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Reportagem

- Publicada em 14 de Março de 2023 às 18:46

Fundo de R$ 10 bilhões subsidiará programa federal para a negociação de dívidas

Objetivo é abarcar 
37 milhões de inadimplentes no Desenrola, pouco mais da metade do contingente, formado por mais de 
70 milhões de pessoas

Objetivo é abarcar 37 milhões de inadimplentes no Desenrola, pouco mais da metade do contingente, formado por mais de 70 milhões de pessoas


/freepik/divulgação/jc
Pedro Carrizo, especial para o JC
Pedro Carrizo, especial para o JC
O aval do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o primeiro esboço do Desenrola, programa de refinanciamento de dívidas, deu início ao desenvolvimento da plataforma na qual inadimplentes e credores vão renegociar débitos em atraso. O programa é uma das promessas da candidatura petista para retomar o poder de compra e de crédito do País, pontos que também receberam atenção nos outros dois mandatos de Lula.
O objetivo é abarcar 37 milhões de inadimplentes no Desenrola, pouco mais da metade do contingente, formado por mais de 70 milhões de pessoas, segundo dados do Serasa. Há brecha, no entanto, para entrada de todo contingente.
Para isso, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na semana passada que o programa deverá contar com um fundo garantidor de R$ 10 bilhões. Objetivo é que esse fundo público seja usado como garantia em caso de uma nova inadimplência ou calote por parte dos consumidores. Além disso, para subsidiar juros mais baixos.
No Rio Grande do Sul, a iniciativa federal terá um peso importante, embora o Estado não esteja entre os principais devedores. O percentual de famílias gaúchas inadimplentes registrou a segunda maior alta do País entre os estados no ano passado, atingindo 36,8%, segundo pesquisa da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), com base em dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Apenas em Porto Alegre, a inadimplência de consumidores alcançou no primeiro mês do ano o maior valor da série histórica. De acordo com dados da CDL, 32,5% das pessoas ouvidas tiveram alguma limitação no crédito na capital gaúcha, em janeiro. Isso significa dizer que cerca de 378,9 mil pessoas estavam com nome sujo na época.
Conforme a pesquisa, os juros elevados são uma das causas determinantes da trajetória ascendente de negativados em Porto Alegre. Para o educador financeiro, Everton Lopes, os consumidores eventualmente alocados no programa devem priorizar a negociação de dívidas com juros mais altos, como cartão de crédito e cheque especial
"O consumidor sempre precisa atacar os débitos com mais incidência de juros, como empréstimos consignados, cartões de crédito e o cheque especial. Além disso, é preciso entender qual o grau de endividamento para saber se as parcelas renegociadas vão poder ser pagas", disse.
Conforme Haddad, pessoas com renda de até dois salários mínimos contarão com o fundo garantidor de R$ 10 bilhões. Pessoas com renda superior a dois salários-mínimos também poderão buscar a renegociação de dívidas por meio do Desenrola, mas sem a garantia do fundo.
"Para esse público (que ganha até dois salários-mínimos), haverá aportes do Tesouro Nacional para que os descontos sejam bem relevantes", declarou o ministro. Promessa de campanha do atual governo, o Desenrola está sendo desenvolvido pelo secretário de Reformas Econômicas do Ministério da Fazenda, Marcos Barbosa Pinto", disse Haddad.
A estimativa da pasta é que o programa abarque R$ 50 bilhões em dívidas de 37 milhões de brasileiros com o CPF negativado. A entrada dos credores no programa vai depender do tamanho do desconto oferecido. Quanto maior o desconto, maiores as chances de entrar. O lançamento do Desenrola ainda depende do desenvolvimento da plataforma online, que será desenvolvida por terceiros.
"O programa ainda não está totalmente explicado, mas a princípio ele será parecido com os feirões de renegociação privados que já existem, onde a população inadimplente terá mais condições financeiras de quitar seus débitos. Por ser um programa do governo, é possível que haja uma preocupação maior com a capacidade de quitação após o acordo com credor", diz Lopes.
 

Sucesso do Desenrola depende de condições favoráveis nas negociações

Lopes defende cálculo do percentual de comprometimento da renda para inadimplentes no Desenrola

Lopes defende cálculo do percentual de comprometimento da renda para inadimplentes no Desenrola


/Thiago Nichele Lopes/divulgação/JC
Novas atualizações sobre o programa de renegociação de dívidas do governo federal devem seguir ganhando destaque nas próximas semanas, mas de acordo com o consultor financeiro Everton Lopes, o Desenrola tem potencial de resgatar milhões de CPFs negativados se priorizar dois pontos: a capacidade de endividamento de quem negocia o débito e faixa de juros embutida nas parcelas.
"Normalmente, quando as pessoas fazem essas negociações, elas fecham acordos nas condições oferecidas no momento, mas não se preocupam com o fato de cumprir a negociação. E quando o sujeito não paga alguma das parcelas, perde a condição inicial", diz Lopes. O objetivo do programa é renegociar dívidas de até R$ 5 mil, incluindo beneficiários do Bolsa Família, e isso vai incluir todo tipo de débito.
No caso dos inscritos do programa de assistência do governo, o processo pode ajudar inclusive os cidadãos que contraíram dívidas após contratar o consignado do Auxílio Brasil.
Lopes defende, no entanto, que o Desenrola adote um cálculo do percentual de comprometimento da renda antes de definir o acordo, o que já é feito pela Caixa Econômica Federal no financiamento imobiliário, explica.
Este será um fator crucial para a eficiência do programa, que não deve seguir a lógica de oportunizar o pagamento das parcelas sem ter a certeza que o valor cabe no orçamento do consumidor. Do contrário, a negociação pode ter efeito prejudicial, pois vai liberar crédito de maneira provisória e, desta forma, aumentar a bola de neve de dívidas.
O garantidor de que os juros sejam atraentes para os inadimplentes será um fundo de R$ 10 bilhões, segundo anunciou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O recurso será usado como garantia em caso de uma nova inadimplência ou calote por parte dos consumidores e também para subsidiar juros favoráveis.
No entanto, o fundo só valerá para acordos de pessoas com renda de até dois salários-mínimos. A partir de dois salários-mínimos, porém, não haveria cobertura, portanto, os juros neste caso serão maiores.
Conforme o ministro, o fundo garantidor é justamente um dos pontos fortes do programa. Este modelo é similar ao do fundo garantidor usado para abastecer o Pronampe, programa criado durante a pandemia para financiar micro e pequenas empresas.
Haddad explicou que o Desenrola envolverá uma medida provisória a ser aprovada pelo Congresso Nacional.
De acordo com Lopes, as condições do sucesso do programa também vão depender da adesão dos credores no novo sistema. Isso porque as empresas vão entrar no sistema de acordo com o desconto projetado para o programa. Esta avaliação do que será decisivo para o credor entrar ou não no programa ainda é incerta.
Por outro lado, as instituições financeiras tiveram os balanços afetados pelo aumento da inadimplência no último trimestre, o que pode ser uma vantagem para os devedores, visto que os bancos vão buscar reduzir o prejuízo. Já para o lado das varejistas, a crise na Americanas e o alto nível da Selic — que freia o consumo — pode aumentar a cautela das empresas e gerar acordos mais tímidos.
Embora os débitos com cartão de crédito e cheque especial sejam os que possuem maior incidência de juros, hoje a maior parte das dívidas negativadas do país (66,3%) não é com bancos, e sim com varejistas e companhias de água, gás e telefonia.
Vale lembrar que, no Brasil, já existem programas de renegociação de dívidas, mas todos são privados. No início deste mês, a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) lançou o seu, em parceria com o Banco Central e outras instituições. Da mesma forma, a Serasa também tem um curso mais um de seus mutirões nacionais de negociação de dívidas. Ambas campanhas encerram no dia 31. A diferença delas para o Desenrola é que, além deste ser de caráter público, o programa nacional será contínuo.
Pessoas que fazem parte de programas sociais do governo federal e que estejam negativadas, também podem participar do programa. Outro ponto adiantado por Fernando Haddad é que o governo vai definir um prazo de 60 meses para que o cidadão pague a sua dívida depois da negociação.

Como o programa funcionará para os credores

Segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, todos os credores privados que aderirem ao Desenrola precisarão dar desconto aos devedores. "As empresas vão entrar no programa pelo tamanho do desconto que derem para os devedores", disse o ministro na semana passada.
De acordo com Haddad, o Desenrola vai buscar atrair os credores privados com base na probabilidade de recuperação dos valores devidos. "Quanto maior o desconto oferecido, maior a chance de o credor receber o débito", afirmou.
"Todas empresas que aderirem ao Desenrola vão precisar dar desconto", disse a jornalistas na entrada do Ministério da Fazenda, depois de reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a respeito do programa, no Palácio do Planalto.
"A grande vantagem para os credores aderir ao programa é o fato de ter mais dinheiro girando na economia, o que também significa mais crédito. Quanto mais pessoas tiverem mais crédito, mais a economia gira, o que é melhor para o Brasil. É vantajoso para os credores pois, a partir das negociações, vai aumentar o poder de consumo das famílias", ressalta o consultor financeiro Everton Lopes.
Conforme dados de órgãos de proteção ao crédito, a maior parte das dívidas negativadas do país são compras em lojas de varejo e gastos essenciais, como água, gás e telefone.
Não foi informado, todavia, se os credores se cadastrarão no sistema apenas por espontânea vontade ou haverá um trabalho do Governo para atrair empresas para dentro do Desenrola através de incentivos e facilitações.
De acordo com o ministro, o Desenrola só poderá ser lançado após a contratação da empresa que desenvolverá o sistema. "O sistema é complexo porque envolve credores privados e os credores vão entrar no programa pelo tamanho do desconto que puder dar para os devedores, justamente os que estão com o CPF negativado na Serasa ou empresas semelhantes a essa", declarou Haddad.
O sistema a ser desenvolvido será um aplicativo para dispositivos móveis e computadores. Ou seja, toda negociação será digital.
Segundo Haddad, o presidente Lula aprovou o desenho do programa e "autorizou a contratação do desenvolvimento do sistema". Só com o sistema pronto que o Desenrola será lançado.

O que já se sabe sobre o Desenrola?

  • Vai abranger 37 milhões de inadimplentes com dívidas que somam R$ 10 bilhões
  • Serão renegociadas dívidas de até R$ 5 mil que não tenham sido contraídas com órgãos públicos
  • Contará com R$ 10 bilhões no Fundo de Garantia de Operações (FGO) para evitar calotes e reduzir juros para pessoas que recebem até dois salários-mínimos
  • Inadimplentes com orçamento maior do que dois salários mínimos não contarão com o recurso do FGO durante as negociações, o que ocasionará em condições menos favoráveis
  • O cidadão terá prazo de 60 meses para quitar sua dívida depois da negociação
  • Os credores só poderão entrar no sistema se oferecerem descontos na dívidas
  • Todos pontos acima receberam aval do presidente Lula
  • O Desenrola está na fase de contratação da empresa que será responsável pelo desenvolvimento da plataforma e só depois que ela ficar pronta o programa ganhará data de lançamento