Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 27 de Agosto de 2025 às 00:05

Não deixe a governança para amanhã, pois o próprio amanhã depende dela

Tiago Lacassagne Mattos - CFO do Grupo Santa Lúcia

Tiago Lacassagne Mattos - CFO do Grupo Santa Lúcia

/Grupo Santa Lúcia/Divulgação/JC
Compartilhe:
Tiago Lacassagne Mattos
CFO do Grupo Santa Lúcia
CFO do Grupo Santa Lúcia
Recentemente, num breve post em meu perfil do LinkedIn, comentei que a palavra governança soa um tanto imponente — e especulei que essa aparente barreira linguística talvez contribua para tantas PMEs se manterem fora da conversa. Em contrapartida, quem compreende minimamente esse conceito logo percebe que ele é fundamental para a longevidade não só das grandes corporações, mas de toda e qualquer companhia.
No presente artigo, quero aprofundar um pouco o tema, mostrando como a governança impacta a rotina nas empresas e por que sua implementação é um investimento estratégico para o futuro.
Governança: uma base sólida para crescer
Ao longo da minha trajetória, pude verificar na prática que a governança corporativa é especialmente valiosa em contextos críticos ou de mudanças.
Em momentos de crise financeira, por exemplo, a governança conduz a decisões racionais, éticas e alinhadas aos interesses de longo prazo dos stakeholders. Já em tempos de expansão acelerada, ajuda a avaliar eventuais riscos, garantindo crescimento sustentável.
A sucessão é outro ponto sensível, principalmente em empresas familiares — e a governança novamente aparece como guia para uma transição suave e estruturada. Por sua vez, o relacionamento com investidores e parceiros também depende muito de uma boa governança, uma vez que ela fortalece a credibilidade da empresa no mercado.
Por falar nisso, crises de reputação ou problemas éticos expõem frequentemente a fragilidade, ou mesmo a ausência desses controles — e aí pode ser tarde demais. Por isso, é preciso agir proativamente, instituindo boas políticas de governança o mais cedo possível.
Tamanho ou maturidade?
A ideia de que governança “é coisa de empresa grande" segue muito presente no imaginário de pequenos empreendedores, mas é um pensamento para lá de perigoso. Afinal, qual a lógica de deixar uma pequena ou média empresa desprotegida? Aliás, isso precisa ficar muito claro: governança é, basicamente, proteção.
Empresas familiares e PMEs, em geral, precisam muito disso, principalmente porque costumam enfrentar alguns desafios bem específicos. Cito, por exemplo, conflitos entre família e empresa, políticas de sucessão indefinidas, centralização de decisões e dificuldade para acessar crédito/investidores. Consequentemente, para crescer de forma organizada num contexto como esse, é indispensável profissionalizar a gestão e adotar práticas de governança que protejam a continuidade da empresa.
Estipular políticas para a tomada de decisão, adotar indicadores de desempenho adequados e formalizar regras de sucessão claras já são bons passos iniciais em termos de governança. Afinal, o mais importante é que ela deixe logo de ser “um palavrão” para se tornar uma ferramenta útil, catalisando o amadurecimento da empresa.
Sinais de alerta: está faltando governança?
A falta de boas práticas de governança nem sempre causa problemas visíveis de imediato, mas planta “sementes de crise”. Os principais sinais de alerta nesse sentido incluem:
  • Decisões sem transparência e concentradas nas mãos de poucas pessoas;
  • Conflitos recorrentes entre sócios ou familiares, afetando o ambiente e os resultados;
  • Falta de clareza sobre papéis e responsabilidades;
  • Tomada de decisões baseadas em “achismo” e não em dados;
  • Ausência de planejamento sucessório, tornando incerto o futuro da gestão;
  • Deficiência na prestação de contas e no acompanhamento de resultados;
  • Dificuldade de atrair profissionais qualificados (que geralmente buscam ambientes organizados e com oportunidades claras);
  • Repetição dos mesmos erros e estagnação da empresa.
A governança é o caminho para livrar a empresa desses e de muitos outros males evitáveis. Para tanto, quatro pilares devem ser priorizados:
  1. Transparência: clareza e abertura nas informações e processos;
  2. Accountability: definição clara de responsabilidades e consequências;
  3. Equidade: tratamento justo e igualitário com todos os stakeholders;
  4. Responsabilidade corporativa: compromisso com os princípios de ESG.
É com atenção a esses pontos — e dando um passo de cada vez para validar na prática os benefícios de cada melhoria — que uma empresa efetivamente amadurece. Aliás, com a experiência acumulada durante mais de duas décadas em companhias de médio e grande porte, posso afirmar que nem adianta querer implantar tudo de uma vez (tampouco “copiar” modelos de grandes corporações). O melhor é fazer o movimento aos poucos, mas de maneira consistente, e evoluir à medida que a organização conquista maturidade.
Por fim, é importante entender a governança corporativa como um investimento. Ela exige disciplina nos “aportes” (principalmente de tempo, dedicação e resiliência para desconstruir velhos paradigmas), mas oferece como retorno as bases de que sua empresa necessita para sobreviver e prosperar.
Por isso, não deixe para amanhã. Não espere o futuro. Use a governança para construí-lo!

Notícias relacionadas