Não há dúvidas que o ano de 2024 foi desafiador para quem tem algum negócio no Rio Grande do Sul. A enchente de maio impactou diversas áreas e um ramo fortemente atingido foi o mercado de vinhos, o empresário Cledi Sodré sabe bem o quão difícil foi passar pelo período.
Sodré é diretor da Sommelier Vinhos, empreendimento gaúcho que há 17 anos oferece uma variedade mundial de vinhos através de suas lojas físicas e e-commerce. Acontece que, durante a enchente que afetou a capital, o centro de distribuição da Sommelier, localizado no Quarto Distrito, foi alagado, resultando numa perda de R$ 800 mil em produtos.
A empresa ainda se recupera das consequências da tragédia ambiental, mas encerra o ano surpreendendo os amantes de vinhos. O diretor recebeu o Empresas & Negócios para falar sobre a nova aposta da empresa, algo inédito para a marca. No dia 25 de novembro, a Sommelier Vinhos inaugurou seu primeiro Wine Bar no BarraShoppingSul. Segundo Sodré, a marca promete fazer do novo empreendimento um espaço de experiências para o consumo de vinhos nacionais e importados.
E&N - Primeiro conta a tua história e a tua relação com esse mercado de vinhos. Por que tu escolheu a vinicultura?
Sodré - Então, eu sou um apreciador de vinhos de longa data. Eu trabalhava em empresas de grande porte na área comercial, marketing e tinha um grande sonho de empreender em algo que eu gostasse. Eu gostava muito de vinhos e, naturalmente, 17 anos atrás eu resolvi empreender, criando a empresa Sommelier.
E&N - O que a sommelier oferece ao público dela? Pode falar sobre os produtos e de onde que vem esse vinho?
Sodré - Eu diria que temos três pontos fundamentais do nosso conceito de trabalho, de tecnologia. Procuramos gerar experiências para o cliente, mais do que comprar uma garrafa de vinho. E essa experiência você precisa ter três questões fundamentais: um ambiente muito bom, acolhedor, aconchegante e moderno; uma equipe altamente qualificada, que possa atender de maneira tranquila, deixando-o à vontade e pesquisando os desejos deles; e por fim, ter uma diversidade de vinhos completa e assertiva, que atenda as expectativas desse cliente.
E&N - Onde a Sommelier está? Em que locais ela atua?
Sodré - Temos uma loja há 10 anos na Rua Passo da Pátria, 166, no bairro Bela Vista. Começamos com uma loja no bairro Menino Deus, na Aureliano de Figueiredo Pinto, 995, e temos um CD, centro de distribuição no Quarto Distrito.
E&N - Como surgiu essa ideia de abrir um Wine Bar dentro de um shopping?
Sodré - Nesse modelo vamos testar um Wine Bar. É um novo conceito, que visa materializar essa experiência de contato com o cliente. Eles gostam de degustar vinho num ambiente de compra, então vamos ter um mix de aperitivos como tábuas de queijo, brusquetas, empanadas, ou seja, uma diversidade de produtos para poder reforçar a experiência e degustar vinho no próprio local. Vamos ter algumas máquinas, vão ser oito torneiras para servir doses de vinhos em taças. Além de uma diversidade de dez rótulos de brancos e espumantes também, somando uma diversidade de cerca de 20 rótulos para oferecer em taças.
E&N - Que experiência tu planejas oferecer ao cliente com esse novo empreendimento?
Sodré - Uma gastronomia simples, mas muito bem elaborada, uma diversidade de vinhos que o cliente não encontra em qualquer lugar, servidos em taça. Ele vai poder experienciar um vinho muito diferente, raro, em uma dose menor. Vai poder degustar vários tipos de taças, no mesmo lugar, com diferentes comidas. E iremos oferecer a experiência de harmonização. Teremos kits de quatro taças com quatro aperitivos diferentes para a pessoa poder conhecer mais da harmonização com diferentes elementos além do vinho.
E&N - Sobre o mercado de vinhos. Quais são os desafios da vinicultura e como tu lida com eles?
Sodré - O vinho como mercado de consumo ficou mais abrangente nos últimos anos. A maximização de venda de vinho em vários lugares ficou muito mais forte. Então, é importante que os lugares que vendem vinhos tenham mais experiência, porque o vinho é experiência, esse é o nosso maior desafio. Construir nas nossas lojas um serviço real. Hoje, comprar vinho é mais fácil por conta do acesso, tem a web e tem diferentes lugares que vendem. Há mais de 10 anos, a venda de vinho era mais direcionada a lojas especializadas. Hoje não, você tem mais lugares para a venda de vinhos, o que exige mais conhecimento para oferecer um serviço de excelência ao cliente e se diferenciar.
E&N - Sobre a enchente, a Sommelier passou por um momento complicado com a perda de R$ 800 mil em produtos. Como foi esse momento?
Sodré - Aconteceu que o nosso Centro de distribuição que fica na rua São Pedro (zona Norte da Capital), foi alagado. A água chegou a 1,60 metro de altura. Alagou todo o nosso estoque. Foi surpreendente, algo muito drástico para nós. Tivemos um conjunto de coisas que auxiliou a Sommelier a sair daquela situação. Uma delas é a equipe, temos uma equipe muito envolvida, são 16 pessoas muito motivadas e muito importantes. A minha empresa não seria como é se não fosse a nossa equipe. O segundo ponto é que a gente contou com vários fornecedores para trocar produtos. Então, parte do nosso estoque alagado, conseguimos trocar, principalmente vinhos de produtores brasileiros. E terceiro, que obtivemos linhas de crédito com condições mais especiais para poder descapitalizar e retomar o negócio.
E&N - No teu ver, como que o mercado de vinhos num geral foi impactado pelas enchentes?
Sodré - Infelizmente muitas vinícolas foram atingidas na região da Serra. Uma região que está distante daqui, mas que teve alagamentos e teve deslizamentos também. Muitas vinícolas tiveram deslizamento de vinhedos, o que prejudicou a produção. Temos parceiros que foram impactados, outras empresas que comercializam vinhos e que também tem estoques no Quarto Distrito foram atingidos. Felizmente, as empresas que conhecemos da região da Serra conseguiram retomar o trabalho.
E&N - Como está o faturamento da Sommelier frente a estes desafios? Quais as expectativas para o encerramento de 2024?
Sodré - Vou dizer que este ano, o período da enchente gerou um impacto no nosso faturamento. Tivemos uma redução de faturamento em cerca de 20% porque, além da enchente, vários restaurantes, que são clientes nossos, foram impactados e a distribuição e venda para restaurantes é parte importante do nosso negócio. Fecharemos o ano em queda, mas pretendemos nos recuperar no próximo ano, com vários clientes que são do Cais Embarcadeiro voltando, além de empreendimentos do Aeroporto Salgado Filho que são clientes também. A ideia é recuperar esses 20% no ano que vem.