“Hoje, somente 5% das mercadorias transportadas no Brasil são realizadas por hidrovias. Exploramos atualmente cerca de 20 mil km para navegação comercial e temos potencial para alcançar 42 mil km de navegabilidade”, afirmou Otto Luiz Burlier, diretor da Secretaria Nacional de Hidrovia e Navegação do Ministério de Portos e Aeroportos, durante a sessão “Desatando Nós: Criando um Ambiente Atraente para Redução dos Gargalos Logísticos”, realizada na semana passada, na Rio Pipeline & Logísticas. Ele destacou que as concessões hidroviárias serão decisivas para oferecer um pacote de serviços, atrair capital privado, reduzir custos e diminuir a dependência de recursos públicos, com leilões previstos já para o primeiro semestre de 2025.
Na mesma mesa, Ana Mandelli, diretora executiva de Downstream do IBP, ressaltou a necessidade de garantir segurança jurídica para viabilizar investimentos em hidrovias, especialmente no Norte, onde a seca dificulta a navegabilidade e pressiona o escoamento da produção do Centro-Oeste.
Elaine Radel, da INFRA S.A., destacou que o planejamento logístico precisa ser tratado como política de Estado, com estudos bem estruturados, participação da sociedade e mitigação de riscos em concessões. Já Lucas Caetano, sócio da Leggio, apontou oportunidades em terminais marítimos e dutoviários no Paraná e no crescimento multimodal do Pará, que combina fluxos ferroviários e hidroviários, como caminhos para ampliar a competitividade da cadeia logística.
A integração de dutos em projetos de multimodalidade no Brasil ainda é um desafio. Durante o painel “Desafios para a Integração Logística: Explorando a Multimodalidade”, Marcos Ortolan, gerente de Desenvolvimento de Negócios da Transpetro, destacou que um único duto de 10 polegadas é capaz de transportar por semana o equivalente a um navio MR2, com cerca de 45 mil m³ de derivados de petróleo. “Os dutos são a espinha dorsal invisível da nossa logística de fluidos, capazes de desafogar rodovias e ferrovias.”
Vinicius Patel, diretor de Administração Portuária do Porto do Açu, destacou que a falta de conexão dutoviária limita a capacidade de escoamento e atração de novas cargas. Ele lembrou que o Porto do Açu dispõe do maior mineroduto em operação no mundo, com 26 milhões de toneladas de minério transportadas por ano.
O diretor Comercial de Carga Geral da Rumo, Igor Figueiredo, reforçou a necessidade de sinergia entre os modais. “Não se trata de competição, mas de integração. O Brasil precisa de todos os modais trabalhando em conjunto.”
Quatro anos após a sanção da Nova Lei do Gás, a indústria de transporte de gás natural no Brasil atua para destravar os investimentos no setor. No painel “Abertura do mercado e avanços regulatórios para expansão da rede de transporte”, os CEOs das principais transportadoras do país — Erick Portela Pettendorfer (NTS), Jorge Hijjar (TBG) e Tomaz Guadagnin (TAG) — ressaltaram os ganhos do processo de abertura e a necessidade de segurança jurídica e arcabouço regulatório robusto.
"Tivemos grandes transformações desde 2021, com o aumento exponencial no número de contratos, impulsionado pela integração entre transportadoras", afirmou Erick Portela Pettendorfer, CEO da NTS. Jorge Hijjar, diretor-presidente da TBG, destacou o biometano como uma nova fronteira, mencionando que a TBG já possui 17 cartas de intenção de produtores interessados em injetar o gás renovável na rede. Tomaz Guadagnin, CEO da TAG, enfatizou a importância do diálogo e do fortalecimento do modelo regulatório. “Vivemos um processo de abertura muito intenso, hoje temos 400 contratos. Mas precisamos aumentar ainda mais a liquidez do mercado”.
Na sessão Gás Natural no Brasil como combustível de transição energética e os desafios do licenciamento, especialistas discutiram investimentos na infraestrutura de transporte de gás e os desafios ambientais. Claudia Souza, gerente-executiva da ATGás, ressaltou a importância do Plano Coordenado de Desenvolvimento do Sistema de Transporte que prevê R$ 50 bilhões em novos dutos, estações de compressão e pontos de entrega.
Breno Pantoja, chefe de Serviço de Estudos e Projetos Estratégicos do INEA, apontou a necessidade de licenciamento ambiental específico, enquanto Leonardo Teixeira, analista ambiental do IBAMA, destacou que a variável ambiental precisa ser incluída em todas as etapas do desenvolvimento do projeto, não apenas no final. “Esse processo elimina gargalos e reforça a agenda climática.” Thomaz Toledo, presidente da CETESB, reforçou a contribuição do gás natural para a qualidade do ar e o controle da poluição, destacando desafios para cumprimento de prazos e capacidade dos órgãos ambientais.