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Cinema

- Publicada em 05 de Outubro de 2023 às 18:06

Médias metragens

Pedro Almodóvar, cultor de um cinema que tem na elaboração meticulosa sua principal característica e que, portanto, exige tempo para que todas suas propostas sejam completamente entregues ao espectador, parece ter descoberto as potencialidades do filme em média-metragem. É o caso deste Estranha forma de vida, que não é o primeiro que ele dirige com duração reduzida. Em 2020, tendo Tilda Swinton como atriz, ele havia realizado uma versão de A voz humana, monólogo de Jean Cocteau, texto que por sinal já havia sido filmado por Roberto Rossellini em 1948 e que fez parte de um filme longo completado por O Milagre, com Anna Magnani, uma das estrelas do cinema italiano da época. Temas caros ao cineasta espanhol, como a presença ou a volta do passado, ressurgem na tela, como sempre marcados pelas referências ao melodrama e ao cinema americano. No caso o cotidiano é abalado por um crime, e o ritual cumprido por um agente da lei perturbado pela presença (ou a volta) de um passado devidamente oculto. Em 30 minutos, o cineasta sintetiza e, por falta de tempo, não aprofunda o tema abordado, sem deixar de colocar em cena as ligações entre repressão e violência, esta como consequência daquela. Para preencher o tempo de uma sessão normal, uma entrevista com o cineasta é apresentada depois do final do média-metragem. Nela, o diretor deixa claro sua admiração pelo cinema americano, citando vários westerns. Portanto, de certa forma, Almodóvar segue os passos de Spielberg, que também apareceu na tela grande para apresentar ao público seu trabalho mais recente, Os Fabelmans. O pioneiro na utilização de tal meio foi Jean Renoir, que no pós-guerra, falava ao público antes da reapresentação de A grande ilusão, que ele havia realizado em 1936. Mas no Brasil, nas cópias de tal restauração, a presença do cineasta que explicava todo o processo, até por ter o filme sido confiscado durante a ocupação da França, foi suprimida.
Pedro Almodóvar, cultor de um cinema que tem na elaboração meticulosa sua principal característica e que, portanto, exige tempo para que todas suas propostas sejam completamente entregues ao espectador, parece ter descoberto as potencialidades do filme em média-metragem. É o caso deste Estranha forma de vida, que não é o primeiro que ele dirige com duração reduzida. Em 2020, tendo Tilda Swinton como atriz, ele havia realizado uma versão de A voz humana, monólogo de Jean Cocteau, texto que por sinal já havia sido filmado por Roberto Rossellini em 1948 e que fez parte de um filme longo completado por O Milagre, com Anna Magnani, uma das estrelas do cinema italiano da época. Temas caros ao cineasta espanhol, como a presença ou a volta do passado, ressurgem na tela, como sempre marcados pelas referências ao melodrama e ao cinema americano. No caso o cotidiano é abalado por um crime, e o ritual cumprido por um agente da lei perturbado pela presença (ou a volta) de um passado devidamente oculto. Em 30 minutos, o cineasta sintetiza e, por falta de tempo, não aprofunda o tema abordado, sem deixar de colocar em cena as ligações entre repressão e violência, esta como consequência daquela. Para preencher o tempo de uma sessão normal, uma entrevista com o cineasta é apresentada depois do final do média-metragem. Nela, o diretor deixa claro sua admiração pelo cinema americano, citando vários westerns. Portanto, de certa forma, Almodóvar segue os passos de Spielberg, que também apareceu na tela grande para apresentar ao público seu trabalho mais recente, Os Fabelmans. O pioneiro na utilização de tal meio foi Jean Renoir, que no pós-guerra, falava ao público antes da reapresentação de A grande ilusão, que ele havia realizado em 1936. Mas no Brasil, nas cópias de tal restauração, a presença do cineasta que explicava todo o processo, até por ter o filme sido confiscado durante a ocupação da França, foi suprimida.
O média-metragem é um tempo raramente explorado pelo cinema. Porém, poucos discordarão da afirmação de que um dos maiores títulos da história do cinema foi realizado em tal formato. Trata-se de Noite e nevoeiro, dirigido por Alain Resnais em 1956. O filme foi estruturado sobre um texto de Jean Cayrol e conta com uma comovente partitura de Hanns Eisler, além das participações de Chris Marker e Henri Colpi, como assistentes. Seu tema é o do genocídio praticado pelos nazistas. Na época, o filme chegou a ser proibido na então República Federal da Alemanha, mas foi liberado e até exibido em escolas depois que suásticas começaram a aparecer em prédios e muros das cidades alemãs. O filme foi exibido pelo Clube de Cinema de Porto Alegre em 7 de abril de 1961 e vale lembrar que a televisão local solicitou a cópia e exibiu o filme em sua programação, causando um grande impacto. Na época, o Holocausto ainda não era bem conhecido, e Resnais, que quatro mais tarde iria realizar Hiroshima, meu amor, outro grande momento do cinema, foi pioneiro ao tratar do tema com equilíbrio e coragem. As imagens do extermínio de seres humanos e os detalhes da vida nos campos de extermínio são apresentadas em preto e branco, sendo um passado terrível reconstituído de forma impiedosa. O presente é apresentado em cores, em imagens cuja tranquilidade mostra o recomeço da vida. E no final, quando a responsabilidade é questionada, a culpa de tudo não é enquadrada em espaço restrito, mas expandida de forma a evitar simplificações. Uma obra-prima, que jamais perderá sua força. Resnais foi um dos maiores, e este média-metragem é uma daquelas peças cinematográficas que jamais deixarão de ocupar um espaço entre os grandes documentos de uma época, sobretudo por destruir toda e qualquer ação destinada a fazer o mundo esquecer a face mais reveladora da barbárie. Outro média-metragem a ser incluído entre os momentos culminantes de tal formato é Rabindranath Tagore, de Satyajit Ray (pronuncia-se rai), sobre o poeta laureado com o Prêmio Nobel em 1913. O filme foi realizado em 1961 e procura uma aproximação com a arte do poeta, ressaltando seu olhar para um mundo em crise, desprovido de valores e abalado por extremas violências. Esta obra, que tem 50 minutos de projeção, também foi exibida em Porto Alegre, na época em que a cidade seguidamente era beneficiada por mostras de importância, como à dedicada ao cinema da Índia.