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Publicada em 26 de Dezembro de 2023 às 18:57

Tecnologia impulsiona assessorias contábeis

Mudança do analógico para o digital está alterando a rotina dos escritórios

Mudança do analógico para o digital está alterando a rotina dos escritórios

/Christina Morillo/Pexels/Reprodução/JC
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Caren Mello, especial para o JC
Caren Mello, especial para o JC
A Contabilidade passa por um importante momento de transição. Com as novas tecnologias, o alcance a soluções que agilizam o trabalho faz com que o perfil do contador ou do escritório se transforme. Se antes o profissional tinha como base o papel ou planilha de Excel, hoje plataformas e softwares fazem trabalhos mais repetitivos, abrindo possibilidade de uma atuação mais próxima ao cliente e para análises e estratégias.
Tema recorrente e necessário em todas as áreas, a mudança do analógico para o digital não poderia ficar de fora da área de Contabilidade: afinal, se o próprio cliente já fez essa mudança, não há como a assessoria contábil ficar para trás. A adoção de novos sistemas já está fazendo o diferencial em muitas empresas, com o evidente crescimento da clientela.
A chamada Contabilidade do Futuro está direcionando o profissional da área para assumir um papel mais próximo à administração do negócio do seu assessorado. "Ao longo dos anos, o contador esteve sempre muito focado no papel, em lançamentos, em fechar o balancete. Estávamos preocupados em fazer essa entrega para o Fisco. Por que não fazer essa entrega para o cliente?", suscita a contadora especialista em Tecnologia para Negócios, Marina Goergen Karczeski e proprietária da Contus.
A empresa, sediada em Passo Fundo, é voltada para a transformação da prática contábil, e tem, como enfoque, transformar dados em informação e o conhecimento em decisão.
A otimização das rotinas, por outro lado, está suprindo a demanda por profissionais. De acordo com o Conselho de Supervisão da Contabilidade de Empresas de Capital Aberto dos Estados Unidos (PCAOB), um colegiado responsável pela publicação de normas de auditoria, há um forte declínio de graduados naquele país. Embora não seja o mesmo caso do Brasil, onde se tem um dos melhores índices de formação e empregabilidade, é aqui que países como os Estados Unidos vêm buscar quem possa abastecer a demanda interna.
No Brasil, de acordo com dados do Conselho Federal de Contabilidade (CFC), desde janeiro deste ano, mais de 526 mil contadores apresentam registro ativo. Algumas empresas, no entanto, já demonstram preocupação com o aumento da demanda interna e a falta de mão de obra habilitada para essa nova era digital. Parte dos profissionais ainda não se atualizaram para acompanhar esse movimento, buscando conhecimento de ferramentas de Business Intelligence.
A Convexa, empresa de Contabilidade que atua em Porto Alegre há 14 anos, investe em tecnologia desde sua criação e, recentemente, fez uma parceria com a Ufrgs, para levar a realidade de uma empresa voltada ao digital para as novas gerações, incentivando alunos a buscarem a formação. Em uma via de duas mãos, está atenta aos talentos que despontam na academia. "O mercado carece de bons profissionais. O uso da tecnologia pode ser um atrativo para os jovens. É importante eles olharem a Contabilidade por essa ótica porque a profissão oferece um futuro brilhante a partir da tecnologia", avalia Pedro Paladino, um dos sócios da Convexa.
Paladino, que também é administrador de empresas com especialização em Controladoria de Gestão, lembra que, quando ingressou na Contabilidade em 2010, já se falava na chegada da tecnologia no setor. Mais ainda, havia o temor que a automatização suplantasse o trabalho humano, tema bastante presente atualmente com a chegada da Inteligência Artificial.
Como em todas as áreas, observa o contador, não há possibilidade de substituição. "Na Medicina, a inteligência artificial pode substituir um diagnóstico, mas nada substitui a inteligência de um médico com o apoio da tecnologia. Ela potencializa. O mesmo vai acontecer na Contabilidade", observa Paladino, ao lembrar que aquele que souber usar a inovação a seu favor, será diferenciado.
 

Perfil do profissional contábil passa de fiscal para consultivo

Marina Karczeski criou escritório voltado para assessoramento automatizado

Marina Karczeski criou escritório voltado para assessoramento automatizado

/Ane Apio/Divulgação/JC
O contador do futuro deixará de ser fiscal para ser consultivo. E quem mais ganha são as micro e pequenas empresas, com estruturas mais enxutas de negócio. Atualmente, mais de 95% dos empreendimentos do Brasil são de pequeno porte e que atuam sem uma estrutura de gestão, consultoria ou direção. O profissional da Contabilidade ocupará esse espaço no assessoramento ao cliente.
São os pequenos empresários que mais necessitam do apoio desse novo profissional, segundo explica a especialista em Tecnologia para Negócios, Marina Goergen Karczeski. Filha de um contador e de uma empresária, Marina teve no pai o incentivo para buscar especialização na área.
No escritório da família, surgiam vários casos em que o cliente não chegava com um problema fiscal ou contábil, mas com um problema de negócio, de estratégia, e esperando esse retorno do contador. "A tecnologia abre esse espaço para o contador se posicionar de uma forma mais consultiva e mais parceira do empresário", avalia.
Proprietária da Contus, de Passo Fundo, empresa que nasceu com esse novo perfil, Mariana também faz parte da Comissão de Estudos de Tecnologia da Informação do Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul (CRCRS). Com clientes em vários estados do Brasil, ela diz acreditar em um futuro com a tecnologia cada vez mais presente na vida das pessoas. "Ela tem transformado nosso papel e nosso valor diante daqueles que recebem apoio na gestão", observa, ao suscitar a importância da especialização para as novas gerações.
Dentro dos escritórios, em termos de sistemas de base, já é difícil encontrar quem não use sistemas para operações contábeis. Para outras operações, o mercado já tem disponível ferramentas importantes, e a inovação não para. Já são possíveis lançamentos, conciliações, importação de extratos, validações, conferências e pagamentos de guias e certidões e ferramentas. Todos os dados do ERP (software de gestão da empresa) podem ser importados para o escritório contábil.
Também é possível apresentar ao cliente todos esses dados por meio de sistemas que permitam uma visão global do empreendimento. De forma didática, o cliente recebe análises de fluxos, de turnover (taxa de rotatividade de funcionários), análise de curva ABC (de classificação de itens do estoque), produtos mais ou menos vendidos, maiores clientes ou consumidores. Já com os gráficos é possível apresentar ainda, em tempo real, um dashboard (representação visual dos principais indicadores) para a tomada de decisões.
Com essa estrutura, Marina atende a clientes locais, de fora do Estado e até no Norte do País. "O digital ajuda muito. Podemos ter esse contato com o cliente lá de Manaus, e dar suporte para ajudá-lo com o negócio. É um novo mundo para a Contabilidade", diz.
Na Marchezan Contabilidade, de Porto Alegre, as proprietárias criaram um modelo de serviço ao cliente com uma visão mais abrangente. O escritório cuida da parte financeira e também da jurídica, a partir de parcerias.
Há uma equipe voltada para o atendimento via WhatsApp, de forma a dar resposta imediata ao cliente. Além do uso compartilhado do drive pela plataforma Datacempro, uma solução da escrituração contábil, há a integração que agiliza processos e facilita a rotina da empresa. O software faz o fechamento do balanço, do balancete e das declarações.
A contadora Gabriela Marchezan também utiliza o sistema HubCount para apresentações ao cliente. "A ferramenta deixa bonito o que é preto e branco. No lugar de o meu cliente receber uma folha de papel com resultados da empresa, ele recebe gráficos e planilhas de demonstrativos em tempo real, conforme a nossa contabilidade for fechando", diz Gabriela, que divide o escritório com a mãe Alice Marchezan, também contadora. "Ela ficar na parte técnica e eu, 100%, no atendimento do cliente, não só nos processos digitais, mas na experiência. Não basta ficarmos focadas em correr atrás de não ter multa, de não perder um prazo. Temos que ter foco no cliente, de forma que ele sinta que faz parte do escritório", defende.

Mercado carece de profissionais habilitados para nova realidade do setor

Em parceria com a universidade, Paladino incentiva jovens na especialidade

Em parceria com a universidade, Paladino incentiva jovens na especialidade

Natália Escudeiro/Divulgação/JC
De acordo com um levantamento Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada da (Ipea), a Contabilidade é uma das áreas com a maior taxa de empregabilidade no Brasil. A profissão ocupa o 4° lugar no ranking nacional, com cerca de 93,8% dos profissionais formados e contratados. Em outro levantamento, esse feito pelo Page Group, da Inglaterra, o Brasil passa por transformações na economia e existem 38 cargos que estão em destaque. Um deles é o de analista contábil.
Na Convexa, empresa de Porto Alegre com foco em tecnologia, já é sentida a falta de profissionais atualizados. Tanto que foi feita uma parceria com a Ufrgs para incentivar o estudante nesse caminho. Um dos sócios, o contador e administrador Pedro Paladino, diz que incentiva os jovens a entenderem essa nova forma de fazer Contabilidade. "Se no passado, o profissional era mais dedicado a registrar as movimentações, hoje ele é muito mais analítico. A contabilidade hoje serve também de instrumentos para tomada de decisões, de avaliação da empresa. Quem entender isso, terá um futuro brilhante", comenta.
Paladino entende que os escritórios mais tradicionais correm o risco de perder clientes ou, no mínimo, não colaborarem com seu desenvolvimento. "Ele está ali, fazendo digitações ou integrações manuais. Vai demorar mais tempo para entregar uma informação que, quando chegar, pode já estar defasada. Com a integração dos dados de forma muito mais eficiente, o empresário tem acesso às informações de forma rápida e isso acaba contribuindo no processo da empresa. Quanto mais integração tiver com os sistemas dos clientes, mais assertividade", garante.
O crescimento do uso da tecnologia ou da Inteligência Artificial não assusta o profissional. A Contabilidade, diz ele, é a linguagem universal dos negócios. "Ela foi criada para podermos enxergar a empresa e, para isso, é preciso a sensibilidade do profissional. Essa é a beleza da Contabilidade."

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