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Empresas & Negócios

Com a Palavra

- Publicada em 13 de Maio de 2023 às 15:00

Economia azul desponta como oportunidade para o Estado

Executivo destaca a importância do polo naval gaúcho e seu potencial de crescimento nos próximos anos

Executivo destaca a importância do polo naval gaúcho e seu potencial de crescimento nos próximos anos


/Arthur Rocha Baptista/arquivo pessoal/jc
Jefferson Klein
Jefferson Klein
A chamada economia azul, que prevê o desenvolvimento de forma sustentável de atividades como pesca, logística aquaviária, geração de energias renováveis no mar, entre outras, se abre como uma janela promissora para o Rio Grande do Sul. O diretor-presidente do APL Marítimo RS, Arthur Rocha Baptista, destaca que o município de Rio Grande tem uma vocação natural para realizar ações nessa área, entretanto outras cidades do Estado também apresentam qualidades nesse setor. O APL Marítimo RS é uma organização que surgiu há cerca de dez anos, com o crescimento do polo naval gaúcho, e agora busca fomentar iniciativas dentro dos segmentos que atuam com a economia do mar.
Empresas & Negócios (E&N) - No que consiste a ideia da economia azul?
Arthur Rocha Baptista - O conceito da economia azul surgiu em 1994, mas ganhou força mesmo com a declaração da década dos oceanos pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2017, que foi deliberada em assembleia geral e que começou a valer em 2021. Portanto, de 2021 a 2030, estamos vivendo a década dos oceanos. O conceito de economia azul basicamente engloba os setores que compõem a economia do mar, ou seja, aqueles segmentos produtivos que vivem da água, tanto os tradicionais, como a pesca, o transporte aquaviário, a extração de óleo e gás, como segmentos mais de vanguarda, como biotecnologia marinha, geração de energias renováveis no mar, tanto de ondas, como eólica, mineração subaquática e outras.
E&N - A proposta vai além da economia do mar?
Baptista - É. Nem todo o setor que compõe a economia do mar é necessariamente azul. Por exemplo, a própria extração de óleo, que não é um segmento considerado de energia renovável, de vanguarda, está buscando incluir sustentabilidade e inovação para que possa também se caracterizar como uma atividade produtiva azul, mas não o é necessariamente. O mesmo acontece com a pesca, que é extrativista por natureza, mas nem toda atividade pesqueira pode estar englobada no conceito de economia azul.
E&N - Há uma estimativa dos valores que a economia azul movimenta no Brasil?
Baptista - A economia do mar (segundo dados de 2019) rende cerca de R$ 2 trilhões para o Brasil por ano, algo em torno de um quinto do PIB do País vem das atividades do mar. Isso, obviamente, inclui a extração de petróleo, uma fatia grande disso tudo, mas todas as outras práticas também, a indústria da pesca, a atividade de transporte marítimo e tudo mais.
E&N - E, no Rio Grande do Sul, qual o impacto dessa atividade?
Baptista - Em relação ao Estado, o APL Marítimo tem um projeto chamado plano de desenvolvimento da economia do mar que pretende mapear o tamanho dessa economia, de seus vários setores. Não temos esse número ainda.
E&N - Qual o cronograma desse mapeamento?
Baptista - Temos um termo de referência pronto. No momento, estamos buscando os recursos para executar o plano. Esperamos que ainda neste ano a gente consiga viabilizar o início da realização desse trabalho e daí tem de oito a doze meses para ser executado. Em um primeiro momento, será feita a fotografia panorâmica do setor, entender sua relevância, em termos de PIB, de empregos, de indústrias.
E&N - Como o município de Rio Grande se insere no contexto dessa nova oportunidade?
Baptista - Entendemos que Rio Grande é a cidade vocacionada para dar início a esse processo (da economia azul). Rio Grande é o município que liga as águas interiores do Estado ao mar aberto, ao oceano Atlântico. É a cidade que sedia o superporto gaúcho, que tem uma atividade pesqueira que, por mais que não seja pujante como foi no passado, ainda se mantém e é muito relevante. Rio Grande tem uma universidade vocacionada ao estudo das ciências costeiras e do mar que é a Furg. O município também sedia o centro de navegação rio-grandense, que está para completar 100 anos e que é uma entidade de consultoria para os órgãos públicos sobre os assuntos relacionados à navegação.
E&N - Há mais localidades gaúchas com potencial nesse setor?
Baptista - Não há dúvidas que outras regiões do Estado também são vocacionadas e têm potencial para desenvolver esse tipo de atividade. São José do Norte é uma delas, tem estaleiro lá, atividade de pesca e outras ações. Pelotas tem um porto ativo e outras práticas náuticas e também tem essa relação com as águas, tem a ligação pelo canal São Gonçalo com a lagoa Mirim, por onde pode ser viabilizada a hidrovia Brasil-Uruguai. Depois, temos todo o estuário da lagoa (dos Patos), temos potencialmente portos interiores como Estrela e Rio Pardo, há o terminal de Santa Clara (em Triunfo), que além dos navios de produtos químicos (por causa do polo petroquímico) pode movimentar a produção da Serra gaúcha, do Vale do Sinos e da Região Metropolitana. Temos outras cidades vocacionadas como Torres, Capão da Canoa, Tramandaí, Santa Vitória do Palmar e Chuí. Então, começamos por Rio Grande e queremos difundir para todo o Estado.
E&N - Em abril, foi realizado em Rio Grande o 1º Fórum de Desenvolvimento da Economia Azul RS - O futuro está no mar. Quais os desdobramentos do evento?
Baptista - Em primeiro lugar a mobilização. O fórum foi muito bem-sucedido no sentido de mobilizar a nossa comunidade local e regional e foi muito prestigiado. Tivemos a felicidade de receber grandes especialistas do Brasil sobre o assunto, da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (ABEEólica), Marinha e Secretaria Estadual do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema). Queremos que os projetos que ali foram colocados se desenvolvam. Projetos como um guia náutico do Rio Grande do Sul para velejadores, discussões sobre a hidrovia, tanto na lagoa dos Patos quanto na hidrovia Brasil-Uruguai, trazer a cultura de fazendas de aquicultura para a região e incentivar a indústria pesqueira instalada.
 
E&N - A indústria naval no Estado, que há alguns anos gerava milhares de empregos e agora está enfraquecida, é algo do passado ou pode ressurgir?
Baptista - Não ficou no passado. O ativo é muito importante, falando especificamente no Estaleiro Rio Grande. Acredito que o pior momento já passou, eles estão conseguindo superar as etapas da recuperação judicial e se colocando cada vez mais em condição de disputar novos contratos. Aquele volume de contratos e empregos não deve mais acontecer, os contratos têm que ter mais racionalidade, mais controle. Tomara que os projetos, quando vierem, e acredito que eles virão, tenham mais controle. O estaleiro EBR, em São José do Norte, por exemplo, nunca parou. Ele teve momentos de mais alta atividade e outros mais baixos, mas nunca parou e está com bons projetos.
E&N - De onde podem surgir as novas demandas para o polo naval gaúcho?
Baptista - Nós estamos acompanhando muito atentamente a política do governo federal. Já vimos que a Transpetro deu sinais que quer voltar a construir navios, a Petrobras deve ter alguma coisa, a própria indústria de energia eólica offshore deve demandar embarcações apropriadas. O presidente da República (Luiz Inácio Lula da Silva) já deu sinal de que a Petrobras vai ser uma indutora desse investimento e a gente entende que pelo ativo que temos aqui, pelo conhecimento gerado naqueles anos da pujança da construção naval, principalmente quanto às plataformas de petróleo, que Rio Grande é um dos polos do País que vai receber esses investimentos.