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cinema

- Publicada em 25 de Agosto de 2023 às 00:40

Painel de emoções

O diretor Amos Gitai, atualmente com 72 anos, é o nome mais conhecido do cinema israelense e quase sempre considerado o cineasta mais importante daquela cinematografia. Mais do que isso, ele também integra o grupo daqueles diretores que costumam frequentar festivais e premiações internacionais, tendo sido várias vezes indicado e recebido distinções. É um daqueles que raramente chegam ao mercado exibidor brasileiro, embora internacionalmente conhecido e respeitado. É um diretor cuja preocupação maior é colocar na tela problemas relacionados ao papel do seu país no cenário internacional, dramas gerados pelo conflito entre israelenses e palestinos. Seu filme mais recente, Uma noite em Haifa, resume suas propostas e revela seu estilo, além de trazer inovações. Nada de panfletos e discursos, algo muito comum em outras paragens, e sim a colocação em cena de personagens retirados da realidade cotidiana e colocados diante de uma câmara que dispensa e se afasta de malabarismos inconsequentes. A obra, que foi apresentada na mostra competitiva do Festival de Veneza, se desenrola em tempo real, durante uma noite, em local onde há espaço para danças, bebidas e até para uma galeria de arte, onde são expostas fotografias, das quais o filme não procura aproximações em busca de detalhes, que não interessam ao cineasta. A ação se concentra em tal cenário e apenas o ruído dos trens que passam são sinas do mundo exterior.
O diretor Amos Gitai, atualmente com 72 anos, é o nome mais conhecido do cinema israelense e quase sempre considerado o cineasta mais importante daquela cinematografia. Mais do que isso, ele também integra o grupo daqueles diretores que costumam frequentar festivais e premiações internacionais, tendo sido várias vezes indicado e recebido distinções. É um daqueles que raramente chegam ao mercado exibidor brasileiro, embora internacionalmente conhecido e respeitado. É um diretor cuja preocupação maior é colocar na tela problemas relacionados ao papel do seu país no cenário internacional, dramas gerados pelo conflito entre israelenses e palestinos. Seu filme mais recente, Uma noite em Haifa, resume suas propostas e revela seu estilo, além de trazer inovações. Nada de panfletos e discursos, algo muito comum em outras paragens, e sim a colocação em cena de personagens retirados da realidade cotidiana e colocados diante de uma câmara que dispensa e se afasta de malabarismos inconsequentes. A obra, que foi apresentada na mostra competitiva do Festival de Veneza, se desenrola em tempo real, durante uma noite, em local onde há espaço para danças, bebidas e até para uma galeria de arte, onde são expostas fotografias, das quais o filme não procura aproximações em busca de detalhes, que não interessam ao cineasta. A ação se concentra em tal cenário e apenas o ruído dos trens que passam são sinas do mundo exterior.
A abertura do filme, uma cena na qual a violência predomina, encenada de uma forma que procura o máximo do realismo, é um raro momento em que aparecem imagens fora do cenário principal - há outros dois curtos trechos semelhantes. E manifestações destinadas a expor características do filme tem sido acentuadas por informações sobre a cidade, mas estas estão distantes da proposta vista na tela. Não há imagens da cidade e sim de alguns de seus habitantes, concentrados num só espaço. Porém, esta cena de abertura, filmada sem cortes e durante a qual a câmera se afasta da rua e ingressa num dos locais do cenário, é um resumo do que será visto durante o filme. É como se a realidade exterior fosse captada e levada para o interior do cenário principal, maneira de definir que um certo tipo de isolamento, em vez de afastar os personagens da violência externa, os aprisiona e os faz vivenciar seus dramas, anseios e frustrações. Em vez de procurar inimigos e filmar duelos de vários gêneros, Gitai, exercendo a técnica do contraponto, acompanha personagens à procura de um caminho. Trata-se, portanto, de um filme menos interessado em temas políticos, sem, no entanto, ignorá-los, do que em explorar causas geralmente ocultas da violência, cujas causas principais costumam ser omitidas.
E há momentos em que a ironia se manifesta claramente, com o cineasta correndo o risco de ser classificado como politicamente incorreto. Mas não há excessos, até porque em outras, como o do casal que pela primeira vez se encontra, fica claro um olhar quase terno para uma tentativa de derrotar a solidão. E as cenas da jovem palestina querendo saber detalhes sobre o carro de um milionário arrogante e de vida pessoal marcada pela insegurança é exemplar ao explorar diferenças e dupla ojeriza. A primeira cena, quando a brutalidade é substituída por um encontro erótico, resume sem dúvida o essencial do filme. Muito distante das simplificações, o filme de Gitai é um olhar penetrante sobre imperfeições, desejos não concretizados e dúvidas sobre novos comportamentos. E o estilo voltado para planos de longa duração reforça essa tentativa de fazer de cada imagem projetada um espaço no qual tudo pode ser visto pelo espectador com a atenção devida. O diálogo das duas mulheres sobre palestinos e israelenses é um primor de encenação e uma lição de como dirigir intérpretes e valorizar o olhar humano. O mundo é violento, a insegurança parece predominar, e por isso também é extremamente importante focalizar figuras humanas e seu sofrimento, como se num quadro preenchido por rostos verdadeiros surgissem os sinais de uma crise que termina revelando as perplexidades decorrentes de perguntas não respondidas, de objetivos não alcançados.