Felipe Ribeiro
Sócio da Evermonte Executive Search
Ao contrário do que pode parecer, o mercado executivo não se movimenta apenas em ciclos econômicos ascendentes. Nos ciclos de maior instabilidade também ocorrem mudanças impulsionadas pela busca de alternativas para resolução de problemas, por novas oportunidades de receitas e redução de custos ou, então, por questões de sobrevivência do negócio. Quem opta por seguir esse caminho, inclusive, costuma obter êxito no movimento de ascensão. Nesse cenário, considerando a demanda por lideranças cada vez mais adaptáveis, é possível listar quatro razões para a movimentação de executivos - que não deixam de ser, também, quatro desafios para o processo de atração e retenção de talentos.
A primeira refere-se aos ciclos de entrega mais ágeis, ou seja, ao fato de que as empresas estão cada vez mais exigentes em relação ao tempo e à qualidade das entregas de seus executivos. Na prática, isso significa que aqueles que querem se destacar devem ser capazes de entregar bons resultados no curto prazo, ajustando-se às mudanças de modo assertivo. Essa tarefa, no entanto, não é individual: os gestores precisam estruturar suas equipes de tal maneira que as entregas coletivas estejam em consonância aos moldes de uma cultura ágil.
Outro motivo que contribui para a movimentação de executivos é a tendência de mandatos mais claros e curtos, fruto de um redesenho organizacional que vem ocorrendo há tempos no mercado. Antes, havia um anseio de prolongamento de carreira dentro de uma única organização. Hoje, por outro lado, com a multiplicidade de companhias na cena global, o executivo de longo prazo está dando lugar a visões mais céleres, e as cadeiras de liderança, no geral, estão evidenciando uma maior rotatividade.
Uma terceira razão é a dificuldade das "empresas de dono" em reter suas lideranças. Caracterizadas por uma estrutura em que o fundador ou a família fundadora mantém um controle significativo, essas organizações, historicamente, operam sob um modelo em que a tomada de decisões é centralizada e as instruções são transmitidas de cima para baixo. Esse estilo de gestão pode ser eficaz em ambientes estáveis e previsíveis, mas tem se mostrado inadequado para os desafios dinâmicos do mundo moderno. Logo, a falta de uma estratégia sólida pode gerar desmotivação e insegurança, resultando na saída dos líderes em busca de empresas com objetivos bem delineados.
Por fim, no âmbito internacional, as decisões se encaminham para um movimento de desaceleração. Mas por que executivos brasileiros estão se movimentando ainda mais? A resposta está, principalmente, na resiliência do mercado brasileiro. O agronegócio, por exemplo, se destaca como um dos maiores e mais eficientes do mundo, e hoje se caracteriza como um dos pilares da economia nacional. Além disso, o mercado de energia sustentável também tem crescido significativamente. Atualmente, nosso país possui vastos recursos naturais para a geração de energia renovável - como energia solar, eólica e hidrelétrica -, posicionando-se como um importante player no cenário mundial. Logo, para acompanhar as transformações intrínsecas a estes (e outros) setores, a demanda por talentos qualificados já é uma realidade.
Essas quatro razões reforçam a percepção de que os processos de atração e retenção de executivos são cada vez mais complexos, uma vez que a estabilidade de carreira não está mais atrelada à permanência ad aeternum em uma mesma companhia. O mundo está mudando. O mercado está mudando. As pessoas estão mudando. Às empresas, cabe questionar: o que estamos fazendo para acompanhar essas transformações?