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Cinema

- Publicada em 21 de Setembro de 2023 às 17:39

Método e indagação

O diretor Kenneth Brannagh completa com este A noite das bruxas uma trilogia tendo por base romances de Agatha Christie. O ciclo foi iniciado em 2017, com Assassinato no Expresso Oriente, e teve continuidade em 2022 com A morte no Nilo. O realizador imprimiu à sua filmografia uma característica das mais interessantes, a de refilmar obras anteriores, algumas delas clássicos do cinema. Em 1989, ao iniciar a carreira com uma versão de Henrique V, colocou em sua apresentação ao público a formação shakespeariana. Além disso, deixou claro que uma das referências do filme era Laurence Olivier, que tinha sido diretor e intérprete de outra versão, realizada em 1944, com o claro intuito de valorizar a luta então travada contra o nazismo, levando à tela o célebre discurso do rei antes de batalha decisiva. Essa tendência seria outra vez evidente quando Branagh dirigiu, em 1994, Frankenstein de Mary Shelley, versão de um livro várias vezes filmado. Ao usar o nome da autora no título, o realizador acentuou que se tratava de uma versão integral, pois, nas outras oportunidades, o epílogo do original era suprimido. Em 1996, ele dirigiu uma versão integral - quatro horas de duração - de Hamlet, outro reencontro, também, com Laurence Olivier, que já tinha filmado a peça em 1948, trabalho laureado com o Oscar de melhor filme. Outra ousadia foi homenagear Ingmar Bergman e a Wolfgang Amadeus Mozart, em 2006, com uma versão de A flauta mágica, ópera que o mestre sueco tinha levado ao cinema em 1975 e que, há alguns anos, apareceu numa lista de melhores filmes de todos os tempos, organizada pelo New York Times a partir de uma consulta a críticos e historiadores. A versão de Branagh, ambientada na primeira Guerra Mundial e contendo citações a cineastas que reconstituíram episódios daquele conflito, incluindo o Lewis Milestone de Sem novidade no front, permanece inédita no Brasil.
O diretor Kenneth Brannagh completa com este A noite das bruxas uma trilogia tendo por base romances de Agatha Christie. O ciclo foi iniciado em 2017, com Assassinato no Expresso Oriente, e teve continuidade em 2022 com A morte no Nilo. O realizador imprimiu à sua filmografia uma característica das mais interessantes, a de refilmar obras anteriores, algumas delas clássicos do cinema. Em 1989, ao iniciar a carreira com uma versão de Henrique V, colocou em sua apresentação ao público a formação shakespeariana. Além disso, deixou claro que uma das referências do filme era Laurence Olivier, que tinha sido diretor e intérprete de outra versão, realizada em 1944, com o claro intuito de valorizar a luta então travada contra o nazismo, levando à tela o célebre discurso do rei antes de batalha decisiva. Essa tendência seria outra vez evidente quando Branagh dirigiu, em 1994, Frankenstein de Mary Shelley, versão de um livro várias vezes filmado. Ao usar o nome da autora no título, o realizador acentuou que se tratava de uma versão integral, pois, nas outras oportunidades, o epílogo do original era suprimido. Em 1996, ele dirigiu uma versão integral - quatro horas de duração - de Hamlet, outro reencontro, também, com Laurence Olivier, que já tinha filmado a peça em 1948, trabalho laureado com o Oscar de melhor filme. Outra ousadia foi homenagear Ingmar Bergman e a Wolfgang Amadeus Mozart, em 2006, com uma versão de A flauta mágica, ópera que o mestre sueco tinha levado ao cinema em 1975 e que, há alguns anos, apareceu numa lista de melhores filmes de todos os tempos, organizada pelo New York Times a partir de uma consulta a críticos e historiadores. A versão de Branagh, ambientada na primeira Guerra Mundial e contendo citações a cineastas que reconstituíram episódios daquele conflito, incluindo o Lewis Milestone de Sem novidade no front, permanece inédita no Brasil.
Tal tendência volta a aparecer no filme atual, que finaliza uma trilogia, cujos dois primeiros títulos também já tinham sido filmados; Assassinato no Oriente Expresso, em 1974, por Sidney Lumet, e Morte Sobre o Nilo, em 1978, por John Guillermin. Todas essas citações e refilmagens, evidentemente, não são aspectos negativos e sim evidências de que é básico olhar para o passado. Não são repetições, e sim tentativas de iluminar temas não abordados em obras anteriores. E no caso de A noite das bruxas o cineasta, ele próprio vivendo o papel principal, também traz citações a Mozart e a um filme de Vincente Minnelli, Agora seremos felizes, pouco valorizado na época de sua realização e atualmente frequentador de listas de obras cinematográficas imperdíveis. Tal filme foi realizado na época em que transcorre a ação de A noite das bruxas. A citação aproxima o tema do trabalho de Minnelli, uma focalização da fidelidade às raízes e à história de cada indivíduo.
E o que dizer do filme atual de Branagh? Em primeiro lugar, é uma surpresa negativa a utilização de um recurso do qual não consegue se livrar parte de uma geração de cineastas. O susto insistentemente procurado através do som termina por instaurar a monotonia. Por outro lado, a utilização do cenário, com o mesmo intuito de assustar o espectador, não tem propriamente uma função, como acontece no cineasta que ele cita durante a ação. A indagação na cena final não é suficiente para conferir densidade a um relato pouco profundo nas referências aos fantasmas e às sombras que, em Shakespeare, trazem a solução. E quanto ao método de esclarecer os fatos e revelar o culpado, tal caminho é repetido de forma costumeira, sem surpresas e inovações. A conclusão de narrativas policiais com o detetive dando uma espécie de palestra esclarecedora aos suspeitos é um método que, de tanto ser repetido, bem que poderia ser evitado, ação que expulsaria da tela mais um lugar-comum. E quando até uma cacatua é utilizada como se fosse um monstro ameaçador, é tempo de se pensar em outros modelos para o gênero. Na filmografia de Branagh aparecem alguns filmes significativos, mas entre eles não se encontra este seu novo trabalho, vítima da utilização de recursos fáceis e que deveriam ser evitados.