Pela primeira vez, pesquisa da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) aponta uma tendência maior do segmento em colocar a tecnologia como um de seus principais investimentos. Na edição 2023 do levantamento, realizado desde 2014, que traça um perfil do setor, a prioridade da maioria das empresas entrevistadas foi a aquisição de softwares e inovações digitais, superando os investimentos em modernização de suas instalações.
Na avaliação da diretora executiva da ABOL, Marcella Cunha, "isso dá a dimensão do quanto essa mudança tecnológica que está acontecendo se reflete na nossa área". Segundo a dirigente, isso fica mais evidente ao se observar que, na segunda colocação, está o emprego de capital em compra de maquinário, algo que, na sua avaliação, seria uma questão compulsória devido ao desgaste natural dos equipamentos, enquanto o gasto em ferramentas digitais tem uma condição mais eletiva.
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De acordo com o CTO da SOU.cloud, Rodrigo Castro, há quatro grandes ondas tecnológicas que neste momento estão impactando bastante o setor logístico. São elas: a IOT (a chamada Internet das Coisas), a Inteligência Artificial (IA), a robotização e as soluções em nuvem. Aplicada em toda essa esteira, explica o executivo, soma-se a questão da segurança da informação "para que os dados não vazem e se garanta a confidencialidade e tenham acesso às informações apenas as pessoas certas".
"Sobre a IA, por exemplo, ela atua na otimização de ciclos e fluxos, fazendo com que não dependam mais do ser humano. A logística gera uma quantidade de dados tão grande que as pessoas não conseguem, sozinhas, dar conta disso. Também produz uma maior eficiência logística, pois depois que o caminhão está carregado e sai do armazém, ela ajuda a traçar o melhor roteiro, a ordem das entregas de acordo com o produto, quantidade, valores, já cruzando com o clima, o tráfego, o horário...", detalha.
A visibilidade dos dados operacionais de transportes por toda cadeia de logística - que inclui fornecedor, indústria, distribuidor varejo - foi outro dos pontos sensíveis do segmento corrigidos por meio da digitalização.
Nesse sentido, a GIC Brasil lançou uma solução que ajuda a melhorar a experiência de compra do consumidor a partir da simplificação de processos. A tecnologia chamada RUB, oferece total visibilidade das operações do negócio como, rupturas, abastecimento, aumento das vendas, melhoria na exposição dos produtos e, principalmente, indicadores da operação mais precisos. Segundo dados da companhia, a ferramenta permite uma redução da ruptura de produtos na gôndola em até 90% e as divergências de etiquetas em até 85%, garantindo um aumento na produtividade de até 87%. Já na margem de vendas do negócio é possível obter um incremento de até 2%.
O analista de Sucesso do Cliente da eSales, Filipe Santos, acrescenta outro importante efeito da inclusão tecnológica no setor é permitir um melhor planejamento do posicionamento das cargas dentro do veículo, evitando demora no momento da entrega e fidelizando o cliente. "Recentemente, o Mercado Livre divulgou um índice que aponta para a importância do timing de entrega. A cada dia reduzido na data prevista, há um aumento de 20% de crescimento na venda de determinado produto da empresa. Isso mostra como o fator tempo está influenciando na decisão de compra do consumidor final", aponta Santos.
Além disso, há uma considerável redução dos custos. "A partir do momento em que se pode cruzar um maior número de variáveis, consegue-se uma redução dos valores de fretes por meio do histórico de fretes. Assim, conseguimos simular os melhores parceiros para a execução dos destinos e usar menos caminhões ao diminuir os embarques", completa o especialista.
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Descarbonização de veículos é um tema que veio para ficar
Entre as medidas já adotadas estão o uso de veículos elétricos e utilização de energia renovável
freepik/divulgação/jcOutro aspecto afetado pela otimização do uso de veículos é a descarbonização, tema que está entre as novidades da pesquisa Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL). Quando se trata do assunto, o objetivo médio das empresas consultadas para redução de pegada de carbono é de 37% em até oito anos. As que buscam diminuir em 100%, o prazo seria entre 20 e 26 anos.
Entre as medidas já adotadas estão o uso de veículos elétricos e utilização de energia renovável, com 41% e 53% das empresas apostando nessas soluções, respectivamente. A eletricidade para veículos, conforme apontado por 39% das empresas consultadas, teve a preferência. Outras fontes em uso são o etanol (33%) e o GNV (26%). Ambos possuem baixos níveis de emissão de carbono e maior quantidade de pontos de abastecimento espalhados pelo país.
Há ainda o biogás, diesel verde, gás natural liquefeito e hidrogênio verde, usados por menos de 10% dos operadores, porém com grande potencial para se desenvolverem no médio e longo prazos. A maior parte dos OLs (63%) afirmou que absorve totalmente os custos para redução das emissões, sem qualquer tipo de repasse para o preço final de seus serviços.
Principais tecnologias voltadas ao setor
Sistema de Gerenciamento de Armazém (WMS - Warehouse Management System): permitem que os Operadores Logísticos controlem e otimizem as operações de armazenamento de mercadorias. Eles possibilitam um acompanhamento em tempo real dos estoques, a localização eficiente de itens e a gestão automatizada de fluxo de materiais, resultando em maior precisão e redução de erros no armazenamento e na coleta de produtos.
Rastreabilidade e visibilidade: o uso de tecnologias como RFID (Identificação por Radiofrequência), códigos de barras e sistemas GPS tornaram possível o rastreio de mercadorias em tempo real ao longo de toda a cadeia de suprimentos. Isso aumenta a visibilidade das operações logísticas, permitindo que os OLs e seus clientes acompanhem a localização e o status das remessas, melhorando o planejamento e a tomada de decisões.
Automação: o avanço da automação na logística está transformando os armazéns e centros de distribuição. Sistemas automatizados de picking (empacotamento) e movimentação de mercadorias agilizam as operações, reduzem a dependência de mão de obra e diminuem os custos operacionais.
Big Data e Analytics: com o aumento da quantidade de dados gerados pelas operações logísticas, as soluções de big data e análise de dados possibilitam a obtenção de insights valiosos. Os OLs podem usar essas informações para identificar padrões, prever demandas futuras, otimizar rotas e tomar decisões informadas que levem a uma maior eficiência.
Drones: quando se trata de entregas, a last mile, ou última milha, ganhou atenção especial nos últimos anos. É justamente nessa última fase de envio das mercadorias que os drones passaram a ser vistos como uma alternativa eficaz. Há OLs que realizaram entregas de vacinas contra a Covid-19 por meio de drones nos Estados Unidos e hospitais rurais na África. Outros investiram em drones para tornar a gestão de estoque em armazém mais eficiente.
Inteligência Artificial: aos poucos, os Operadores Logísticos têm incorporado essa nova funcionalidade, com o objetivo de buscar melhorias, como a otimização da operação ao longo da cadeia de suprimentos, em tempo real, por meio do uso de algoritmos, possibilitando análises descritivas, diagnósticas e preditivas.
Robotização: parcial ou integralmente presente em grande parte da cadeia, desde o chão de fábrica até a o transporte, os trabalhos desenvolvidos pelos robôs conferem uma melhor precisão nos processos.
Cloud: na nuvem, todas essas ferramentas tecnológicas se comunicam. Além de ajudar a gerenciar a grande quantidade de dados envolvidos, facilita o cruzamento de informações e abre novas possibilidades estratégicas.
Fontes: Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL); Rodrigo Castro, CTO da SOU.cloud; e Filipe Santos, analista de Sucesso do Cliente da eSales
Faturamento do setor representa 2% do PIB nacional em 2023
Logística modais transporte
freepik/divulgação/jcCom 75% das companhias consultadas tendo registrado uma melhora significativa no faturamento, os valores e as prioridades no emprego deste capital (cuja receita bruta chegou a R$192 bilhões) é um importante aspecto do estudo. Segundo a entidade, esse montante equivale a quase 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e a 17% dos custos de transporte e armazenagem do País, que somam R$1,1 trilhão.
Os principais indicadores financeiros dos Operadores Logísticos demonstraram uma melhora representativa em 2023 em relação ao ano anterior. Para 76% dos OLs houve um aumento na receita bruta, sendo mais sensível para os OLs de grande porte, os quais 92% aumentaram a receita.
Entretanto, o aumento no faturamento nem sempre trouxe aumento da margem operacional, visto que uma quantidade menor de OLs relataram também aumento na margem (51%). Uma das causas principais foi a elevação dos custos do setor, os quais não foram repassados integralmente para o preço dos serviços (75% dos OLs não passaram integralmente os acréscimos de custos), seja por questões mercadológicas ou estratégicas. Todavia, alguns Operadores Logísticos alcançaram maiores margens, mesmos em repassar todos os custos.
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Aumento da produtividade operacional, atuação em serviços de maior valor agregado e em setores mais rentáveis foram alguns dos fatores para aumento de margem. A maioria dos OLs também aumentou a quantidade de clientes em 2023, garantindo assim mais escala de movimentação, diluição de custos fixos e crescimento do negócio. Os OLs de maior porte foram os que mais atraíram novos clientes (83%).
Estes e outros números fazem parte da edição 2024 do 'Perfil dos Operadores Logísticos', estudo promovido desde 2014, a cada dois anos, pela Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL) e encomendado ao Instituto de Logística e Supply Chain (ILOS). O material analisa a performance das operadoras e revela, ainda, detalhes sobre a importância, evolução, desafios e anseios do setor.
Entre as novidades, estão informações sobre a jornada de descarbonização das companhias e a percepção delas sobre as infraestruturas portuária e aeroportuária brasileiras. Dados sobre faturamento, investimentos, inovação e geração de empregos seguem parte do mapeamento e demonstraram crescimento.
A pesquisa estimou um universo de 1.300 empresas, de pequeno, médio e grande portes, que atenderam a pré-requisitos determinados, como a Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE) e serviços oferecidos. Deste, 127 operadores, entre eles, os associados à ABOL, colaboraram diretamente com o material. Juntos, eles representam 40% do faturamento do setor.