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Cinema

- Publicada em 19 de Outubro de 2023 às 17:33

Violência sem limite

O duo integrado pelo diretor Antoine Fuqua e o ator Denzel Washington é outra vez formado neste O protetor: capítulo final, cujo título escolhido para a exibição no Brasil traz uma informação não confirmada no original, que apenas indica ser o filme a terceira parte de uma série dedicada a um ex-agente da CIA. O cineasta, como se sabe, é um narrador dos mais competentes e em cuja filmografia aparecem títulos como Dia de treinamento, no qual o ator foi o vencedor do Oscar, e Sete homens e um destino, refilmagem de um filme famoso dirigido por John Sturges, que por sua vez era recolocação em cena do clássico Os sete samurais, de Akira Kurosawa. Nos anos 1970 do século passado, depois do fracasso no Vietnam, o cinema americano resolveu, através de heróis capazes das maiores façanhas, ganhar uma guerra no mundo ficcional. Dois nomes se destacaram em tal série: Sylvester Stallone e Arnold Schawarzenegger.
O duo integrado pelo diretor Antoine Fuqua e o ator Denzel Washington é outra vez formado neste O protetor: capítulo final, cujo título escolhido para a exibição no Brasil traz uma informação não confirmada no original, que apenas indica ser o filme a terceira parte de uma série dedicada a um ex-agente da CIA. O cineasta, como se sabe, é um narrador dos mais competentes e em cuja filmografia aparecem títulos como Dia de treinamento, no qual o ator foi o vencedor do Oscar, e Sete homens e um destino, refilmagem de um filme famoso dirigido por John Sturges, que por sua vez era recolocação em cena do clássico Os sete samurais, de Akira Kurosawa. Nos anos 1970 do século passado, depois do fracasso no Vietnam, o cinema americano resolveu, através de heróis capazes das maiores façanhas, ganhar uma guerra no mundo ficcional. Dois nomes se destacaram em tal série: Sylvester Stallone e Arnold Schawarzenegger.
O primeiro não se limitou a vencer batalhas no mundo do boxe, pois além do papel como Rocky, mostrou invencibilidade ao enfrentar inimigos asiáticos. Mas sempre é importante ressaltar que o primeiro filme, o que deu início ao ciclo dedicado ao personagem Rambo, dirigido por Ted Kothcheff, era ótimo, ao mostrar as consequências, dentro do território americano, de um artefato humano treinado para enfrentar qualquer perigo e sempre vencendo inimigos aparentemente mais fortes. Todos os personagens vividos pelos atores citados não eram desprovidos de virtudes e estavam sempre dedicados a salvar a sociedade de seus inimigos. Também é importante ressaltar que, em O exterminador do futuro 2, Schwarzenegger vivia o papel de um herói, ao contrário do primeiro filme, no qual vivia um vilão. Curiosamente ele apareceu numa lista no qual foram eleitos os principais heróis e vilões do cinema: uma vez como representante do mal e outra como agente do bem, um robô que descobre porque os humanos choram.
No Protetor atual, outra vez o protagonista aparece como um agente, antes especializado em missões secretas, e por isso aposentado, depois da farsa que o apontou como morto. Ele é impiedoso com os inimigos e até exerce sua fúria de forma ressaltada pelo filme em várias cenas. Não há perdão para terroristas, traficantes e criminosos de qualquer espécie. Ao mesmo tempo, se dedica à leitura de clássicos da literatura, um empenho não completado pela esposa assassinada: uma daquelas indicações dos 1001 livros para ser lidos enquanto o leitor for vivo, como era ressaltado no primeiro capítulo da série. Tal interesse em completar um desejo da mulher morta é substituído quando o personagem se depara com qualquer tipo de ação destinada a abalar o equilíbrio, representado não apenas pela leitura como pela busca do merecido repouso, algo simbolizado pela mesa de refeições, tema sempre persente desde o primeiro capítulo da série. Fuqua, ao expor tal conflito, não parece preocupado com qualquer verossimilhança. O que ele pretende é a realização de um filme movimentado, impulsionado por um herói de uma habilidade que não encontra limites na realidade.
Esta é a rendição de um cineasta a um tipo de cinema que no momento domina a cena, mas que ainda não expulsou das telas a resistência de alguns que, utilizando os recursos do sistema de produção, lutam para manter a presença da inteligência e da responsabilidade diante do espectador. A habilidade de Fuqua se faz presente desde o prólogo, que procura seguir uma proposta da série 007, cujos filmes sempre começam com uma sequência de ação, mas o que vemos depois é um verdadeiro festival de violência praticada por ambos os lados. E como a lei é fraca e incapaz de enfrentar o grande mal e também marcada pela corrupção de um de seus chefes, cabe ao herói salvar a sociedade, utilizando uma violência igual e contrária à brutalidade original. A mensagem parece clara, até pela narrativa ser concluída por uma festa certamente causada por alguma conquista esportiva. Em tal gênero de filme, o crime é combatido por armas iguais, o que não deixa de ser o caminho escolhido por quem não sabe distinguir entre causa e efeito. Superficialidade talvez seja a palavra definidora.