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Cinema

- Publicada em 18 de Agosto de 2022 às 17:33

Altura e profundidade

Hélio Nascimento
A Festa do Cinema Italiano realizada este ano destacou personagens reais e incluiu na programação filmes sobre Leonardo Da Vinci, Tintoreto e Ennio Morricone. E não faltou a reconstituição, em um trabalho que poderia ser classificado como documentário reconstituído, do empenho de um grupo de espeleólogos de alcançar o ponto limite da profundidade de uma caverna localizada na Calábria. Il buco, dedicado pelo diretor Michelangelo Frammartino aos integrantes do Grupo Espeleológico Piemontês que no ano de 1961 se empenharam em tal tarefa, não se limita a acompanhar, de forma a manter o espectador atento a todo o desenrola da ação, um esforço destinado a encontrar um limite. O filme é, também, um magnífico ensaio, sem praticamente a utilização da palavra, dando às imagens um poder que, plano por plano, revela a força da curiosidade humana e a eloquência das imagens. E ao fazer igualmente a constatação de que o grande mistério continua a ser um obstáculo intransponível, resumido e explicitado na cena em que o explorador, diante do limite de profundidade, faz o gesto que indica a chegada a um ponto que não poderá ser ultrapassado. O filme de Frammartino se insere naquele grupo de resistentes que recusam entoar o canto da conformidade e propõem ao espectador uma expressão cinematográfica afastada das facilidades dominantes. O filme é, sem dúvida, uma bela obra de resistência, ao mostrar que o cinema tem praticantes inconformados com a padronização. Eis uma voz dissonante, que não causa nenhuma espécie de desarmonia. Ao contrário, enriquece o conjunto ao mostrar que ainda existem resistentes ao conformismo que anseia pela imobilidade. Trata-se de um filme exigente, distante de lugares-comuns, inspirado em trabalhos semelhantes realizados no passado e mostrando que o futuro do cinema está na busca constante de formas ainda não alcançadas e destinadas a descrever a busca do conhecimento, a mais nobre das ações humanas.
A Festa do Cinema Italiano realizada este ano destacou personagens reais e incluiu na programação filmes sobre Leonardo Da Vinci, Tintoreto e Ennio Morricone. E não faltou a reconstituição, em um trabalho que poderia ser classificado como documentário reconstituído, do empenho de um grupo de espeleólogos de alcançar o ponto limite da profundidade de uma caverna localizada na Calábria. Il buco, dedicado pelo diretor Michelangelo Frammartino aos integrantes do Grupo Espeleológico Piemontês que no ano de 1961 se empenharam em tal tarefa, não se limita a acompanhar, de forma a manter o espectador atento a todo o desenrola da ação, um esforço destinado a encontrar um limite. O filme é, também, um magnífico ensaio, sem praticamente a utilização da palavra, dando às imagens um poder que, plano por plano, revela a força da curiosidade humana e a eloquência das imagens. E ao fazer igualmente a constatação de que o grande mistério continua a ser um obstáculo intransponível, resumido e explicitado na cena em que o explorador, diante do limite de profundidade, faz o gesto que indica a chegada a um ponto que não poderá ser ultrapassado. O filme de Frammartino se insere naquele grupo de resistentes que recusam entoar o canto da conformidade e propõem ao espectador uma expressão cinematográfica afastada das facilidades dominantes. O filme é, sem dúvida, uma bela obra de resistência, ao mostrar que o cinema tem praticantes inconformados com a padronização. Eis uma voz dissonante, que não causa nenhuma espécie de desarmonia. Ao contrário, enriquece o conjunto ao mostrar que ainda existem resistentes ao conformismo que anseia pela imobilidade. Trata-se de um filme exigente, distante de lugares-comuns, inspirado em trabalhos semelhantes realizados no passado e mostrando que o futuro do cinema está na busca constante de formas ainda não alcançadas e destinadas a descrever a busca do conhecimento, a mais nobre das ações humanas.
Exibido no Festival de Veneza de 2021, o filme recebeu o Prêmio Especial do Júri, que assim se mostrou sensibilizado pela proposta de Frammartino. Il buco só pode ser apreciado integralmente na tela grande dos cinemas dotados de projeção perfeita, onde o som igualmente permita que todos os detalhes captados cheguem integralmente ao espectador. Isso porque, na reconstituição da realidade, o filme procura captar todos os sinais, sejam aqueles representados pelas rugas indicadoras da passagem do tempo, seja a amplidão das paisagens onde seres humanos e animais compartilham o cenário, como se o filme se interessasse tanto pelos retratos de Vermeer como pela amplidão da Vista de Delft, obra maior do mesmo artista, que parece ter sido uma das inspirações de Frammartino. Tudo se mescla e tudo é exposto de uma forma a criar um painel, ora expondo grandezas, ora focalizando pequenos e reveladores detalhes, como a televisão colocada diante de uma plateia que começa a receber sinais de outro mundo. O filme, por sinal, em uma de suas primeiras cenas, expõe essa aproximação e ao mesmo tempo coloca o espectador participante de uma reportagem destinada a mostrar as alturas de um edifício ainda não concluído, mas já utilizado por escritórios diversos. Depois desta sequência na qual a equipe da televisão se afasta do solo, o filme volta ao planalto, para acompanhar os pesquisadores.
O primeiro plano do filme focaliza a curiosidade de animais, diante da cratera, antes de aos poucos, como se acompanhasse a trajetória da vida, seres humanos começarem a povoar o cenário, alguns preparando-se para a grande tarefa. Tramartino, então, organiza a narrativa como se estivesse seguindo duas linhas. De um lado, recursos modernos permitem uma aproximação ao desconhecido. De outro, o velho patriarca, através de um canto primitivo, se comunica com os animais e a natureza. A participação do médico é narrada em detalhes, assim como o trabalho dos espeleólogos, como se fossem equivalentes, ambos em busca de segredos e soluções. Outro elemento habilmente explorado pela direção é da luz que por vezes vence a escuridão, iluminando o cenário e expulsando as trevas, missão maior da ciência e da arte.
 
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