Laís Machado Lucas
As mulheres são maioria nos cursos de Direito (segundo o MEC, representavam 53,88% dos estudantes em 2014); estão presentes em maior número nos escritórios (pesquisas indicam que a presença feminina gira em torno dos 57%) e constituem, hoje, mais da metade dos profissionais da área, conforme pesquisa da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
No entanto, elas ainda representam apenas 34,4% dos sócios de capital em escritórios. Em outras palavras: enquanto as advogadas ocupam posições de liderança intermediárias, os homens são a maioria expressiva em cargos de CEO, revelando uma realidade paradoxal. Segundo a base de dados da análise editorial, são apenas 256 mulheres CEOs em um universo de 1,8 mil escritórios.
Essa discrepância levanta questões importantes: por que o volume de advogadas à frente de escritórios ainda é tão inferior ao de homens? Que fatores levam tão poucas mulheres a empreender e a fundar seus próprios escritórios?
As respostas estão ligadas a diversos fatores, entre eles barreiras estruturais e culturais. O mercado jurídico é tradicionalmente masculino e, apesar dos avanços, ainda persistem padrões históricos de liderança nos quais os homens ocupam posições de decisão. Além disso, a dupla ou tripla jornada de trabalho impacta as possibilidades femininas de ascensão profissional.
A falta de representação no topo da advocacia também gera consequências. Mais mulheres à frente de escritórios poderia significar maior diversidade na tomada de decisão, um olhar mais amplo sobre os desafios do setor e um ambiente de trabalho mais inclusivo.
A dificuldade para atingir o topo da carreira não é exclusividade da advocacia; é um fenômeno se repete em diversas áreas. No entanto, o mercado jurídico apresenta desafios específicos, como a carga de trabalho intensa, a exigência por disponibilidade integral e a ausência de políticas corporativas que favoreçam a equidade.
O caminho para mudar essa realidade passa por iniciativas concretas como programas de mentoria, maior flexibilização da jornada de trabalho e criação de políticas afirmativas. Além disso, o fortalecimento de redes de apoio entre mulheres pode contribuir - e muito - para a troca de experiências e o desenvolvimento de estratégias para superar os desafios da profissão.
Advogada e professora de Direito Empresarial