Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

REPORTAGEM

- Publicada em 08 de Novembro de 2022 às 18:10

Reformas fiscal e tributária desafiam próximo governo

Diferentes propostas de reforma tributária, como a PEC 45 e a PEC 110, tramitam no Congresso Nacional

Diferentes propostas de reforma tributária, como a PEC 45 e a PEC 110, tramitam no Congresso Nacional


JCOMPO VIA FREEPIK.COM/DIVULGAÇÃO/JC
Temas fiscais e tributários já começam a aparecer entre as principais pautas do governo eleito para a presidência da República a partir do ano que vem. Entre as primeiras ações da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está a elaboração de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), permitindo que o novo governo gaste mais em 2023, com despesas extras fora do Teto de Gastos. A iniciativa visa garantir um Auxílio Brasil com o valor de R$ 600 mensais a partir de janeiro, um reajuste real do salário-mínimo e outros programas a serem definidos pela nova gestão em conjunto com o Congresso Nacional.
Temas fiscais e tributários já começam a aparecer entre as principais pautas do governo eleito para a presidência da República a partir do ano que vem. Entre as primeiras ações da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está a elaboração de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), permitindo que o novo governo gaste mais em 2023, com despesas extras fora do Teto de Gastos. A iniciativa visa garantir um Auxílio Brasil com o valor de R$ 600 mensais a partir de janeiro, um reajuste real do salário-mínimo e outros programas a serem definidos pela nova gestão em conjunto com o Congresso Nacional.
Outros temas que devem entrar em debate em breve envolvem a promessa do presidente eleito de isentar o Imposto de Renda das Pessoas Físicas (IRPF) para quem ganha até
R$ 5 mil por mês e a tão aguardada reforma tributária. Esses são apenas alguns dos desafios fiscais e tributários que a nova gestão deverá enfrentar a partir de 2023.
"A reforma é o principal desafio do governo em relação à área tributária. A questão é se vão consolidar o debate que foi feito até agora ou se começarão tudo do zero. Como não sabemos o perfil do próximo ministro da Economia, é difícil saber o que essa gestão pensa sobre o impacto da reforma para os estados e municípios e para a própria arrecadação do governo federal", analisa o presidente executivo do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), João Eloi Olenike.
A proposta da Câmara, a PEC 45, foi apresentada em 2019 pelo deputado Baleia Rossi (MDB). Em linhas gerais, prevê a substituição de cinco tributos (os federais PIS, Cofins e IPI, o estadual ICMS e o municipal ISS) por um imposto sobre bens e serviços (IBS), com arrecadação centralizada e gestão compartilhada, e um imposto seletivo sobre cigarros e bebidas. A alíquota seria a mesma para todos os bens e serviços. Além disso, o texto acaba com a maior parte dos benefícios fiscais.
A iniciativa tem amplo apoio do setor industrial e bancário, mas enfrenta resistência de parte das empresas de serviços (que seriam mais taxadas) e das grandes cidades, que perderiam a total autonomia sobre o ISS (imposto municipal sobre serviços). Será necessário ainda conseguir consenso entre os governadores, que terão de abrir mão da concessão de benefícios fiscais - a tributação será feita no destino e não mais no local em que está a empresa.
Versão semelhante dessa proposta é a PEC 110, do Senado, cuja versão atual é um relatório do senador Roberto Rocha (PSDB-MA). Uma das principais diferenças é a possibilidade de ter um IBS federal e outros para estados e municípios.
Além das PECs, há mais dois projetos tramitando no Congresso que alteram o sistema tributário do País: os PLs 2337/21 e 3887/20. O primeiro altera o Imposto de Renda, e o segundo junta o PIS e a Cofins, implementando a Contribuição Social sobre Operações com Bens e Serviços (CBS).
"Das que tramitam no Congresso, a PEC 110 era a que estava andando mais rápido e se encontrava praticamente pronta para a votação. Esperamos que ao menos essa possa avançar", diz Olenike. A PEC 110 está pronta para ser analisada pela Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado. Já a PEC 45 está parada na Câmara desde maio de 2021.
Ainda sobre as propostas da reforma, o presidente do IBPT afirma que nenhuma delas resolve a chamada regressividade do sistema tributário, que se traduz pela cobrança proporcional de mais tributos sobre quem ganha menos. "O que nós temos são propostas de simplificação tributária, mas a questão estrutural não é mexida. Deveria ser tributado mais a renda e o patrimônio e menos o consumo. Dessa forma, os mais pobres seguirão sendo os mais prejudicados", aponta. Já em relação à promessa de correção da tabela do IRPF, Olenike diz que essa atualização não deve ser vista como uma benesse do governo, mas como um direito do contribuinte. "
 

Chance de aumento da carga tributária no próximo governo é alta

Não há crescimento sustentável sem âncora fiscal, diz Sorrentino

Não há crescimento sustentável sem âncora fiscal, diz Sorrentino


THIAGO SORRENTINO/ARQUIVO PESSOAL/JC
Necessidade de aumento da arrecadação, aprovação de uma reforma tributária e elevado grau de litigiosidade tributária no Brasil são alguns dos principais desafios que o próximo governo deverá enfrentar a partir de 2023, de acordo com o pesquisador do Núcleo de Estudos Fiscais da FGV Direito de São Paulo Thiago Buschinelli Sorrentino. Nesta entrevista, ele ainda dá como praticamente certa uma elevação na carga tributária do País nos próximos anos.
JC Contabilidade - Quais são os principais desafios tributários e fiscais do presidente eleito na sua visão?
Thiago Buschinelli Sorrentino - Vejo três pontos principais. Em primeiro lugar, teremos uma pressão enorme para aumentar a arrecadação e possibilitar ao governo cumprir com todas as promessas de campanha, além dos pedidos da máquina pública por mais recursos, como aumento dos vencimentos e remunerações de diferentes categorias. O segundo pilar é a reforma tributária estrutural no País. Precisamos de uma mudança radical, pois o sistema atual é ineficiente e não deixa as atividades econômicas se desenvolverem. É um modelo que faz com que uma parte da sociedade pague de forma desproporcional o custo da máquina estatal, enquanto outros setores pagam muito pouco em relação aos benefícios que recebem. Por fim, está o problema do contencioso tributário. É uma dificuldade que a própria Receita Federal tem de fazer com que as cobranças tributárias se transformem em dinheiro para os cofres públicos. Hoje, o processo de cobrar uma dívida tributária é lento e caro.
Contab - Quais são os caminhos para enfrentar esses desafios na sua opinião?
Sorrentino - Em relação à pressão da arrecadação, deve-se evitar saídas fáceis. A primeira ideia que aparece na hora de aumentar a arrecadação é tributar mais os bancos, pois são instituições que pagam muito e consegue-se cobrar facilmente. Ou se cogita lançar esse sacrifício para a classe média ao não corrigir a tabela do Imposto de Renda ou acabando com as deduções de saúde e educação do IR. Essas são soluções rápidas e fáceis, mas erradas, porque deslocam ainda mais a carga tributária para um único lado da sociedade. O segundo ponto é aproveitar tudo o que o Congresso já debateu a título de reforma tributária e evitar começar do zero, jogando fora todo o esforço já feito. Em terceiro lugar, seria interessante que o governo não olhasse só para o lado da arrecadação, mas também sobre a forma como o dinheiro público é gasto. As nossas normas orçamentárias são tão disfuncionais quanto as tributárias. O País gasta mal e de forma pouco transparente. E não há consequências ou aplicação de penalidades a partir do mau uso desse dinheiro.
Contab - Qual a sua avaliação sobre as seguintes propostas mencionadas durante a campanha da chapa vencedora: tributação dos lucros e dividendos e taxação de grandes fortunas?
Sorrentino - A tributação dos lucros e dividendos é uma questão bastante complexa, porque o modelo atual optou por uma simplificação na cobrança ao concentrar a tributação das Pessoas Jurídicas. Isso, porém, acaba quebrando um pouco do ideal de justiça e de isonomia, já que permite que algumas categorias profissionais tenham margem de lucro altíssima e vantagem sobre quem se arrisca. Entendo que deve-se tributar os lucros e dividendos contanto que se tome o cuidado de fazer com que haja um realinhamento da carga tributária. Ou seja, passar a tributar a Pessoa Física, mas fazendo uma calibração para a Pessoa Jurídica. O imposto sobre grandes fortunas, por sua vez, acaba tendo uma função muito mais pedagógica e de demonstração de justiça fiscal do que propriamente arrecadatória. Me parece que, sim, poderia ser algo a ser trabalhado pelo governo, mas com um efeito simbólico, pois, a partir disso, não se obterá os recursos suficientes para resolver todos os nossos problemas.
Contab - Acredita que a carga tributária do País deverá aumentar? E qual caminho o governo deveria adotar em relação à ancoragem fiscal?
Sorrentino - Será praticamente impossível que não haja um aumento da carga tributária. Há muita coisa pro governo calibrar e pagar. Não só de promessas de campanha, mas de pleitos remuneratórios, além da necessidade de realizar programas e investimentos. Precisaria de um governo extremamente hábil, eficiente e com um jogo de cintura político nunca visto antes para realocar despesas e fazer tudo isso com o dinheiro que já existe em caixa e possibilidade de arrecadação atual. Em relação à ancoragem fiscal, é algo que tem que ser olhado com muito cuidado, porque você não consegue sustentar nenhum tipo de crescimento sem adotar todas essas salvaguardas que muitas vezes são atacadas por serem 'capitalistas', 'neoliberais' ou 'conservadoras'. Temos que abrir mão de toda ideologia, colocar de lado todos esses rótulos e perguntar de forma objetiva: é possível crescer de forma sustentável e sem o risco de retrocesso se eu abrir mão desse controle? A resposta é não.

As propostas de reforma no sistema tributário que tramitam no Congresso

A PEC 110, do Senado, é a proposta de forma tributária em estágio mais avançado

A PEC 110, do Senado, é a proposta de forma tributária em estágio mais avançado


JEFFERSON RUDY/AGÊNCIA SENADO/JC
 PEC 45
- Substitui cinco tributos (PIS, Cofins, IPI, ICMS e ISS) por um Imposto sobre Bens e Serviços e um Imposto Seletivo sobre cigarros e bebidas alcoólicas
- Transição de seis anos em duas fases, uma federal e outra com ICMS e ISS
- Substitui a desoneração da cesta básica pela devolução de imposto para famílias de menor renda
 PEC 110
- Criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) com fusão do PIS e Cofins
- Criação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), com fusão do ICMS e ISS
- Substitui IPI por um imposto seletivo sobre itens prejudiciais à saúde e meio ambiente
- Criação do Fundo de Desenvolvimento Regional, abastecido com recursos do IBS
- Restituição de tributos a famílias de baixa renda
 PL 3887/2020
- Criação da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) com fusão do PIS e Cofins
- Mantida regra atual de desoneração da cesta básica
 PL 2337/2021
- Isenção do IRPF na faixa até R$ 2.500 e Correção de média de 13% nas demais faixas
- Desconto simplificado máximo de R$ 10.563,60 (hoje, limite é de R$ 16.754,34)
- Tributação de dividendos, com isenção para o Simples e lucro presumido
- Corte da alíquota-base do IRPJ de 15% para 8%
- Corte da CSLL em até 1 ponto percentual
- Fim dos JCP (Juros sobre Capital Próprio)