O êxito alcançado nas bilheterias de todo o mundo pelo filme Oppenheimer, o novo trabalho do diretor Christopher Nolan, é mais um a evidenciar que o cinema, após enfrentar a maior de todas as ameaças, está recuperando de forma vigorosa o seu público e voltando exercer o fascínio que sempre o caracterizou, desde que os Irmãos Lumière, exaltando o movimento, filmaram um trem aproximando-se da câmera, e, abrindo a cortina diante do mundo real, acompanharam a saída de operários de uma fábrica, construindo os alicerces de uma nova arte. O mais interessante é que não se trata de uma produção marcada por concessões e vulgaridades. Ao contrário: exige atenção e algum conhecimento do teatro político então encenado na época, marcado por desconfianças diante do aliado soviético e depois pelo atraso criado pelo macarthismo. O cineasta soube, realizando um filme de três horas de projeção, manter a atenção do público, principalmente pela forma como dirige seus intérpretes, fazendo de cada figura em cena personagens marcados por poderosa autenticidade. Como todos os ligados de uma forma ou outra ao cinema, Nolan conhece o filme de Alain Resnais e provavelmente por isso não recorreu a imagens da destruição das duas cidades japonesas, preferindo concentrar a ação no tema da cultura e da genialidade criando um instrumento de destruição e morte, a partir da manipulação de elementos encontrados em espaços na época desconhecidos.
No Festival de Veneza ora em andamento, dois retornos merecem ser destacados. Um dele é o de Roman Polanski, que, aos 89 anos, é um dos veteranos em ação. Depois do esplêndido J'accuse, exibido aqui com o título de O oficial e o espião, Polanski retorna com O palácio, filme que se desenrola num hotel de luxo. Nos papéis principais estão Oliver Masucci, Fanny Ardant, John Cleese e Joaquim de Almeida. Entre os roteiristas, grupo no qual está o próprio diretor, aparece o nome Jerzy Skolimowski, que assina a direção de Eo, aquela bela homenagem a Robert Bresson e seu Baltahsar. O filme de Polanski está sendo apresentado fora do concurso, assim como o novo trabalho de Woody Allen, intitulado Coup de chance.
Outro destaque em Veneza é O maestro, segundo filme dirigido por Bradley Cooper e que faz parte da competição oficial. Trata-se de uma biografia de Leonard Bernstein, um dos maiores condutores de orquestras da história e que também foi, através de aulas na televisão, um professor admirável. Bernstein era um admirador do jazz e produziu um programa, gravado e preservado, sobre a importância daquele gênero. Ele foi um grande admirador de Gustav Mahler, tendo gravado todas as sinfonias do compositor com a Filarmônica de Viena. E foi também titular da Filarmônica de Nova York e acompanhou a orquestra em sua excursão pela América Latina, na década de 1950, então regida pelo titular Dimitri Mitropoulos e por ele. A orquestra se apresentou em Porto Alegre, no auditório da Ufrgs.
Bernstein é o autor das canções de West side story, espetáculo que foi transformado em filme por Robert Wise e Jerome Robbins, que alguns consideram o maior musical da história do cinema. Leonard Bernstein está também ligado ao cinema como o autor das canções de Um dia em Nova York, espetáculo levado ao cinema por Stanley Donen e Gene Kelly, um dos clássicos do gênero. E merece também ser lembrado por ser o auto da bela partitura de Sindicato de Ladrões, o célebre filme de Elia Kazan. Ele também escreveu sinfonias, obras para vários gêneros e uma Missa.
Quem também compete na mostra principal de Veneza é Sofia Coppola, com seu novo filme, Priscilla, sobre a vida da esposa de Elvis Presley. Depois do filme de Baz Luhrmann, que focalizava a trajetória do cantor, a diretora mostra acontecimentos por outro ângulo. A cineasta, que começou a carreira como atriz na terceira parte da trilogia iniciada por O poderoso chefão, tem se destacado como realizadora, em filmes como As virgens suicidas e Encontros e desencontros, tendo recentemente realizado uma versão de La traviata, a ópera de Verdi, e um documentário sobre o New York City Ballet.


Facebook
Google
Twitter