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Cinema
Hélio Nascimento

Hélio Nascimento

Publicada em 28 de Dezembro de 2023 às 17:41

Retrato de um regente

O Maestro, de Bradley Cooper

O Maestro, de Bradley Cooper

Reprodução/Netflix/Hollywood Forever TV
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Hélio Nascimento
No seu segundo longa-metragem como diretor, Bradley Cooper se revela um cineasta de méritos incontestáveis. Em primeiro lugar pela ousadia em levar à tela trechos importantes da vida de Leonard Bernstein, o primeiro maestro norte-americano a reger orquestras europeias. Foi ele, ao reger a Filarmônica de Viena numa integral das sinfonias de Gustav Mahler (1860-1911), que contribuiu de forma decisiva para o interesse mundial pela obra daquele compositor. Bernstein foi um maestro que se transformou num condutor que não se limitou a usar os braços e a batuta para orientar uma orquestra. Colocou a emoção a serviço da compreensão da obra a ser interpretada. Como era esperado, Cooper e seu roteirista Josh Singer deram destaque à interpretação de Bernstein da Segunda Sinfonia de Mahler, conhecida como Ressurreição. A parte final de tal obra pode ser vista e ouvida no Youtube sob a regência de Bernstein, numa interpretação emocionante, à frente da Sinfônica de Londres e o coro do Festival de Edinburg, numa gravação realizada em 1974, na catedral de Ely, Inglaterra. É a partir deste trecho que Cooper procura recriar no pódio a figura de Bernstein, tarefa impossível, é claro, mas exercida com esforço e respeito, depois das orientações do maestro canadense Yannick Nézet Séguin, que foi um dos integrantes da realização reunidos pela produtora, que contou também com a participação de Steven Spielberg e Martin Scorsese, que seriam os diretores, pensaram em Cooper para o papel principal e terminaram cedendo o posto para o cineasta da quarta versão de Nasce uma estrela, interpretada por Lady Gaga, o primeiro filme do novo realizador.
No seu segundo longa-metragem como diretor, Bradley Cooper se revela um cineasta de méritos incontestáveis. Em primeiro lugar pela ousadia em levar à tela trechos importantes da vida de Leonard Bernstein, o primeiro maestro norte-americano a reger orquestras europeias. Foi ele, ao reger a Filarmônica de Viena numa integral das sinfonias de Gustav Mahler (1860-1911), que contribuiu de forma decisiva para o interesse mundial pela obra daquele compositor. Bernstein foi um maestro que se transformou num condutor que não se limitou a usar os braços e a batuta para orientar uma orquestra. Colocou a emoção a serviço da compreensão da obra a ser interpretada. Como era esperado, Cooper e seu roteirista Josh Singer deram destaque à interpretação de Bernstein da Segunda Sinfonia de Mahler, conhecida como Ressurreição. A parte final de tal obra pode ser vista e ouvida no Youtube sob a regência de Bernstein, numa interpretação emocionante, à frente da Sinfônica de Londres e o coro do Festival de Edinburg, numa gravação realizada em 1974, na catedral de Ely, Inglaterra. É a partir deste trecho que Cooper procura recriar no pódio a figura de Bernstein, tarefa impossível, é claro, mas exercida com esforço e respeito, depois das orientações do maestro canadense Yannick Nézet Séguin, que foi um dos integrantes da realização reunidos pela produtora, que contou também com a participação de Steven Spielberg e Martin Scorsese, que seriam os diretores, pensaram em Cooper para o papel principal e terminaram cedendo o posto para o cineasta da quarta versão de Nasce uma estrela, interpretada por Lady Gaga, o primeiro filme do novo realizador.
Bernstein não foi apenas um grande regente. Ele também escreveu obras como a sua Missa, escrita a pedido de Jacqueline Kennedy para a inauguração do Kennedy Center. Um trecho está presente no filme, que não destaca seus aspectos inovadores, inclusive com a utilização de um conjunto de rock e sua visão pessimista sobre os destinos da Humanidade e o questionamento de certos dogmas religiosos, além da crítica a aspectos da política americana. Tal obra é utilizada no momento em tem início o rompimento do protagonista com a esposa, a costarriquenha Felicia Montealegre. É um momento inicial de uma crise, depois ampliada no notável plano-sequência da discussão do casal, enquanto no jardim da casa predomina a alegria. Não é o único plano admirável do filme, pois há outros momentos concretizados com sensibilidade e competência. A morte, por exemplo, não é mostrada, substituída pela bela imagem do pai abraçando a filha depois que ele a alcança e interrompe o desespero e a dor. Neste e em outros momentos de O maestro - como em outro belo plano, aquele do carinho derradeiro, despedida emocionante, sem palavras e apenas com a imagem revelando toda a emoção - o cineasta concretiza vigorosos exemplo da força da imagem. São momentos em que, como diria François Truffaut, o cinema reina.
Cooper se revela um cultor do realismo e dos caminhos que podem ser abertos pelos que recusam aproximações com deformações e exageros. Em um momento do filme, Felicia diz que sempre procurou um substituto para a figura paterna, enquanto Leonard revela seu amargor pela violência do pai. Aquela falta e esta lembrança revelam a origem das angústias presentes, o passado influindo no comportamento dos dois adultos. A grande perda, simbolizada pela morte da companheira, é aquela que retira do ser humano o objetivo mais importante, maravilhosamente sintetizado na cena em que uma das filhas encontra certa canção entre discos antigos. O abraço do quinteto familiar é uma das grandes cenas do cinema recente. É pena que um filme como este tenha suas exibições restritas a um determinado meio e às vezes receba críticas negativas por aspectos exteriores e irrelevantes. E também seja vítima da falta de informações, pois Bernstein nunca foi o primeiro regente não alemão a reger na Europa, continente na qual nasceram maestros de diversas nacionalidades. Os admiradores de Arturo Toscanini (1867-1957), para citar um exemplo, ficarão no mínimo surpresos com tal informação. Este e outros fatos, que revelam desinteresse e desconhecimento, evidenciam que o filme de Cooper não deixa de ser um clamor por uma ressurreição.
 

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