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Reportagem Especial

- Publicada em 27 de Junho de 2021 às 18:09

Uma nova Padre Chagas se desenha no Moinhos de Vento

Rua badalada do Moinhos de Vento ganha novo perfil de público e de atividade econômica

Rua badalada do Moinhos de Vento ganha novo perfil de público e de atividade econômica


MARIANA ALVES/JC
 
 

Ao contrário do que aconteceu em muitos bairros de Porto Alegre, não foi a pandemia a responsável por transformar as característica da rua Padre Chagas, no bairro Moinhos de Vento. A rotatividade de lojas aumentou com os protocolos para conter o avanço da Covid-19 na Capital, mas a mudança na região começou bem antes.
Foi motivada por um misto de crise econômica, perfil de público com menor poder aquisitivo e altos preços dos aluguéis. A mais icônica alteração no mapa da região foi o fechamento do Café do Porto, que funcionou no número 293 por quase 25 anos e que trouxe para Porto Alegre o clima das ruas de Buenos Aires e Paris, com mesas nas calçadas.
Ao fechar as portas em 19 de março de 2020, um dia antes do decreto estadual que restringiu as atividades econômicas, a proprietária Cacaia Bestetti ainda não tinha noção de que seria de forma definitiva. Um mês depois, anunciou aos clientes que não reabriria no antigo endereço, causando comoção. Foram quase 500 mensagens de pessoas que se sentiram órfãos do lugar.
"Chorei de emoção pelo carinho das pessoas, mas não tinha energia e nem bolso para continuar. Aumentou muito o número de operações na Padre Chagas e, quem chegava, tirava um naco. Enquanto o tíquete médio do café não era tão alto, o aluguel subia violentamente e sem negociação", detalha Cacaia, citando ainda transtornos com obras na região no final de 2019. "Aquilo foi me esgotando, mas não tinha coragem de fechar. Quando abri, tinha 32 anos, hoje, 58 anos, e sem alguém para dividir decisões e trabalho", diz.
O mais recente fechamento foi o Mulligan Irish Pub, inaugurado em novembro de 2004. O local, hoje, em nada lembra as conversas animadas e a disputa por mesas no deque durante o happy hour. Após quase 17 anos no local, o espaço sucumbiu em abril às restrições da pandemia, ficando apenas duas unidades franqueadas.
O pub foi precursor na Capital ao ofertar uma ampla variedade de chope em torneiras, incluindo a lendária Guiness, além de carta com cervejas de todo o mundo. O Mulligan também deixou um legado para a cidade: o Saint Patrick's Day (Dia de São Patrício), evento em homenagem ao padroeiro da Irlanda, comemorado em 17 de março. Ano passado, a principal festa do calendário do pub não ocorreu, fato que se repetiu neste ano para evitar aglomerações, prejudicando ainda mais as receitas do bar.
Outro ponto tradicional na Padre Chagas, a Torta de Sorvete, se instalou antes e saiu antes, e por motivos diferentes. Segundo a proprietária Roberta Maestri, a rua era tomada por residências e consultórios médicos, o que lhe chamou atenção para abrir a confeitaria em 1987. Na época, funcionava o Mercado Moinhos - que se mantém na esquina das ruas Luciana de Abreu e Padre Chagas reformado, sem os arabescos da antiga fachada.
O sucesso das tortas fez a empresária ampliar o espaço. Na década de 1990, manteve um restaurante na parte de cima, onde primava pela variedade de saladas. Foi um período de efervescência no bairro, que atraía, além dos moradores, visitantes de outras partes da cidade.
Porém, em 2016, mudanças societárias e o pedido do locador para devolver o imóvel deixaram Roberta sem saber o destino da loja. Já a fábrica continuava a pleno no bairro Glória, fornecendo para restaurantes e redes de autosserviço. Foi quando a empresária decidiu analisar com calma o mercado e decidiu instalar a loja na Galeria Casa Prado, na Dinarte Ribeiro, rua que vem sendo chamada de a nova Padre Chagas.

Em busca da calmaria da rua

Movimentação na rua e sensação de insegurança preocupam, diz Alfredo Luiz Pinto

Movimentação na rua e sensação de insegurança preocupam, diz Alfredo Luiz Pinto


CAMILA TIDRE/DIVULGAÇÃO/JC
Para resgatar o antigo clima da Padre Chagas, há questões a avançar. Segundo Alfredo Luiz Pinto, do Mosaico Sushi Bar, a movimentação de jovens bebendo na rua sem cumprir os protocolos sanitários e a sensação de insegurança, especialmente à noite, vêm prejudicando o sossego do bairro. Há, entre empresários, uma mobilização para buscar uma solução junto ao poder público para coibir o barulho e a sujeira e fiscalizar o grau etílico dos motoristas que circulam por ali.
Muitos levam de casa ou compram suas bebidas nos mercados e lojas de conveniência que funcionam nas redondezas. E aí começam os problemas de consumirem na rua, jogarem lixo no chão e utilizarem a via como banheiro até altas horas, como ocorreu recentemente no dia 11 junho, uma sexta-feira. Uma força tarefa, incluindo a Guarda Municipal, Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), Brigada Militar e Diretoria Geral de Fiscalização, dispersou, às 2 horas da manhã, uma aglomeração com mais de 2 mil pessoas no bairro Moinhos de Vento. O ponto focal era na esquina das ruas Padre Chagas e Luciana de Abreu, local que se tornou local de encontro da juventude.
Segundo a empresária Cacaia Bestetti, do Café do Porto, a mudança de perfil do público frequentador começou a ocorrer há cerca de 10 anos, com a chegada de bares e pubs que buscavam atrair um público maior. Foi quando passaram a se formar filas gigantescas e a se consumir nas calçadas. "No momento em que mudou a oferta, chegaram pessoas sem respeito ao que é público", lembra. Cacaia conta que o novo perfil espantou as pessoas que iam jantar em um restaurante da via e depois caminhavam até o café para finalizar a noite.
O ocorrido na véspera do Dia dos Namorados não foi inédito. Vem se repetindo e atraindo um público cada vez maior. Por isso, empresários e associação de moradores pleiteiam uma legislação a exemplo da que foi aplicada na Cidade Baixa, com limitação para ambulantes, som alto, venda de bebidas alcoólicas e definição de horário de funcionamento de espaços comerciais.
Proposta do vereador Ramiro Rosário, do PSDB, pretende regulamentar as operações no bairro, a exemplo do que foi feito em outra região boêmia. Segundo o vereador, o projeto de lei foi convertido em projeto indicativo, para ser regulamentado por decreto municipal. "O projeto indicativo é um instrumento pouco utilizado, mas se determinado regramento não funcionou, é possível ajustar com mais celeridade", destaca. Apesar de não ter força de lei, a proposta tramita na Câmara de Vereadores, e passa por votação.
Na terça-feira passada (22), em reunião na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Vereadores, foi debatida a situação do bairro Moinhos de Vento com participação de representantes dos comerciantes, moradores e secretarias municipais de Desenvolvimento Turismo e de Segurança. "Colocamos o bode na sala para que a situação do Moinhos não vá para caminho perigoso. Pode ser que todos tenham de conceder um pouco, mas não é um projeto fechado, podemos e devemos avançar", afirma o vereador.

Espaço reúne sushi bar, coworking e área de lazer

Multifuncionalidade exprime a inquietude e o espírito inovador do proprietário do Mosaico

Multifuncionalidade exprime a inquietude e o espírito inovador do proprietário do Mosaico


IVAN MATTOS/ESPECIAL/JC
A Padre Chagas ganhou um espaço multiuso. É o Mosaico Sushi Bar, aberto no final de 2020, no mesmo endereço do Café do Porto. Sua multifuncionalidade exprime a inquietude e o espírito inovador de seu proprietário: o empresário e sushiman Alfredo Luiz Pinto.
A decisão de começar um novo negócio em dezembro, numa época em que muitas pessoas estavam rumando para as praias, foi proposital: para maturar a operação com prazo para ajustar todos os detalhes em época de menor movimento.
Enquanto o térreo é ocupado pelo sushi bar, com drinks, cervejas artesanais e comida japonesa, no segundo andar funciona um living room, que serve de espaço para coworking gratuito. Ali, o cardápio é diferente, com pizzas, hambúrgueres e petiscos, entre outros.
Em breve, o terceiro piso será aberto para eventos, com espaço de churrasqueira, onde o cliente pode levar carne e saladas, e adquirir as bebidas fornecidas pela casa. Conta ainda com três salas que podem ser usadas para coworking e dois banheiros.
Diferentemente de outras operações que buscavam atender preferencialmente os clientes com maior poder aquisitivo, o proprietário é eclético em relação ao perfil de público que pretende atrair. "Não devemos escolher público, mas escolher sabor e ter um preço justo para atrair o cliente", considera o empresário.
Em apenas seis meses de operação, Luiz Pinto já está familiarizado com a região, predominantemente residencial e de consultórios e escritórios. "O clima é muito bacana. É uma rua em que as pessoas gostam de caminhar, se cumprimentar, o que acaba criando vínculo. Com pouco tempo de loja já tenho clientes frequentes", comemora.

Vocação para descobrir oportunidades

Depois da Torta de Sorvete, Roberta também foi pioneira na Galeria Casa Prado, na Dinarte Ribeiro

Depois da Torta de Sorvete, Roberta também foi pioneira na Galeria Casa Prado, na Dinarte Ribeiro


/MARIANA ALVES/JC
A empresária Roberta Maestri parece ter um dom para descobrir lugares que se tornam os queridinhos dos consumidores. Depois de a Torta de Sorvete ser uma das primeiras a chegar na rua Padre Chagas, foi também pioneira na Galeria Casa Prado, na Dinarte Ribeiro. "Na galeria, fui a primeira. Hoje, está lotada, tem cookies, comida vegana, salão de beleza, sapataria" resume.
Na pandemia, a empresária conseguiu driblar parte da queda da receita com negociação do aluguel quando há decreto de fechamento, pois 30% das vendas vêm do movimento das mesas. E compensou também a perda de vendas nos restaurantes com pegue e leve e no aplicativo. "Tenho sorte por estar no ramo da alimentação e ter know how e estrutura para entregas. Foi o que nos salvou, além de fornecer para o Zaffari, que não fechou nunca", detalha.
Além da loja, a Torta de Sorvete tem também uma fábrica. No total, emprega 18 funcionários, ainda longe da estrutura de 30 pessoas que tinha há mais de cinco anos, antes da mudança da loja. Agora, Roberta está retomando as vendas para restaurantes e pretende continuar com as entregas pelo aplicativo de delivery e manter sua nova clientela no Litoral, para onde muitos de seus clientes se mudaram. "As pessoas que mantiveram renda não estão viajando e consumindo muita comida", diz, contente pela decisão de escolha da atual rua para sua loja.
Diferentemente da época em que a Torta de Sorvete chegou na Padre Chagas, a Dinarte já tinha vida própria quando a loja se instalou em 2017, com operações tradicionais como Chocólatras, Daimu, Barbarella Bakery, Usina de Massas e Puppi Baggio. Outros, mais recentes, completam a "carta" de opções para quem quer comer, beber, petiscar, fazer umas compras ou apenas passear pelos menos de 250 metros da Dinarte que, de um lado, é formada por uma grande quadra e, de outro, se divide em duas: Borges Queijos Artesanais (em breve vai mudar de nome para Casa Vivá, queijos e Vinhos), Just Cold Creamery, Gelateria Gianluca Zaffari, Eat Kitchen, Choripaneria, Rancho 141, Terrunyo Wine Store, Mesa Bar e Restaurante e La Victoria Life Style.
 

Mudança de loja, mas não de endereço

Irmãs Juçânia Bigarella e Luciane Bigarella Zugno, da Tutti Versatili

Irmãs Juçânia Bigarella e Luciane Bigarella Zugno, da Tutti Versatili


/MARIANA ALVES/JC
A liquidação de roupas em frente ao número 66 da Rua Padre Chagas, entre janeiro e fevereiro deste ano, era para ser o último episódio antes do encerramento definitivo da Tutti Versatili. Após dois anos de dificuldades econômicas e um terceiro mais dramático em razão da pandemia, as irmãs Juçânia Bigarella e Luciane Bigarella Zugno demitiram as duas funcionárias, comunicaram a imobiliária sobre o fim do contrato e começaram a se preparar para fecharem as portas da boutique, fundada em 1995.
O anúncio de encerramento da loja gerou uma comoção. "Quando comunicamos que íamos fechar, as clientes pediram para continuar, muitas choraram. Sabíamos que gostavam da loja, mas não imaginávamos tanto. Foi gratificante ter este retorno", conta Juçânia, mais conhecida por seu apelido Ju, assim como sua irmã é a Lu. O apoio das consumidoras foi imediato: compraram praticamente todo o estoque antes da entrega do ponto.
"Pensamos em alugar uma sala ou depósito para guardar os móveis e voltar depois de um tempo. Mas as vendas não se recuperam fácil e seria uma pena perder toda a clientela formada nestes 26 anos no mesmo endereço. Também poderíamos confeccionar e vender para outras lojas, pois viemos de família de lojistas e de confecção e temos experiência. Mas a verdade é que ficamos sem saber o que fazer", diz Juçânia.
Organizando os últimos detalhes para entregar a loja, as empresárias foram surpreendidas pela oferta de uma cliente.
Proprietária de uma sala no sexto andar do mesmo prédio, ofereceu para alugar por um valor bem mais em conta do que o espaço no térreo, que já tinha retornado ao valor cheio. No mesmo dia, olharam o local e, à noite, já estavam de mudança. Em dois dias, a Tutti estava montada e funcionando.
"Claro que vai ser mais difícil, porque a pandemia continua e nosso público principal tem mais idade. Embora muitas estejam vacinadas, ainda estão com medo, mas estão vindo. Como havíamos vendido quase tudo, praticamente todo o estoque foi renovado. E, para nosso esquema, está dando certo", afirma Juçânia, considerando que o desafio será bem menor do que o vivenciado na época em que se instalaram na Padre Chagas, quando poucas pessoas frequentavam suas calçadas.

Casas são patrimônio para incorporadora que aposta no bairro

Goldsztein destaca a importância de trabalhar com a preservação de imóveis históricos da região

Goldsztein destaca a importância de trabalhar com a preservação de imóveis históricos da região


MARIANA ALVES/JC
A Wolens, uma das incorporadoras que mais investem no Moinhos de Vento, tem oito projetos para a região, incluindo na esquina das ruas Padre Chagas e Fernando Gomes. Destes, seis preveem a preservação e o restauro de casas históricas, conta Daniel Goldsztein, sócio-diretor da empresa. Para o empresário, a conservação destes imóveis é um legado para a cidade e um diferencial dos empreendimentos da construtora.
Empresas & Negócios - Como está o projeto da esquina das ruas Padre Chagas e Fernando Gomes?
Daniel Goldsztein - Atualmente, o projeto está em tramitação. Estamos propondo que as casas do número 58 a 80 sejam consideradas como patrimônio histórico, de acordo com a Lei Municipal 12.585. São imóveis onde antes ficavam o Dado Pub e o Bar do Gomes, com grande valor histórico e cultural. As construções datam da década de 1930, e nosso plano é recuperar seus traços originais, com base em imagens da época. Estamos acompanhando o andamento rápido da tramitação de diversos projetos na cidade e temos confiança de que, logo, esse empreendimento também sairá do papel.
E&N - Como será este empreendimento?
Goldsztein - Será um empreendimento de uso misto, com lojas no térreo e uma torre de apartamentos que vão de 170m² a 235m². O grande propósito desse projeto é reativar uma área que, nos últimos anos, sofreu um impacto enorme, com o fechamento de operações muito queridas pelos porto-alegrenses. Há cinco anos, a esquina da Padre Chagas com a Fernando Gomes tinha uma vida ativa, com diversos restaurantes e bares. A Padre Chagas como um todo, em sua extensão, também tinha essa característica. Porém, com as crises que se sucederam, isso foi se perdendo, com o público migrando para outros locais da cidade. Queremos resgatar a essência do Moinhos, um bairro com o qual a Wolens tem uma relação muito especial.
E&N - Por que a Wolens decidiu investir no local?
Goldsztein - É uma região icônica de Porto Alegre. E mais do que isso: é desejada pelas pessoas para morar, especialmente por possibilitar uma vida praticamente toda a pé. A vista desimpedida para o Dmae (o jardim do Departamento Municipal de Água e Esgotos - Dmae) é espetacular. Acreditamos também em uma missão especial deste projeto: ser um catalizador do reerguimento da Padre Chagas, que já vinha sofrendo com uma migração do movimento e teve na pandemia um tombo ainda maior. Uma nova fase virá para a região a partir da ocupação deste espaço.
E&N - Qual a sua percepção sobre as mudanças na Padre Chagas com a saída de cafés e outros empreendimentos? Como imagina o futuro da rua?
Goldsztein - É uma pena para Porto Alegre, por tudo que a Padre Chagas significa. Mas as cidades são dinâmicas, e temos de aprender a adaptar os novos projetos à realidade e aos novos tempos. O comércio viu em outras regiões, como a Nova Iorque e a Dinarte Ribeiro, opções mais baratas de aluguel. Porém, a Padre Chagas segue icônica e tem o diferencial de ser plana, permitindo um agradável trajeto a pé. Sem dúvida, o trecho entre a Fernando Gomes e Hilário Ribeiro foi o que sofreu mais. Acredito que nosso projeto irá impulsionar uma revitalização dessa região, atraindo novos negócios, de acordo com o perfil da região.
E&N - Ruas do Moinhos de Vento, como a Luciana de Abreu, onde a Wolens tem empreendimento, devem manter um perfil mais residencial, com cafés e restaurantes, mas sem casas noturnas? Como o senhor percebe o bairro?
Goldsztein - Nossos projetos preveem a boa convivência entre os diferentes usos comercial e residencial. Pensamos nisso desde a elaboração do projeto como também normas de condomínio.
E&N - Quais os empreendimentos para o Moinhos de Vento? Em que fase se encontram?
Goldsztein - O projeto da Tobias da Silva e da Barão de Santo Ângelo estão em fase de aprovação na prefeitura. O empreendimento da Luciana e Abreu deverá ser entregue aos compradores nos próximos 45 dias. Temos, ainda, um projeto na Marquês do Herval. Todos no Moinhos de Vento. Além disso, estamos em fase final e confiantes na aquisição de mais dois terrenos espetaculares. Dos oito projetos citados (Padre Chagas, Barão, Tobias, Marquês, Luciana e três novos), seis contemplam a preservação e o restauro de casas históricas. Estamos focados neste perfil de projetos, pois acreditamos que a preservação se torna um legado para a cidade, além de representar um diferencial importante aos empreendimentos.

Produtos naturais definem perfil de casa de queijos e vinhos

Silva e a esposa Kely decidiram traduzir a paixão pela alimentação natural em um novo negócio

Silva e a esposa Kely decidiram traduzir a paixão pela alimentação natural em um novo negócio


/MARIANA ALVES/JC
A transição do nome de Borges Queijos Artesanais para Casa Vivá, localizada no número 128 da rua Dinarte Ribeiro, foi para deixar o espaço com o estilo dos novos proprietários: Cristian Silva e Kely Bavaresco. Adeptos de alimentação natural, o casal estudou e decidiu traduzir para um novo negócio a percepção que tinham dos sabores de produtos naturais. Na língua guarani, Vivá significa forte como a natureza.
O Borges foi adquirido pelo casal há pouco mais de um ano, e já era uma casa especializada em queijos artesanais brasileiros sem aditivos químicos, vinhos e charcutaria. "Mantivemos a queijaria, e aprofundamos o conceito de produtos naturais. Os rebanhos que fornecem leite para o queijo são criados soltos, sem tratamentos químico e alimentados a pasto", conta Silva.
A loja ampliou a participação de produtores gaúchos e transformou a carta de vinhos, que hoje traz apenas bebidas naturais. Silva detalha que o Brasil não tem legislação para vinho natural, como na Espanha, onde esta categoria é chamada uva e basta, por exemplo. Vinho natural para o conceito da Vivá é aquele que não recebe aditivo químico na cantina, mas não necessariamente é orgânico, pois a uva pode ter sido cultivada com uso de químicos. Mas não basta ser natural, tem de ser bom, explica Silva.
Outra proposta da Vivá são as provas mensais de vinhos harmonizados. Em julho, o tema será pinot noir do Brasil. São realizadas aulas por mesa, como uma forma exclusiva de apresentação. Focado atendimento especializado e na narrativa, a Vivá conta a história do vinho, entre mais de 500 rótulos, e apresenta informações sobre a seleção do queijo. "Nossa lógica não é atender volume, é ter serviço bem para as pessoas terem uma experiência diferente", destaca o empresário.
A escolha pela Dinarte é explicada pela proximidade com a região, já que o casal de empresários era frequentador da Dinarte, assim como da Padre Chagas. "Vimos, gradativamente, uma mudança de público da Padre Chagas, o que nos fez a gente parar de frequentar a rua. Depois, fomos para a nova York, mas o público é diferente, e já frequentávamos a Dinarte.
No final, a aposta foi por conta do que já era a loja em relação ao queijo, a conversa com o pessoal da volta e o fato de a rua ser pequena, com perfil e estilo europeu, duas quadras, por isso apostamos aqui", conta.
Recentemente, os proprietários de lojas montaram uma associação informal de empresários para tratar temas com a prefeitura da Capital e decidir sobre investimentos e melhorias que possam ser realizados em conjunto.

Novas iniciativas imobiliárias devem definir o futuro da rua


O futuro da Padre Chagas dependerá, em grande parte, das novas iniciativas imobiliárias. "Se tender para residencial terá um perfil, se for para comercial será outro, mas ainda não é momento para fazer prognósticos, temos de esperar passar a pandemia", afirma Moacyr Schukster, presidente do Sindicato da Habitação no Rio Grande do Sul (Secovi-RS).
A percepção inicial, pelas obras no Moinhos de Vento, é de que o bairro ficará mais residencial ainda do que é hoje. Há muitas unidades de escritórios para vender e, se o home office vier para ficar, este tipo de imóvel não deverá receber investimentos, considera o executivo. Uma preocupação do dirigente é o impacto do fechamento de empreendimentos, pois cada um que encerra atividades gera insegurança em quem pretende investir, seja no comércio, indústria ou serviços.
Schukster cita o prédio da Wolens na tradicional esquina das ruas Padre Chagas e Fernando Gomes como uma das obras que irão balizar o futuro da região. "O que se quer? Que a rua seja novamente seja ponto de referência social. Para isso, será necessário que se tenha zona de acolhimento, que hoje está prejudicada porque está tudo fechado." O presidente do Secovi avalia que a Padre Chagas, mesmo sem ter o mesmo movimento, ainda conta com bons restaurantes, assim como todo o Moinhos de Vento, que mantém uma certa pujança, especialmente por causa do shopping e hotel.
Em relação ao preço de aluguéis, Schukster explica que a correção dos valores nos últimos anos, em linhas gerais, não chegou a acompanhar a inflação. A valorização do bairro ocorreu antes. Para se ter uma ideia, a média do aluguel em abril de 2004 era de R$ 10,89, valor que subiu para R$ 46,29 no mesmo mês de 2016, e que atingiu seu ápice em 2019: R$ 87,07 por metro quadrado.
Segundo a assessoria econômica do Secovi-RS, dois anos atrás, os imóveis ofertados eram mais caros e com metragem menor, o que acabou aumentando o valor médio. Em 2021, considerando também o mês de abril, o preço ficou em R$ 72,29, após ter batido em R$ 57,68 no mesmo mês de 2020, valor impactado pelo início da pandemia. Os dados são nominais.
Atualmente, o tempo de locação na Capital aumentou e atingiu o recorde de 14 meses em abril, em razão da crise econômica a partir da pandemia. Segundo pesquisa do Secovi-RS Agademi, o prazo maior é dos imóveis comerciais. Em relação a vendas, a situação é diferente. A retomada começou em março e abril teve desempenho recorde. Foram 3.245 negócios em Porto Alegre. "As pessoas estão enxergando que imóveis estão baratos. É um momento de comprar, os preços não foram corrigidos e há uma valorização latente forte, em todos os tipos de imóveis", diz Schukster.
 

* Karen Viscardi é formada em Jornalismo pela Pontifícia Universidade Católica (Pucrs). Atuou como editora no Jornal Zero Hora, e como editora e repórter no Jornal do Comércio.