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Jornal da Lei

- Publicada em 10 de Setembro de 2018 às 22:16

O STF se transformou num espetáculo de televisão, diz Eros Grau

Para Eros Grau, Supremo se tornou um espetáculo de televisão

Para Eros Grau, Supremo se tornou um espetáculo de televisão


NELSON JR/ASICS/TSE/JC
O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Eros Grau, analisou a atuação da corte em entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio que integra o especial Jornal da Lei sobre os 30 anos da Constituição.
O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Eros Grau, analisou a atuação da corte em entrevista exclusiva ao Jornal do Comércio que integra o especial Jornal da Lei sobre os 30 anos da Constituição.
Jornal da Lei - Sobre quais assuntos o senhor acredita que o STF deve participar do debate?
Eros Grau - Seria importante alterar a Constituição para que o STF só decidisse matéria constitucional, deixando o restante para o Superior Tribunal de Justiça (STJ). O supremo virou um tribunal burocrático, com muitas decisões monocráticas (em 2017, 81,3% dos processos da corte tiveram decisão monocrática). É um órgão colegiado, aí cada brasileiro tem o direito pela Constituição de ser julgado pelo tribunal, mas grande parte é julgada por um só juiz. Seria preciso mudar isso, mas aí só mudando a Constituição.
JL - A suprema corte dá conta de sua dupla jurisdição?
Grau - No meu tempo, tínhamos uma equipe que selecionava os processos, porque muitos eram repetitivos e discutiam as mesmas teses, e separava os mais importantes para nos determos mais. O resto, na verdade, quem trabalha é o gabinete do ministro, lógico que com a palavra final do ministro. Por isso seria importante dar apenas as matérias constitucionais para o STF: daria celeridade e substancialidade. Há uma diferença entre ciência, arte e prudência. As decisões judiciais não são exatas ou científicas, nem artísticas, apesar de a TV ter transformado juízes em artistas. A decisão judicial é objeto de uma prudência, por isso que você tem a jurisprudência. Aristóteles faz essa distinção de eficiência e prudência. Essa eficiência tem que ser feita com prudência. A prudência só pode ser bem praticada enquanto objeto de reflexão detida, tranquila, o que não pode acontecer com tanta demanda.
JL - O que o senhor acha da indicação política dos ministros do STF?
Grau - Quem indica não é o presidente fulano ou sicrano. Na Constituição diz que o presidente propõe ao Senado e o Senado aprova ou não, e já houve casos de não aprovação. Há ministro que diz que "quem me indicou foi presidente tal" e há ministro que diz que "quem me indicou foi o presidente da República e quem aprovou foi o Senado Federal". Se eu me apresentar como "quem me indicou foi fulano", perco minha independência. Quem me indicou foi o presidente e o Senado. Quem não é capaz de botar na cabeça esse entendimento, acaba não sendo totalmente independente.
JL - Qual o impacto da transmissão das sessões do supremo na TV?
Grau - O STF se transformou num espetáculo de televisão, os 11 ministros são tão ou mais conhecidos do que os 11 jogadores da seleção brasileira. Esse é um grande mal. Quando eu estava no STF, o (ex-ministro Nelson) Jobim era o presidente e havia um ministro que falava muito. Jobim o interrompeu e disse que todos nós já tínhamos entendido, e o ministro disse que não estava falando para nós, e sim para a TV. Na minha opinião, quem destruiu o STF foi a televisão. Deixou de ser o cume da prudência judicial para se transformar em espetáculo televisivo. Sessões não deveriam ser transmitidas. A maioria dos tribunais nem publica discussões, porque quem toma a decisão não é o juiz, é o tribunal como um todo. Enquanto não conseguirmos expressar isso, não haverá supremo, e sim juízes do STF que decidem.
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