A Secretaria Estadual da Cultura (Sedac), em colaboração com o clube de leitura TAG e com o apoio do Instituto Cervantes, está promovendo uma campanha solidária nacional para arrecadação de livros destinados às bibliotecas públicas do Rio Grande do Sul atingidas pelas enchentes de maio. Intitulada "Juntos pela Leitura no RS", a iniciativa visa reconstruir acervos perdidos e incentivar a leitura nas comunidades afetadas.
Podem ser doados livros de gêneros variados, como ficção, clássicos, contemporâneos e de assuntos gerais, além de literatura infantil e infantojuvenil.
É essencial que os livros estejam em bom estado de conservação, completamente legíveis e sem manchas ou sujeiras. "Não existe cultura e educação sem leitura e as bibliotecas são, naturalmente, uma forma de ofertar gratuitamente este recurso", afirma Iara Breda de Azeredo, bibliotecária e coordenadora de cultura do Instituto Cervantes.
As doações serão centralizadas na sede do Instituto Cervantes, onde servidores da Sedac realizarão a triagem dos livros. Após a seleção, os exemplares serão encaminhados para bibliotecas públicas que estão sendo catalogadas pela secretaria. Segundo estimativas fornecidas pelo governo estadual,
mais de 100 mil livros foram destruídos pelos alagamentos no estado.
Interessados em contribuir devem entrar em contato com o Instituto Cervantes através do email
bibpalegre@cervantes.es "Existe um formulário (pode ser solicitado via email) que as pessoas podem preencher ou podem trazer diretamente aqui no Instituto Cervantes, mas é preciso respeitar a solicitação de serem livros adequados: literatura, literatura infantil e literatura infanto-juvenil, não estamos arrecadando livros técnicos", informa Azeredo.
O Clube de Leitura TAG Livros, que presta o serviço de assinatura em curadoria literária, auxilia na organização das doações ao nível nacional. "Por enquanto, não temos outro ponto de arrecadação. Quem quiser colaborar, deve enviar os livros para o Instituto Cervantes de Porto Alegre. A doação de outros estados deve ser feita pelos correios", diz Rafaela Pechansky, Publisher da TAG. O endereço do Instituto para o envio de doações é Rua João Caetano, 285, Bairro Três Figueiras, Porto Alegre - RS, CEP 90470-260.
Editoras estão sendo incentivadas a doar obras novas presentes em seus catálogos. Algumas já confirmaram participação, como Alta, Autêntica, Companhia das Letras e Record. Além disso, o Clube de Leitura Quindim, especializado em literatura infantil, anunciou
a doação de mais de 2 mil exemplares de 80 títulos selecionados pela curadoria de especialistas renomados, como Ana Maria Machado, Loyola Brandão e Daniel Munduruku. "Estamos mobilizando as editoras de todo o Brasil, nossos grandes parceiros, que estão nos ajudando com importantes e volumosas doações para reconstruir as bibliotecas dos municípios. A TAG doou 10 mil livros, e a expectativa é que a gente alcance, junto aos parceiros, 30 mil livros doados", afirma Pechansky.
Segundo a Sedac, a campanha é uma oportunidade de fortalecer a cultura e a educação em um momento crítico, proporcionando às comunidades gaúchas afetadas pelas enchentes o acesso contínuo à leitura e ao conhecimento. "Estamos trabalhando no restabelecimento e ajuda para que essas bibliotecas voltem a cumprir o seu papel, que é fornecer informação, literatura, incentivo à leitura das populações dos municípios", afirma Ana Maria de Souza, coordenadora do sistema estadual de bibliotecas públicas.
A Sedac estima que a enchente de maio tenha comprometido mais de 30 empreendimentos do setor livreiro, como bibliotecas, distribuidoras, editoras, livrarias e sebos. Entre os afetados está a L&PM Editores, editora de livros que possui um depósito com cerca de 900 mil livros, localizado na zona norte de Porto Alegre, bairro Farrapos, um dos mais afetados pelo desastre. Os funcionários conseguiram acessar o depósito semanas após o início da cheia. "Tivemos perdas menores do que esperávamos em relação ao estoque, cerca de 10 mil livros, mas perdas consideráveis em relação aos móveis e equipamentos", afirma a equipe da editora.
O Clube dos Editores do RS está promovendo feiras e campanhas para auxiliar suas associadas. Eles destacam que o mercado editorial gaúcho vive um cenário único e desafiador, com estoques de livros perdidos, vendas paralisadas, entregas impossibilitadas e livrarias severamente comprometidas. "Se possível, compre livros de editoras gaúchas em livrarias do RS", frisam representantes do Clube.
A Sedac também atua em outras campanhas de recuperação material do setor livreiro, "conseguimos, inclusive, alguns desktops que vão ajudar nesse suprimento", informa Ana Maria de Souza. A situação de cada estabelecimento varia, algumas tiveram perda total, enquanto outras foram afetadas de maneira parcial, o que acaba gerando um atendimento individualizado para cada caso, "com relação ao mobiliário, estamos em algumas frentes, para também auxiliar as bibliotecas públicas municipais na reinstalação das estantes para que recebam as doações de livros.", completa Ana.
Localizada no térreo da Casa de Cultura Mario Quintana, a Livraria Taverna teve sua loja invadida pela água do Guaíba e sofre com as consequências, após a interrupção das vendas presenciais na Travessa dos Cataventos. O mobiliário e parte do acervo foram atingidos pela umidade, apesar do esforço da equipe em isolar as obras da água. "A gente não conseguiu uma contabilização total ainda dos prejuízos, mas somando a perda de mobiliário, equipamento e esse tempo todo de loja fechada, o nosso prejuízo está estimado em 290 mil reais", afirma Ederson Lopes, proprietário do empreendimento.
O governador Eduardo Leite anunciou, em junho deste ano, R$25 milhões de investimento para o setor cultural afetado pela enchente. Por residir no prédio da Casa de Cultura, a Livraria Taverna conta com o apoio do estado para recuperar sua estrutura física. Tanto a parte externa quanto a interna da loja serão restauradas pela Sedac. A reabertura da Casa de Cultura Mario Quintana está prevista para o dia 14 de agosto, mas segundo o sócio, o retorno das atividades presenciais da loja não está certo, "nós não sabemos se vamos conseguir reabrir a livraria até lá, a gente imagina que a previsão seja final de agosto ou início de setembro" e completa: "o nosso negócio, que é o livro, é um negócio muito sensível, mas a gente tá otimista, porque a gente percebe que a nossa livraria tem apoio da comunidade".