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reportagem

- Publicada em 13 de Novembro de 2023 às 17:07

Exame de Suficiência credencia profissionais de contabilidade

Prova é necessária para a obter o registro junto ao Conselho Regional de Contabilidade e,assim, poder exercer a profissão

Prova é necessária para a obter o registro junto ao Conselho Regional de Contabilidade e,assim, poder exercer a profissão


STOCKVAULT/DIVULGAÇÃO/JC
Caren Mello, especial para o jc
Caren Mello, especial para o jc
O Exame de Suficiência exigido pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) já foi virtual, esteve suspenso por alguns anos e passou até por um ataque cibernético antes de se consolidar como requisito para obter a credencial para o exercício da profissão no Brasil. Já tendo certificado milhares de profissionais da área, a avaliação é tida hoje por empresas, universidades e profissionais como uma ferramenta fundamental de garantia de qualificação funcional.
Voltado para bacharéis em Ciências Contábeis, o Exame garante o registro em seus respectivos Conselhos Regionais. No País, assim como no curso de Direito, com sua temida prova da OAB, o de Contabilidade se utiliza desse recurso para medir conhecimentos e, assim, nivelar os profissionais que entram no mercado.
A cada ano são aplicadas provas semestrais. Com duração de quatro horas, o exame avalia conteúdos que vão desde conhecimentos específicos, como Auditoria, Perícia, Teoria da Contabilidade e aplicada ao Setor Público, até conhecimentos sobre Direito, Ética, Legislação Aplicada e Língua Portuguesa Aplicadas. O índice de reprovação tem sido alto. Chegou a atingir 70% dos inscritos em 2012, e vem se mantendo com médias pouco maiores de 60% em todo país.
Dentro da classe contábil, o exame é muito bem avaliado. Além de promover e destacar a qualificação dos profissionais, a exigência do registro evita que postos de trabalho sejam exercidos por ocupantes de áreas afins.
O presidente do CRCRS (Conselho Regional de Contabilidade do Rio Grande do Sul), Márcio Schuch, vê o exame como uma importante régua de aferição de conhecimento, diante de um cenário de questionamentos sobre a qualidade do ensino em todo país. Sobre o desempenho dos alunos no Estado, Schuch prefere não comemorar. O baixo percentual de aprovação teria muitas causas, mas o nível de ensino, desde o fundamental, é a principal, aponta ele. "É uma consequência da precariedade do ensino em todas as áreas. Mas, no nosso caso, fica mais evidente pelo próprio exame", observa.
Os índices também se justificam, segundo o dirigente, pela característica de regulação da área contábil, isso é, a legislação vigente no início do curso não é a mesma após a conclusão. "São muitas normas. Isso traz uma maior complexidade na hora de se aferir os conhecimentos mínimos. O aluno fica quatro, cinco, até sete anos na graduação, estudando sobre diversas área da Contabilidade. Ao final, pode ser que se distancie de determinada matéria lá do início da faculdade. Como coordenador de curso, acompanhei bastante essa dificuldade dos alunos passarem no exame."
A cada nova edição, os resultados são olhados de forma ainda mais minuciosa por coordenadores e professores dos cursos, como forma de identificar pontos fortes e fracos nas grades curriculares. De acordo com a professora Kátia Alves dos Santos, do curso de Administração e Ciências Contábeis da Faculdade São Judas Tadeu, os alunos da instituição vêm apresentando bons resultados nas provas em função do modelo de ensino. "Temos uma exigência de ofertar aulas e provas presenciais, o que qualifica ensino e aprendizagem", conta.
A professora, por outro lado, se ressente do aumento de cursos que oferecem o que chama de um apanhado de conhecimentos, resultando em profissionais despreparados e sem capacidade de fazer um balanço ou uma auditoria. "A prova do CFC consegue dar uma diretriz importante para o futuro contador", diz ela, ao citar os conteúdos necessários a serem dominados por um bom profissional.
Coordenadora do NAF (Núcleo de Assessoramento Fiscal), grupo que presta assessoria contábil dentro da faculdade, Kátia destaca ainda a dificuldade tanto para estudantes, que buscam o registro por meio do exame, como para profissionais da área se manterem sempre atualizados, em função da enorme quantidade de novas leis a cada dia. "Dormimos com o conhecimento de uma legislação e acordamos com novas. Por isso, também, a desaprovação", indica.
A docente conta que a comunicação e a pesquisa têm sido ferramentas fundamentais para esta atualização. Plataformas digitais, de mídias sociais e sites são permanentemente consultados para que nenhuma novidade passe despercebida. "A saída é estar sempre atualizado e buscar ser o mais especializado possível. Aquele profissional que se forma e fica apenas com o conhecimento da universidade vai ficar fora do mercado", garante.
 

Exame ratifica a necessidade de controle e qualificação do ensino

Nast critica abertura de cursos sem um controle mais apurado, uma vez que isso interfere na qualificação profissional

Nast critica abertura de cursos sem um controle mais apurado, uma vez que isso interfere na qualificação profissional


/Andrieli Siqueira/Feevale/jc
Coordenador dos cursos de Ciências Econômicas, Ciências Contábeis e Gestão Financeira da Feevale, o professor João Batista Nast de Lima vê como fundamental a existência do Exame de Suficiência. A aplicação das provas e a avaliação dos resultados contribuem sob diversos aspectos para a atuação do contador, segundo o docente. Se, de um lado, credencia e valoriza o profissional para a função principal de gestão dos negócios de seus clientes, de outro, incentiva instituições a buscarem qualificação permanente.
O exame, no entanto, revela aspectos importantes para a sociedade, na visão do coordenador. Entre eles, a precarização do Ensino Superior. Embora os resultados nos estados do Sul do País venham se revelando superiores aos restante do Brasil a cada prova, os índices poderiam ser ainda melhores caso as instituições fossem mais valorizadas. Para Nast, a abertura de cursos sem um controle mais apurado interfere diretamente na qualificação dos profissionais que dali saem para o mercado. "Da maneira como está, o exame se torna cada vez mais necessário", comenta Lima, ao avaliar os bons resultados no Rio Grande do Sul e dentro da Feevale.
Na universidade desde 2000 e na coordenação há 17 anos, Nast acompanha a transição pela qual passa o curso desde a criação do exame e dos esforços para atualização permanente em função da publicação quase que diária de normativas.
JC Contabilidade - O Exame de Suficiência passou por algumas dificuldades logo que foi criado. Quais foram os entraves?
João Batista Nast de Lima - O exame passou por dois momentos históricos, após a homologação em 1999. A primeira prova foi no ano de 2000, indo até 2005. Logo após houve uma pressão e, até, uma judicialização. As provas voltaram a ser aplicadas em 2011, a partir de uma resolução do Conselho Federal em 2010. Hoje ele certifica bacharéis através de uma prova bastante abrangente.
Contab - Na formulação da prova, quais as exigências que irão apontar características importantes de um profissional da área?
Nast - A prova tem 13 áreas temáticas e correlatas na Contabilidade, incluindo Matemática Financeira, Língua Portuguesa, entre outras. São áreas que o Conselho Federal entende como competências mínimas para um profissional da Contabilidade em todo País. São 50 questões objetivas, sendo necessário acertar, no mínimo, a metade.
Contab - Como tem sido o desempenho dos estudantes do Rio Grande do Sul em relação aos demais estados?
Nast - Na última edição do exame, em setembro deste ano, a média de aprovação nacional foi de 17%, enquanto que aqui no Estado tivemos um percentual próximo a 22%. Os três estados do Sul - Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina -, sempre são os melhores ranqueados. Na edição anterior, no primeiro semestre, aprovamos 30%, para um percentual nacional de 22%.
Contab - É um resultado a ser festejado?
Nast - É um resultado muito positivo. Tanto na Feevale quanto nas demais grandes universidades, temos um enorme e permanente cuidado com a qualidade oferecida aos alunos. Por um lado, é muito positivo, também, porque temos um grande número de instituições de ensino superior ofertando cursos, principalmente na modalidade EAD. Por outro, vemos uma nítida precarização do Ensino Superior. Segundo o e-Mec (sistema de acompanhamento dos pedidos de credenciamento de instituições), só em Novo Hamburgo existem 51 instituições, incluindo os polos das maiores universidades do Estado. O que vemos é a massificação do Ensino Superior de uma forma predatória. São grandes grupos que oferecem cursos com valores que nenhuma boa universidade consegue competir. Há um movimento predatório promovido por esses grandes grupos. Os cursos encolheram, nitidamente.
Contab - O exame seria, então, um filtro importante para o mercado?
Nast - Sem dúvida. Da maneira como está, o exame se torna cada vez mais importante. Ele ratifica a necessidade de um controle pelos órgãos de classe, além dos cursos. Mas ainda há a necessidade de um controle maior pela própria sociedade em função dessa profusão de cursos.
Contab - Os conselhos profissionais também desempenham uma espécie de controle de qualidade?
Nast - Os conselhos fazem esse papel. É fundamental que o órgão de classe tenha este controle sobre quem está desempenhando este papel em um escritório contábil, de ter certeza de que o contador está lá. Não é o responsável pelo setor financeiro, é o contador. A ideia é de que o órgão de classe tenha esse controle de quem está operando.
Contab - Na área da Contabilidade, existe uma grande quantidade de publicação de normativas. Como é o processo de atualização?
Nast - A cada edição do exame, logo após a publicação do ranking das regiões, com base nas perguntas e na análise do número de acertos e erros, fazemos uma avaliação para vermos o nível de desempenho dos alunos. Fazemos um mapeamento e o cruzamento das informações para verificar os pontos de melhoria no desempenho e os pontos que devem ser readequados. A Feevale está, historicamente, acima da média do Rio Grande do Sul.
Contab - Em que medida os cursos são afetados por estas mudanças?
Nast - Os cursos são muito afetados por isso. São produzidas no Brasil mais do que uma nova norma diária sobre matéria tributária. Esta é uma característica bem brasileira. É uma preocupação permanente. Temos o NDE - Núcleo Docente Estruturante, que é o grupo responsável por esta permanente atualização. É ele que olha para estas questões de qualidade do curso. Os professores vão mapeando essas mudanças para essas adequações.
Contab - Como podemos dimensionar a importância do Exame de Suficiência para o cidadão?
Nast - Primeiramente, a área tributária afeta diretamente as empresas. O profissional da Contabilidade atua numa área que busca gerar todas as informações para o gestor da empresa tomar as decisões mais assertivas. É o contador que cuida do patrimônio da empresa, e esse patrimônio passar pelos tributos. Por exemplo: quando sai a determinação de isenção de um produto. Isso gera reflexo em tudo, começando pelo fluxo da empresa.

PÁG 3 ARTE BOX - Resultado Estatístico por Região (1/2023)


Região Total de Inscritos Presentes Aprovados
Centro-Oeste 5412 4149 14,77%
Nordeste 9959 7829 15,44%
Norte 5908 4479 8,73%
Sudeste 20399 16420 19,67%
Sul 7316 5978 21,76%

Ranking de aprovação Por Estado (1/2023)
RS 22,27%
SC 22,43%
ES 21,35%
PR 21,04%
MG 20,38%
DF 20,28%
CE 20,10%
RJ 20,05%
SP 19,01%
RN 16,50%