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Publicada em 23 de Abril de 2024 às 01:25

Tributação das big techs deve ocorrer no 2º semestre

Big techs, pelo grande poder que têm, estão na mira do governo brasileiro

Big techs, pelo grande poder que têm, estão na mira do governo brasileiro

FABRICE COFFRINI/AFP/JC
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Osni Machado
O governo federal deseja ver aprovado, o mais rápido possível, uma lei que venha tributar as chamadas big techs (gigantes da tecnologia). Quatro são os temas propostos: o pagamento pelo uso de rede de telefonia (fair share); a criação de uma contribuição para o jornalismo; a cobrança de uma taxa de vídeo "on demand" (com o serviço de streaming); e a criação de imposto sobre a renda, junto com a regulamentação da reforma tributária.
O governo federal deseja ver aprovado, o mais rápido possível, uma lei que venha tributar as chamadas big techs (gigantes da tecnologia). Quatro são os temas propostos: o pagamento pelo uso de rede de telefonia (fair share); a criação de uma contribuição para o jornalismo; a cobrança de uma taxa de vídeo "on demand" (com o serviço de streaming); e a criação de imposto sobre a renda, junto com a regulamentação da reforma tributária.
Além do contexto econômico, as big techs, pelo grande poder que têm e também por repercussões em episódios recentes, estão na mira do governo brasileiro, que prevê uma regulamentação imediata. O assunto voltou à pauta após a troca de farpas entre o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e o atual dono do X (antigo Twitter), Elon Musk.
A projeção de arrecadação anual, a partir da criação de um tipo de imposto, incidindo neste poderoso segmento da economia, pode gerar algo próximo dos R$ 82 bilhões aos cofres do País. O governo federal tem tanta urgência em aprovar essa matéria, que "a ideia é encaminhar a proposta do PL até o fim do primeiro semestre deste ano.
Lideranças ligadas ao governo federal argumentam que a medida é necessária para disciplinar melhor o funcionamento desses ambientes digitais no Brasil. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PDS-MG), disse que a regulamentação é inevitável. O tema chegou a ser pautado no ano passado. De acordo com o presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL), o projeto não avançou por pressão das grandes empresas de tecnologia
De acordo com Katia Gutierres, sócia do Barcellos Tucunduva Advogados, especialista em Direito Tributário e gestão tributária, quando se fala em tributos, o assunto nunca é bem-visto, porque sob o ponto de vista dessas empresas e também de seus usuários.
A especialista explica que o usuário, por sua vez, tem receio de um repasse, fazendo com que os serviços de tecnologia oferecidos fiquem mais caros. Katia explica que a tributação das big techs é uma tendência mundial.
A tributação, segundo ela, é uma tendência mundial. Atualmente, grande parte dessas empresas acaba por se estabelecer em países nos quais a tributação favorece aos conglomerados, deixando de recolher impostos onde realizam receitas, o que tem gerado distorções na arrecadação em diversos países, não apenas no Brasil.
Katia acredita que a tributação das big techs deve ser tratada junto com a segunda etapa da reforma tributária que revisará a legislação do imposto sobre a renda. A advogada acha que é necessário que a forma de tributação das grandes empresas de tecnologia seja definida dentro do contexto geral da reforma tributária que segue sendo pensada pelo governo federal. De acordo com a especialista, "ratar a questão isoladamente poderá implicar distorções".
Jornal da Lei - Qual é a sua análise sobre o assunto?
Katia Gutierres - É claro que, sob o ponto de vista dessas empresas (e também de seus usuários), a tributação não é bem-vinda, pois terá, em última análise, o efeito de encarecer os serviços de tecnologia. Entretanto, a tributação das big techs é uma tendência mundial. Atualmente, grande parte dessas empresas acaba por se estabelecer em países com tributação favorecida, deixando de recolher impostos onde realizam receitas, o que tem gerado distorções na arrecadação de diversos países e não apenas no Brasil.
JL - O governo federal tem urgência na criação de lei para taxar as big techs. Qual seria o modelo mais adequado?
Katia - Entendo que a questão deve ser tratada junto com a segunda etapa da reforma tributária que revisará a legislação do imposto sobre a renda. É necessário que a forma de tributação das big techs seja definida dentro do contexto geral da reforma tributária. A meu ver, tratar a questão isoladamente poderá implicar distorções sistêmicas.
JL - Quais são os possíveis reflexos da tributação?
Katia - Sob o ponto de vista econômico, a tributação das big techs implicará maior arrecadação de recursos. Entretanto, para essas empresas (e também para os usuários), a tributação poderá acarretar, em última análise, aumento de preço dos serviços de tecnologia. Quando se trata de tributação sempre haverá um lado positivo e um lado negativo. É necessário criar um modelo que consiga equilibrar as duas pontas.
JL - A taxação das big techs é uma tendência mundial?
Katia - Sim. Esse tema já tem sido pauta na Organização para a Cooperação de Desenvolvimento Econômico (OCDE) há alguns anos, mas tem sido travado, especialmente pelos Estados Unidos, a pretexto da necessidade de neutralidade fiscal, tendo em vista que, muitas dessas empresas, são estadunidenses. A pauta gira em torno da criação de um imposto mínimo global.

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