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Cinema

- Publicada em 26 de Outubro de 2023 às 17:42

Duas faces

Certamente não existe melhor maneira de falar de uma época, de uma sociedade e de uma cultura do que criar personagens que vivam num determinado tempo e num espaço onde se desenrolam acontecimentos de cuja análise derive uma compreensão de acontecimentos ligados às leis que regem o sistema. Os assassinos da lua das flores não é apenas um dos maiores momentos cinematográficos em anos recentes, pois além de ser a obra-prima de Martin Scorsese, é um notável documento sobre relacionamentos humanos que refletem combates não percebidos a um primeiro olhar. Eis um filme que lança luz sobre as sombras, retira máscaras e se integra àqueles documentos que desvendam segredos e expõem verdades ocultas. Estamos diante de uma obra cinematográfica que, ao se aproximar de cada peça que integra um conjunto, enriquece a tela com a presença de figuras reais e, a partir delas, forma um painel que é um exemplo maior do que se chama de cinema antropomórfico, algo que faz lembrar os mais expressivos momentos da filmografia de um Luchino Visconti. Numa época em que o culto das superficialidades é intensamente praticado, surge na tela apropriada um documento precioso e de conhecimento obrigatório. Este é um verdadeiro exemplo de cinema e que por ser coproduzido por uma empresa cinematográfica chega ao lugar devido: a tela ampla, onde sua grandeza não é diminuída e seus valores podem ser devidamente apreciados e analisados.
Certamente não existe melhor maneira de falar de uma época, de uma sociedade e de uma cultura do que criar personagens que vivam num determinado tempo e num espaço onde se desenrolam acontecimentos de cuja análise derive uma compreensão de acontecimentos ligados às leis que regem o sistema. Os assassinos da lua das flores não é apenas um dos maiores momentos cinematográficos em anos recentes, pois além de ser a obra-prima de Martin Scorsese, é um notável documento sobre relacionamentos humanos que refletem combates não percebidos a um primeiro olhar. Eis um filme que lança luz sobre as sombras, retira máscaras e se integra àqueles documentos que desvendam segredos e expõem verdades ocultas. Estamos diante de uma obra cinematográfica que, ao se aproximar de cada peça que integra um conjunto, enriquece a tela com a presença de figuras reais e, a partir delas, forma um painel que é um exemplo maior do que se chama de cinema antropomórfico, algo que faz lembrar os mais expressivos momentos da filmografia de um Luchino Visconti. Numa época em que o culto das superficialidades é intensamente praticado, surge na tela apropriada um documento precioso e de conhecimento obrigatório. Este é um verdadeiro exemplo de cinema e que por ser coproduzido por uma empresa cinematográfica chega ao lugar devido: a tela ampla, onde sua grandeza não é diminuída e seus valores podem ser devidamente apreciados e analisados.
A figura do rei sempre será, nos sonhos e nas fantasias, o símbolo daquilo que deverá ser cultuado. Ela será sempre a configuração do poder, ao qual todos deverão prestar obediência. Mesmo que simbolicamente, estará sempre no ápice e nada poderá ser feito sem sua aprovação. Trata-se da imagem principal que, como nas famílias, no final da existência, passa o cetro para os descendentes, assim mantendo o ritual necessário à disciplina. Por isso ele é, também, aquele símbolo poderoso do pai, a fim de que a família siga seu curso. Por sua vez, o pai pode ser substituído por figuras como o tio, ou qualquer outro símbolo de uma geração anterior e, como tal, sempre o elemento dominador. No mundo exterior, a figura paterna é portadora da autoridade, por vezes dividida, como nas democracias, ou concentrada em suas mãos, como nos regimes autoritários. No caso do filme de Scorsese, ele aparece como o tio de um dos protagonistas. Um aparente amigo dos índios osages, mas na verdade figura de duas faces que esconde habilmente, inclusive participando de rituais, suas verdadeiras intenções. Quanto ao petróleo, esta riqueza indispensável ao mundo moderno, - e não apenas para o transporte de pessoas e mercadorias - este costuma estar presente como causa principal daquilo que Winston Churchill chamava de conflitos humanos.
Estes parecem ser os temas principais a serem acompanhados pelo espectador em Os assassinos da lua das flores. E há também a destruição de valores pela força da cobiça, esta inversão a ser devidamente criticada. E há também a maravilhosa atuação de Lily Gladstone, atriz que descende de índios, mas não dos osages, e que dá uma lição de como criar um personagem diante da câmera, ao conferir ao olhar uma força e uma eloquência raras vezes vistas. No espaço que nos cabe para análise do filme, merece realce a cena do espancamento, quando aparece o pai cruel na figura do disciplinador que se impõe pela violência. Eis de forma clara, a essência e o resumo da força e da impiedade do poder na hora de exigir obediência. No surpreendente epílogo, do qual participa o próprio Scorsese, com o direito de exercer a palavra final, uma encenação que também merece ser destacada. O espetáculo comprometido com regras e rituais na área da divulgação pode ser um recurso amenizado dos crimes cometidos. Mas a presença do próprio cineasta reforça a denúncia de um grande crime. O novo e notável filme de Scorsese, que está com 79 anos, é uma verdadeira lição de integridade e uma admirável demonstração de força criadora.