Em 1982, na França, surgia o que seria uma ONG de alcance internacional, a Engenheiros Sem Fronteiras, que atualmente está presente em mais de 25 países e atua em suas diferentes realidades socioeconômicas. A ONG surgiu em Porto Alegre em 2016, com a missão de atender às necessidades da cidade por meio de projetos no âmbito da engenharia e de ações sociais, com o fim de promover o desenvolvimento humano e sustentável.
As ações da ONG também são norteadas por 4 principais eixos temáticos: Gestão e Empreendedorismo, Educação, Sustentabilidade e Infraestrutura. O projeto "Morar Sem Banheiro Não Dá" destaca o eixo "Infraestrutura" e teve o seu início em 2020, no contexto da pandemia, visando dar mais dignidade e salubridade para famílias em situação de vulnerabilidade social, com a construção de banheiros.
Júlia Antunes é formada em Direito e ingressou na ONG em 2018, mediante um projeto de educação. Apesar de sua formação, a Engenheiros Sem Fronteiras é um espaço multidisciplinar que contempla profissionais de outros cursos essenciais para a realização dos projetos e funcionamento da ONG.
A advogada acompanha a iniciativa desde o seu nascimento, que ocorreu, primeiramente, em parceria com a ONG Habitat Para a Humanidade Brasil.
"Então, em 2020 a Habitat Brasil procurou o Engenheiros Sem Fronteiras, pois eles tinham muitos patrocinadores sediados em Porto Alegre e, não tendo uma sede aqui, buscavam uma entidade parceira. Assim, nossa ONG foi selecionada. Com a ideia pautada, o requisito para que um local fosse escolhido era ser uma comunidade consolidada. Foi encontrada, então, uma comunidade no bairro Cristal chamada Vila Pedreira, que já existe há mais de 50 anos, e deu-se início à atuação juntamente com Dona Adriana (Corrêa), líder da Associação de Moradores, e em parceria com o escritório Arquitetura Humana de Porto Alegre", conta.
Ao iniciar o projeto, algumas etapas eram cumpridas antes de chegar até as famílias: diagnosticar o território e identificar suas potencialidades e analisar os riscos ambientais.
Após isso, era feito o pedido para Adriana indicar 20 famílias contempladas, quando o tíquete - no valor de R$ 4,2 mil por banheiro- era suficiente para atender apenas 10 delas na época. Para selecionar as famílias beneficiárias há critérios de seleção, como: ter doença respiratória, asma, bronquite, crianças doentes, ser PCD ou mãe solo.
A partir daí, são feitas entrevistas direto na casa das famílias, onde é aplicado um questionário, verificando se há caixa d'água, louça sanitária, canos, etc. na casa. Segundo a advogada, o que se percebe nas casas é que sempre há uma torneira, geralmente sem a pia de louça ou balcão, mas com o tubo e o balde embaixo para lavar a louça.
A Vila Pedreira, por exemplo, sofre com a falta de água. Segundo dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE), apenas 33,5% da população tinham acesso ao serviço de esgoto sanitário em 2020. Sendo assim, o objetivo era garantir o abastecimento através da instalação de caixas d'água para, então, reformar o banheiro, fazendo o possível dentro do valor estipulado no tíquete. O projeto também utilizava o Instagram para divulgação e conseguir apoio via CrowdFunding.
Em 2021, foram arrecadados cerca de R$ 5 mil com esse apoio, o que permitiu fazer um banheiro do zero para uma das moradoras que não tinha passado na seleção. Com a peça construída e tendo a casa reformada, Júlia relata perceber a melhora na autoestima das famílias. O saldo dessa parceria de um ano com a Habitat Brasil e o Arquitetura Humana já garantiu a entrega de 16 banheiros.
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Meta deste ano é entregar 40 unidades sanitárias
Banheiros completos são entregues pelos voluntários do projeto
/Divulgação/Engenheiros sem Fronteiras/JC
Para este ano, o desafio de entregar 40 banheiros foi estabelecido pelo projeto em parceria com o Instituto Mari Johannpeter, e a área de atuação foi expandida, passando a contemplar a comunidade Nossa Senhora das Graças, na região do bairro Cristal, e também famílias da Restinga, nas ocupações Vida Nova e Quinta Unidade. Serão entregues 5 banheiros em cada comunidade, totalizando 20 banheiros no primeiro semestre. O segundo semestre seguirá no mesmo ritmo, com mais 20 banheiros em projeção. Na Restinga a iniciativa tem uma parceria com a Rede Calábria, a qual ajuda a identificar famílias para as entrevistas. Júlia destaca que nunca se entra sozinho na comunidade, sempre com um líder comunitário ou instituição que já atua dentro do território. Além disso, é feita somente a contratação de pedreiros das próprias comunidades, para fins de fortalecer a economia local e, principalmente, fortalecer os laços entre os moradores.
Em relação aos feedbacks, a Rede Calábria relata um melhor foco das crianças nos estudos e melhora na autoestima. Dados do IBGE 2019 apontam a diferença de frequência escolar entre crianças/adolescentes com acesso e sem acesso ao saneamento básico, sendo 9,2 anos contra 5,34, respectivamente, tendo como causas as doenças de transmissão hídrica. Reforçando, então, a necessidade do acesso ao saneamento básico para todos.
A ONG está aberta ao recebimento de doações, e é importante destacar a família que gostaria de ajudar. Para acompanhar a ação basta seguir a página da ESF no Instagram: https://www.instagram.com/esfpoa/


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