio Nascimento
As exibições quase clandestinas de Ervas secas, de Nuri Bilge Ceylan, em Porto Alegre expressam com toda a clareza uma constrangedora realidade. Filmes destinados a explorar temas relacionados com a tarefa de colocar na tela comportamentos e atitudes que reflitam uma época, seus dramas e suas crises começam a interessar a um público cada vez menor. As causas são várias, entre elas o que se pode chamar de deficiente divulgação de obras de exceção, aquelas que, mesmo em menor número, sempre existiram e sempre tiveram interessados em vê-las. Sem qualquer traço de saudosismo, essa força negativa e sempre usada para tentar deter a marcha do tempo, apenas contemplando um cenário devastado por ações que poderiam ser passageiras, é possível afirmar que a realidade atual é pouco animadora. Há os pessimistas de sempre que costumam afirmar que o cinema foi feito para as multidões que costumam frequentar salas exibidoras quando estas oferecem produtos de fácil consumo e nada exigentes. Mas estes sempre existiram e nunca impediram que filmes como Cidadão Kane, Gritos e sussurros, O leopardo, Memórias do cárcere e Cinzas e diamantes encontrassem seu público. É verdade que o cinema, esta arte-indústria, não existiria sem os sucessos de bilheteria, alguns deles obras notáveis que souberam e ainda sabem conciliar com inteligência as duas tendências, algo que prova uma amplitude que aos poucos vai sendo diminuída.
As exibições quase clandestinas de Ervas secas, de Nuri Bilge Ceylan, em Porto Alegre expressam com toda a clareza uma constrangedora realidade. Filmes destinados a explorar temas relacionados com a tarefa de colocar na tela comportamentos e atitudes que reflitam uma época, seus dramas e suas crises começam a interessar a um público cada vez menor. As causas são várias, entre elas o que se pode chamar de deficiente divulgação de obras de exceção, aquelas que, mesmo em menor número, sempre existiram e sempre tiveram interessados em vê-las. Sem qualquer traço de saudosismo, essa força negativa e sempre usada para tentar deter a marcha do tempo, apenas contemplando um cenário devastado por ações que poderiam ser passageiras, é possível afirmar que a realidade atual é pouco animadora. Há os pessimistas de sempre que costumam afirmar que o cinema foi feito para as multidões que costumam frequentar salas exibidoras quando estas oferecem produtos de fácil consumo e nada exigentes. Mas estes sempre existiram e nunca impediram que filmes como Cidadão Kane, Gritos e sussurros, O leopardo, Memórias do cárcere e Cinzas e diamantes encontrassem seu público. É verdade que o cinema, esta arte-indústria, não existiria sem os sucessos de bilheteria, alguns deles obras notáveis que souberam e ainda sabem conciliar com inteligência as duas tendências, algo que prova uma amplitude que aos poucos vai sendo diminuída.
A vulgarização, visível e cada vez maior em diversos canais de comunicação, é robusta e difícil de ser contida, e isso se reflete em vários setores da sociedade. Heróis são os que ainda lutam pela conservação de clássicos e a exibição de obras contemporâneas que arriscam inovações e desafios. Por aqui, filmes de valor exibidos em outras capitais chegam com atraso - perdendo assim a oportunidade de adquirir vantagens com a divulgação em mídia nacional - ou nunca chegam, sendo desviados para a tela pequena, onde se misturam com as chamadas séries ou títulos sem importância. Por isso, às vezes, é a tela menor que oferece oportunidade para que títulos significativos sejam parcialmente conhecidos. Eis um fenômeno do qual os programadores de cinema têm certa culpa, ao colocarem filmes importantes em poucos horários, pois obras significativas são exibidas apenas em uma sessão. Houve época - e isso é apenas uma constatação - em que obras hoje clássicas eram exibidas várias vezes ao dia, durante semanas. Atualmente, foi quase um milagre que o filme de Ceylan tenha chegado ao nosso mercado exibidor.
É difícil, também, aceitar que certos programadores incluam, em sessões nas quais são exibidos filmes distantes da vulgaridade dominante, trailers de obras marcadas pela grosseria, pela gritaria e por aberrações que apenas espantarão espectadores que escolheram ver, por exemplo, Anatomia de uma queda. Aqueles que saíram de casa para ver um filme como este jamais irão ver o trabalho que tem algumas cenas exibidas antes do filme principal. Eis um exemplo claro da ausência de critério e de uma assustadora falta de inteligência. O cinema enfrenta, atualmente, vários problemas, desde a falta de segurança nas ruas até o uso de celulares durante a sessão, passando pela confusão gerada pela troca de filmes que são transferidos de sala no mesmo dia. E não falta mesmo, o que é assustador, a colaboração para a crise daqueles seduzidos pela programação colocada na tela reduzida, o que resulta em divulgação que supera àquela dedicada aos trabalhos em exibição em tela apropriada. Muitos dirão que este é um sinal dos tempos. E certamente estarão certos. Mas é um dever o posicionamento crítico diante de erros, omissões e rendições diante de um processo que levará apenas a um desastre de grandes proporções.
 

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